Presidente da Interpol continua na China detido e incomunicável

A mulher do presidente da Interpol afirma recear que o marido tenha sido morto, após ter desaparecido no mês passado, quando se deslocou à China. Em entrevista à BBC, Grace Meng acusa o Governo chinês de “perseguição política” ao marido.

RTP /
Meng Hongwei Reuters

O antigo presidente da Interpol Meng Honhwei, de nacionalidade chinesa, foi acusado pelas autoridades de Pequim de ter aceitado subornos.

“Penso que é uma perseguição política. Não tenho a certeza de que esteja vivo”, afirma Grace Meng, numa entrevista em que lança acusações à cúpula do Partido Comunista Chinês: “são cruéis” e “vis”.

Para Grace Meng, o desaparecimento forçado do marido demonstra que que o regime de Pequim “não conhece limites” para impor a autoridade. “Podem fazer qualquer coisa”, desabafa numa entrevista publicada esta quinta-feira pela BBC.

”É por isso que devo agir e não quero outras mulheres e crianças na mesma situação que eu”, desabafou.

A viver em Lyon, onde fica a sede da Interpol, desde finais de 2016, quando o marido assumiu a presidência da maior organização internacional de polícia, Grace Meng disse não ter recebido qualquer contacto do marido desde 25 de setembro, dia em que o marido viajou para a China e lhe enviou uma mensagem via WhatsApp: “Espera pelo meu telefonema”, seguido de um emoji com uma faca. Aos dois filhos, Grace diz que o pai “está numa longa viagem de negócios”.

A mulher do diretor desaparecido da Interpol revelou ter sido alvo de ameaças, numa chamada telefónica. “Duas equipas para si”, escutou. Grace Meng confessou estar surpreendida por ser alvo de ameaças.

As entrevistas das famílias dos presos chineses objeto da campanha anticorrupção são muito raras. As palavras de Grace Meng podem, por isso, representar um embaraço para Pequim. Desde o desaparecimento do marido, Grace e os dois filhos estão sob a custódia da polícia francesa.
Mais de um milhão e meio de detidos
Meng Hongwei, que continua a ser vice-ministro da Segurança Pública, desapareceu no final de setembro, após ter viajado para a China.

Na sequência da investigação da polícia francesa, dos apelos da Interpol e das denúncias públicas da mulher, a China anunciou que Hongwei estava sob custódia e era suspeito de ter aceitado subornos. Ainda a 7 de outubro, a Interpol, que tem como missão combater a criminalidade além-fronteiras, recebeu o pedido de demissão de Hongwei “com efeitos imediatos”.

Meng Hongwei poderá ser o mais recente alvo de uma campanha anti-corrupção das autoridades de Pequim, mas que os observadores dizem ser uma maneira de aniquilar rivais ou oficiais desleais ao Presidente Xi Jinping.

O antigo presidente da Interpol poderá estar sob “retenção em custódia” ou liuzhi, aplicada pela Comissão Nacional de Supervisão. Criada em março, esta é uma super-agência que visa investigar a corrupção no Governo. Ao abrigo da nova política de retenção, os detidos podem ficar sob custódia durante seis meses, sem contacto com a família nem acesso a advogado.

Mais de um milhão e meio de quadros do partido comunista foram sancionados no âmbito da campanha anti-corrupção iniciada desde que Xi Jinping chegou ao poder em 2012.

Meng Hongwei foi o primeiro chinês a torna-se presidente da organização internacional de polícia, o que foi visto em Pequim como um motivo de grande prestígio.
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