Presidente da Ucrânia propõe negociações com Vladimir Putin

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Tusk, Volodymyr Zelenskiy e Jean-Claude Juncker em Kiev, a 8 de julho de 2019 Reuters

Volodymyr Zelenskiy publicou um vídeo no Facebook a convidar o Presidente russo Vladimir Putin para uma conversa frente a frente, em Minsk, capital da Bielorrúsia. O Presidente da Ucrânia quer ainda que os líderes dos Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido estejam presentes na ocasião.

"Precisamos de falar? Precisamos. Vamos discutir a quem pertence a Crimeia e quem não está em Donbas", desafiou Zelenskiy, um antigo comediante sem experiência política, que assumiu o cargo em maio, após prometer fazer uma paz duradoura com a Rússia.



O vídeo marcou a cimeira do Governo ucraniano com Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, e Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, em Kiev.

Os dois líderes prometeram a Zelenskiy mais apoio e assistência financeira ao país, ao mesmo tempo que exortavam a Rússia a pacificar a região de Donbass, a leste da Ucrânia.

O Presidente ucraniano sublinhou na ocasião que a paz só pode regressar à Ucrânia por via das negociações diplomáticas. Sustentou também que o país está "a caminho de um cessar-fogo sustentável".
Crimeia e Donbass, as pedras no sapato
Em 2014 eclodiram na Ucrânia protestos populares massivos, contra a interferência de Moscovo na vida política do país, que culminaram na expulsão do Presidente pró-russo Viktor Yanukovich. A revolução teve o apoio da União Europeia mas foi rejeitada por milícias pró-russas da região leste da Ucrânia, Donbass.

Apesar de um cessar-fogo estabelecido em 2015 através da Bielorrússia, o conflito dura desde abril de 2014 e já fez cerca de 13 mil mortos. Os grupos separatistas receberão apoio militar de Moscovo, apesar de as autoridades russas negarem qualquer envolvimento.

Também a Crimeia, um território de cultura fortemente russa, contestou a revolução e acabou por ser invadida pelo exército de Moscovo. As autoridades locais, pró-russas, pediram depois a desanexação da Ucrânia e, em março de 2014, a integração na Federação Russa.

Nem o Governo ucraniano nem a comunidade internacional reconheceram o pedido e a Península da Crimeia é atualmente considerada um território ucraniano sob ocupação russa.

A União Europeia impôs sanções económicas à Rússia após a anexação da Crimeia. Esta segunda-feira, Tusk e Juncker afirmaram que as sanções à Rússia são para manter.

"Há poucos dias, a UE prolongou por unanimidade as sanções económicas à Rússia por mais seis meses. As sanções irão manter-se até que os acordos de Minsk sejam totalmente implementados", afirmou Tusk, um antigo primeiro-ministro polaco.

"Numa altura de transição política tanto na Ucrânia como na União Europeia, o nosso desafio é defender o espírito pró-europeu na Ucrânia e o espírito pró-ucraniano na Europa", acrescentou.
Sanções e milhões
Desde 2014, a União Europeia enviou 3,3 milhares de milhões de euros em ajuda a Kiev, o maior pacote de auxílio recebido por qualquer Estado não-membro. Bruxelas promete mais 500 milhões de euros, na condição do Governo ucraniano fazer reformas e enfrentar a corrupção generalizada.

"A ideia é manter o foco na Ucrânia, estamos a tentar manter o novo Presidente tão próximo quanto possível", afirmou à agência Reuters um diplomata, antes das conversações. Zelenskiy "diz as coisas acertadas mas ainda não o conhecemos suficientemente bem, ele ainda tem de dar provas, confirmar na prática a sua determinação de permanecer no caminho das reformas", referiu.

O Presidente anunciou esta segunda-feira em conferência de imprensa que um tribunal especial para julgar casos de corrupção - uma reforma exigida por doadores ocidentais - iria iniciar funções em setembro próximo.

Disse ainda que gostaria de ter nesse mês conversações com Moscovo sobre a passagem de gás russo através da Ucrânia.
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