Procurador-geral dos Estados Unidos: "Os tweets de Trump tornam o meu trabalho impossível"

por Andreia Martins - RTP
William Barr assumiu funções na Administração Trump em fevereiro de 2019 e desde então é visto como uma figura próxima de Donald Trump. Erin Scott - Reuters

William Barr, procurador-geral dos Estados Unidos, criticou a postura de Donald Trump no caso de Roger Stone, antigo aliado do Presidente, e diz que não será "intimado ou influenciado" por ninguém nas decisões do Departamento de Justiça. "Acho que é altura de parar de tweetar sobre os casos criminais", acrescentou.

O procurador-geral dos Estados Unidos distanciou-se na quinta-feira da interferência de Donald Trump e afirmou que não seria influenciado por ninguém, nem pelo próprio Presidente, no caso do ex-aliado Roger Stone.

Em entrevista à ABC News, William Barr afirmou que os recentes tweets de Trump sobre o Departamento de Justiça e os casos que tem em mãos “tornam impossível” o desenvolvimento do seu trabalho.

“Asseguro aos tribunais e aos promotores do departamento que estamos a fazer o nosso trabalho com integridade”, acrescentou.

Em novembro, o antigo conselheiro de Donald Trump, Roger Stone, foi considerado culpado de vários crimes no caso do alegado conluio de responsáveis da campanha de Trump com a Rússia nas eleições presidenciais de 2016, incluindo de mentir ao Congresso, de tentativa de obstrução à justiça e de suborno de testemunhas.

Esta semana, na segunda-feira, os promotores do Departamento de Justiça recomendaram uma pena de prisão de sete a nove anos para Roger Stone.

Na terça-feira, o Presidente reagia no Twitter: “É uma situação horrível e muito injusta. Os verdadeiros crimes estão do outro lado e nada lhes acontece. Não posso permitir este erro judicial!”, escreveu Donald Trump.



Apenas algumas horas depois do tweet, o Departamento de Justiça anulou a decisão dos promotores e emitiu um memorando, considerando que a pena recomendada era demasiado pesada. Em protesto contra a desautorização dos seus superiores, os quatro promotores responsáveis pela recomendação renunciaram ao caso.

Perante as acusações de alegada interferência por parte de Donald Trump, a Casa Branca e o Departamento de Justiça negaram que tenha havido qualquer influência da mensagem publicada pelo Presidente na rede social.

O Departamento de Justiça garantiu depois que a decisão – rara e contra o protocolo - de anular o que tinha sido defendido pelos próprios procuradores após o tweet de Donald Trump se tratou de uma mera coincidência.

“Não vou ser intimado ou influenciado por ninguém, seja o Congresso, seja o editorial de um jornal, ou o Presidente. Vou fazer o que penso que está correto. Mas não consigo fazer o meu trabalho aqui, no Departamento de Justiça, com comentários de fundo constantes que me prejudicam”, disse William Barr na entrevista à ABC News.
Afastamento ou encenação?
Procurador-geral desde fevereiro de 2019, William Barr assumiu funções após a saída de Jeff Sessions, que entrou em conflito aberto com Donald Trump nos últimos meses no cargo. As palavras de William Barr são de alguma forma inesperadas, sobretudo porque o procurador-geral é considerado como uma figura muito próxima do Presidente. Os críticos apontam que, mais do que o procurador-geral, Barr tem sido quase um advogado de defesa de Trump.

Nesta questão, o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, considera que o Presidente deve respeitar a posição de William Barr.

“Se o procurador-geral diz que [os tweets do Presidente] estão a interferir com o seu trabalho, então o Presidente deve ouvir o que o procurador-gerall diz”, afirmou em entrevista à Fox News.

Há quem aponte, no entanto, que os comentários negativos de Barr podem ter sido um golpe de teatro por parte do procurador-geral, na tentativa de se distanciar de Donald Trump, de forma a alcançar mais discretamente os resultados desejados pelo Presidente.

“Não se deixem enganar. Barr está a dizer ao Presidente que a sua impulsividade está a fazer com que seja politicamente difícil para ele obter os resultados que o Presidente deseja. Se Trump estiver calado, Barr consegue tratar do assunto de forma mais eficaz”, disse Matthew Miller, um antigo responsável do Departamento de Justiça durante a Administração Obama, citado pelo jornal The Guardian


Em reação às palavras de William Barr na entrevista à ABC, a secretária de imprensa da Casa Branca disse que o Presidente "não ficou incomodado" com as palavras do procurador geral.

"Tal como qualquer outra pessoa, o procurador-geral tem o direito de apresentar publicamente as suas opiniões. O Presidente Trump usa as redes sociais de forma muito eficaz na luta, pelo povo norte-americano, contra as injustiças no nosso país, incluindo as notícias falsas. O Presidente tem plena confiança no procurador-geral para fazer o seu trabalho e defender a lei", frisou a responsável da Casa Branca.
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