As sondagens mais recentes apontam um impasse técnico nas eleições legislativas antecipadas na Eslováquia, marcadas para o próximo sábado, 30 de setembro. O partido SMER-SSD, do ex-primeiro-ministro pró-russo, Robert Fico, e o Eslováquia Progressiva (PS) de Michael Simecka, deverão eleger cada um 30 deputados dos 150 lugares parlamentares, ambos longe da maioria.
De acordo com a mais recente sondagem da agência AKO para a TV JOJ, com 18 por cento o PS tem uma margem ligeira de vantagem sobre o SMER-SSD, que obteve 17,7 por cento das declaraçóes de voto. Este resultado aponta uma descida de 1.7 pontos percentuais do SMER-SSD face a meados de setembro. Contudo, outras duas sondagens publicadas esta terça-feira dão-lhe a vitória.
O terceiro maior partido e provável fiel da balança, é o Hlas (Voz) de Peter Pellegrini, um antigo militante do SMER-SSD e primeiro-ministro entre 2018 e 2020. Pellegrini e o Hlas são uma esquerda moderada mas, apesar de não revelarem o jogo, são tidos como mais próximos de Fico.
A confirmarem-se as recentes tendências nas urnas, a Presidente liberal, Zuzana Caputova, deverá dar ao PS a oportunidade de formar Governo primeiro. Simecka poderá contudo não conseguir os apoios necessários ou ser forçado a aliar-se ao Republika, tido como extrema-direita, enfurecendo os seus aliados ocidentais.
Apoio à Ucrânia em risco
Simecka, de 39 anos, prometeu em campanha prosseguir a atual política de apoio à Ucrânia, seguida pela anterior coligação de centro direita que liderou o país, desde 2020 até de desfazer, provocando eleições antecipadas. A Eslováquia tem sido governada por um Governo de transição desde maio.
Robert Fico, pelo contrário, defende uma visão nacionalista e pró-russa. Aos 59 anos, tenta ser mais uma vez reeleito após três mandatos como primeiro-ministro que terminaram em 2018 com a sua demissão, perante uma onda de protestos anticorrupção após a morte de um jornalista de investigação.
A reeleição de Fico significaria o fim do apoio militar à Ucrânia, que tem fornecido ao país vizinho equipamento militar pesado. Aproximaria ainda a Eslováquia do líder húngaro Viktor Órban, crítico das políticas de Bruxelas e do apoio a Kiev, mudando a agulha na Europa central.
"Rejeitamos as declarações e posições que mantêm que o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia é igualmente uma guerra nossa", sublinhou o candidato num e-mail enviado à Agência Reuters.
À mesma agência, o analista político Grigori Meseznikov referiu que, apesar da sua retórica inflamada, Fico tem um historial de evitar confrontos desnecessários com Bruxelas ou a NATO. A aproximação a Orban poderá contudo dar-lhe mais firmeza.
"Orban tem conseguido no mínimo complicar as iniciativas de sanções a Moscovo", considerou Meseznikov. "Fico irá fazer o mesmo. Irão apoiar-se um ao outro". Robert Fico irá ainda parar de fornecer armamento à Ucrânia. "É isso que lhe tem dado apoio", referiu Meseznikov.
Outro dossier problemático será o da migração. Robert Fico opõe-se à passagem dos migrantes pelo país e terça-feira prometeu num debate televisivo que irá impor controlos nas fronteiras com a Hungria.
A alternativa Simecka
O ex-primeiro-ministro tem contudo telhados de vidro e tem estado a ser investigado desde 2022 por suspeita de utilizar informações secretas contra opositores políticos. Fico terá ainda tentado ainda afastar o procurador especial eslovaco que investiga casos de alta-corrupção.
A eleição de Robert Fico seria por isso uma dor de cabeça para Bruxelas, que poderia ver-se forçada a reter subsídios - como tem feito com a Polónia e a Hungria - para obrigar ao regresso do Estado de direito no país.
Michal Simecka tem alertado que a reversão das políticas iria isolar a Eslováquia numa altura crítica.
O PS, que não detém ainda quaisquer lugares no Parlamento, já rejeitou quaisquer alianças políticas tanto com Robert Fico como o Republika. O seu objetivo será aliar-se aos partidos conservadores mais pequenos, mas diferenças ideológicas substanciais tornam tais coligações instáveis.
Simecka, graduado em ciência política em Oxford e vice-presidente do Parlamento Europeu, goza sobretudo do apoio dos eleitores de centro direita, que aderiram em massa à campanha fortemente pró-europeia do PS que aproxima o país da República Checa.