Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil lamenta "distanciamento ideológico" entre Lisboa e Brasília
Lisboa, 22 mai (Lusa) -- O presidente da Câmara dos Deputados do Brasil contestou hoje, em entrevista à Lusa, o que designou ser o "distanciamento ideológico" entre os poderes de Lisboa e Brasília, considerando que as afinidades existentes devem ser aprofundadas.
"As afinidades que temos com Portugal, não tem sentido não aprofundar isso", defendeu Eduardo Cunha, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que integra a coligação no poder em Brasília, vincando que não partilha esse "distanciamento, talvez, ideológico, de confronto entre o exercício do poder aqui e o exercício do poder lá (Brasil)".
Eduardo Cunha, que falou à Lusa à margem das Conferências do Estoril, que encerram hoje, assegurou que vai fazer "tudo" o que estiver ao seu alcance para alterar o atual estado "distanciamento ideológico" entre os poderes de Lisboa e Brasília.
"As linhas políticas não devem preponderar em função das linhas de relações internacionais e, consequentemente, não se desenvolveu uma maior afinidade que deveria ser desenvolvida nos exercícios dos governos atuais (...) Eu espero que isso mude e tudo que estiver ao meu alcance para fazer, eu vou ajudar a fazê-lo", sublinhou.
Eduardo Cunha recordou que passou há meses por Lisboa, onde debateu a questão com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
"Há uns três meses passei por Portugal (...) e tive uma conversa com o primeiro-ministro e nós debatíamos exatamente isso (a necessidade de aprofundar as relações entre Brasil/Portugal) naquele momento", disse.
"É muito importante que se possa aprofundar este processo", frisou, defendendo que algo deve ser feito.
"Acredito que algumas ações devem ser feitas. Da nossa parte, do parlamento brasileiro, queremos fazer uma cimeira parlamentar no Brasil e vamos fazê-la. Estamos a organizar para anunciar isso" posteriormente, afirmou.
Segundo Eduardo Cunha, as relações externas do Brasil assentam num "equívoco", devido ao que considera ser uma opção ideológica.
"Penso que existe um foco equivocado do Brasil em sua política externa de valorizar muito mais um processo de América do Sul do que necessariamente um processo de hemisfério norte como deveria ter", disse.
O resultado são "prejuízos económicos" e perda de poder negocial, destacou.
"Isso nos leva a não só prejuízos económicos, porque o Brasil acaba sendo a porta de entrada somente dos nossos vizinhos no Brasil e não exerce o seu poder de negociação como deveria exercer com os principais países do mundo, seja com o bloco europeu, seja com os Estados Unidos, o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), a ALCA (Área de Livre Comércio das América do Sul), tudo aquilo que poderia ser", avaliou.
Segundo ele, "a cada dia que passa, o Brasil perde espaço".
"Nós acomodamo-nos muito porque tinha um sucesso de balança comercial, em função de exportação de commodities (matérias-primas) que tinham um preço bastante elevado, mas que caíram agora", referiu.
"Neste meio tempo, o Brasil também teve um aviltamento do seu custo industrial, que tornou-o pouco competitivo nestes produtos industriais", disse ainda.
Para Eduardo Cunha, neste momento "em que há uma mudança de conceitos no mundo, é hora do Brasil rever o seu conceito de política externa e, ao mesmo tempo, fazer uma política externa voltada mais para uma política de resultados e que se possa aprofundar as relações comerciais de formas diversas".