Pressão sobre a Europa. Irão acelera enriquecimento de urânio

por Carlos Santos Neves - RTP
As autoridades do Irão dizem-se preparadas para enriquecer urânio a 20 por cento, bem acima da fasquia de 3,67 por cento fixada em 2015 em Viena Raheb Homavandi - Reuters

As autoridades iranianas confirmaram esta terça-feira ter já em marcha um plano para aumentar a capacidade de enriquecimento de urânio. O gesto está a ser encarado como uma forma de pressionar as diplomacias europeias que ainda procuram preservar o acordo de 2015 sobre o programa nuclear de Teerão, abandonado no início de maio pela Administração Trump.

O anúncio partiu do vice-presidente iraniano Ali Akbar Salehi: o Irão notificou na segunda-feira a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) do “início de algumas atividades” no complexo de Natanz, no centro do país.
As autoridades do Irão dizem-se preparadas para enriquecer urânio a 20 por cento, bem acima da fasquia de 3,67 por cento fixada em 2015.

“Se as condições o permitirem, talvez amanhã à noite, em Natanz, possamos declarar a abertura do centro de produção de novas centrifugadoras. O que estamos a fazer não viola o acordo”, afirmou Salehi, em declarações citadas pela agência iraniana Fars.

Referindo-se ao acordo estabelecido em julho de 2015 em Viena, o vice-presidente iraniano quis sublinhar que estas operações no âmbito do programa nuclear da República Islâmica “não significam que as negociações fracassaram”. Mensagem que teve por destinatários a cúpula da União Europeia, o eixo franco-alemão e a Grã-Bretanha, que permanecem vinculados ao entendimento de há três anos.

O guia supremo do Irão, Ali Khamenei, havia advertido, na véspera, que o país não poderia aceitar mais sanções, a par do recuo do investimento no programa nuclear.

Teerão mantém a garantia de que as suas atividades nucleares visam fins pacíficos, desde logo a produção de combustível para centrais de conversão elétrica.

Pedro Oliveira Pinto - RTP

Os detratores do regime dos ayatollahs, nomeadamente a Casa Branca de Donald Trump e Israel, argumentam que, na base do programa iraniano, estão objetivos militares – altamente enriquecido e em suficiente quantidade, o urânio seria um elemento decisivo para que o país se dotasse de armamento atómico.

Numa reação ao anúncio do vice-presidente iraniano, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou Teerão de estar a implementar um plano que, no limite, tem por finalidade “destruir o Estado de Israel”.

Ao abrigo do acordo patrocinado pelo antecessor de Trump na Presidência norte-americana, Barack Obama, o Irão viu aliviadas as sanções internacionais de que era alvo há vários anos. A contrapartida foi o compromisso de não desenvolver armas nucleares.

O regime aceitou uma redução alargada da laboração nos seus complexos nucleares, abertos a fiscalizações regulares da AIEA. A saída norte-americana do acordo recoloca Teerão ao alcance de novas sanções económicas por parte de Washington.
Europa “a estudar”
Numa primeira resposta às palavras de Ali Akbar Salehi, Maja Kocijancic, porta-voz da alta representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, exortou Teerão a continuar a observar os compromissos assumidos em Viena. Disse também que a União está ainda “a estudar os anúncios”.

“Continuaremos a respeitar os compromissos assumidos no quadro do acordo nuclear enquanto o Irão continuar a respeitar os seus. Continua a ser assim”, declarou a porta-voz.

“A AIEA confirmou pela 11ª vez que o Irão continua a respeitar o acordo e estamos a preparar-nos para defender os interesses europeus e a preservar o acordo. Faremos o máximo para preservar os benefícios do acordo para o Irão”, continuou.

Mantém-se, por ora, o compromisso europeu de prosseguir a compra de petróleo ao Irão, a expensas do primeiro pacote de sanções imposto pela Administração Trump em agosto. A estratégia passa por usar o euro como divisa preferencial para as transações, até agora negociadas em dólares. Os pagamentos serão feitos entre o banco central do país comprador e o banco central do Irão.

Em 2017 a União Europeia comprou 20 por cento do petróleo exportado pelo Irão, num montante de nove mil milhões de dólares; as exportações europeias para território iraniano atingiram, no mesmo ano, os dez mil milhões de dólares.

c/ agências internacionais
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