Presidente da Bielorrússia acusado de ordenar desvio de avião para deter Protasevich

por RTP
O jornalista Roman Protasevich a ser detido em Minsk, Bielorrússia, em 2017, quando cobria uma manifestação. O Presidente bielorusso, Alexander Lukachenko, foi acusado de desviar um voo da Ryanair para deter Protasevich, entretanto exilado em Atenas, a 23 de maio de 2021. EPA-Lusa

O Presidente Alexander Lukashenko está a ser acusado de ter mandado desviar um aparelho da Ryanair para conseguir deter o blogger Roman Protasevich, que viajava entre Atenas, na Grécia, e Vílnius, na Lituânia.

O aparelho viu-se forçado a alterar a rota devido a uma ameaça de explosivos a bordo e aterrou em Minsk, a capital bielorrussa.

À chegada, todos os 120 passageiros foram forçados a abandonar o aparelho devido à ameaça de bomba e o blogger, um dos principais opositores do regime de Lukashenko, foi detido. Não foram encontrados quaisquer explosivos no avião.


A oposição bielorrussa não hesita em apontar o dedo a Alexander Lukashenko, cuja legitimidade tem sido contestada por denúncia de fraude nas eleições presidenciais de agosto de 2020.

"O regime obrigou um avião a aterrar para prender Roman Protasevich. Ele enfrenta a pena de morte na Bielorrússia", denunciou na rede social Twitter a líder exilada da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, considerada a verdadeira vencedora do escrutíneo.

Protasevich foi responsável pelo canal Nexta da rede social Telegram, que se tornou o principal veículo de informações não governamentais durantes as primeiras semanas de protesto contra os resultados oficiais das presidenciais.

O jornalista já tinha dito que se sentia seguido em Atenas
, por agentes ligados aos serviços secretos da bielorrússia.

As versões sobre a aterragem de emergência são também contraditórias, com Minsk a relatar que foram os próprios pilotos a solicitar autorização, enquanto no aeroporto de Vílnius foi reportado um suposto conflito entre os pilotos e alguns dos passageiros.

A Ryanair afirma que a sua tripulação foi notificada por Minsk da existência de uma ameaça terrorista a bordo com ordens de pousar no aeroporto mais próximo, o da capital da Bielorrússia. Dados do website flightradar24.com mostram o avião a desviar-se da rota dois minutos antes de sair do espaço aéreo bielorrusso para entrar do da Lituânia.

Através do Telegram, o canal Nexta defendeu que foram os agentes dos serviços secretos bielorrussos que alertaram para a existência de um alegado engenho explosivo no interior do avião.

Fontes próximas da presidência relataram que foi Lukashenko quem ordenou pessoalmente a interceção do avião, que foi escoltado por um caça MiG-19, a fim de supostamente defender a Europa de uma ameaça à sua segurança.

A Comissão Europeia anunciou cerca das 17h20 GMT que o aparelho da Ryanair havia descolado do aeroporto de Minsk com destino a Vílnius, não mencionando, no entanto, o destino de Roman Protasevich. Uma hora depois, o avião aterrou na capital da Lituânia sem o jornalista a bordo.

A NATO classificou o desvio do avião por parte da Bielorrússia como "um incidente grave e perigoso".
"Ato inaceitável"
A União Europeia exigiu a Minsk que autorizasse o voo da Ryanair a prosseguir viagem com "todos os passageiros" a bordo.


"Responsabilizamos o Governo da Bielorrússia pela segurança de todos os passageiros e de aparelho. TODOS os passageiros devem poder seguir imediatamente a sua viagem", tweetou Joseph Borrel responsável pela diplomacia da União Europeia, considerando a ação de Minsk "inadmissível". Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyan e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apelaram a Bielorrússia a deixar partir "todos os passageiros".

Paris denunciou por seu lado o "desvio" do aparelho pelas autoridades da Bielorrússia para deter Protasevich como "um ato inaceitável" e, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, apelou também na rede Twitter a uma "resposta firme e unida" dos 27 Estados membros da UE.


"Todos os passageiros deste voo, incluindo os eventuais opositores bielorrussos, devem ser autorizados sem demora a abandonar a Bielorrússia", frisou Le Drian.

O seu homólogo britânico, Dominic Raab, tweetou que o Governo de Londres está a acompanhar o caso em coordenação com "os nossos aliados". "Esta estranha ação de Lukashenko terá consequências graves", prometeu.


Lituânia, Polónia e Alemanha condenaram igualmente o caso. 

"Precisamos de uma explicação imediata do governo bielorrusso sobre o desvio dentro da União Europeia de um voo da Ryanair para Minsk e a alegada prisão de um jornalista", afirmou o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros alemão, Miguel Berger, na rede social Twitter

O ministro lituano dos Negócios Estrangeiros, Gabrielius Landsbergis, recorreu também ao Twitter para apelidar o desvio do avião uma "notícia perturbadora". Já o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, exigiu a libertação imediata do jornalista e ativista da oposição bielorrussa.

Por sua vez, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, considerou a detenção do jornalista bielorrusso um "ato de terrorismo de Estado" e assumiu no Twitter ter pedido ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, para a UE discutir "sanções imediatas" contra a Bielorrússia já na segunda-feira.

Os 27 vão debater "possíveis sanções" à Bielorrússia durante a cimeira de segunda e terça-feira, anunciou já op orta-voz do Conselho Europeu.
Acusados pelo regime

"O regime pôs os passageiros a bordo e toda a aviação civil sob ameaça para reprimir uma pessoa", denunciou a líder da oposição do país. "Exigimos a libertação imediata de Roman, uma investigação e sanções contra a Bielorrússia", disse Tikhanovskaya. Em novembro de 2020, o Comité de Investigação acusou Protasevich e Stepan Putilo, fundadores do canal Nexta, de organizarem motins e incitarem ao ódio contra funcionários e a polícia. Na sequência dessa acusação, os dois elementos foram incluídos na lista de terroristas e o poder judicial bielorrusso considerou a Nexta uma organização extremista.

Desde o início dos protestos na antiga república soviética, centenas de jornalistas foram detidos e quase 20 estão ainda presos. Já esta semana foram detidos vários funcionários e repórteres do popular website da oposição tut.by, cujo acesso foi bloqueado no âmbito de um caso de evasão fiscal.

Ainda segundo a imprensa local, o ativista da oposição Vitold Ashurok, que cumpria uma pena de cinco anos por participar em protestos contra Lukashenko, morreu esta semana na prisão em circunstâncias consideradas estranhas.

Entretanto, Alexander Lukashenko promulgou uma lei de segurança nacional que alarga os poderes da polícia e de outras forças estatais e que podem utilizar armas militares para reprimir a desordem.

Com Lusa
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