Produção de biocombustíveis ameaça Amazónia brasileira
A produção de biocombustíveis poderá contribuir com o aumento da desflorestação da Amazónia, nos próximos anos, denunciou um responsável pelo Greenpeace no Brasil.
Paulo Adário, coordenador da Campanha Amazónia da organização ambientalista, disse à agência Lusa que as plantações de cana-de-açúcar para produção de etanol têm ocupado áreas actualmente destinadas à pecuária, nas regiões centro-sul do Brasil.
"A conseqüência é que haverá uma rápida deslocação da actividade pecuária em direção à Amazónia para ceder espaço aos grandes canaviais", salientou.
"O presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) virou um verdadeiro caixeiro viajante dos biocombustíveis. Ele só pensa nisso. A Amazónia está frita", criticou.
Actualmente, o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de carne bovina, com um rebanho de cerca de 195 milhões, sendo 25 milhões (13 por cento) no Estado de Mato Grosso do Sul, na região centro-oeste.
Em discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU terça-feira, em Nova Iorque, Lula da Silva voltou a defender o consumo de biocombustíveis, como forma de reduzir a emissão de gases e contribuir para a redução das mudanças climáticas.
"Não haverá solução para os terríveis efeitos das mudanças climáticas se a humanidade não for capaz também de mudar seus padrões de produção e consumo. O mundo precisa, urgentemente, de uma nova matriz energética. Os biocombustíveis são vitais para construí-la", disse.
Lula da Silva anunciou que o Brasil vai organizar uma conferência internacional sobre biocombustíveis, no próximo ano, para iniciar "uma ampla cooperação mundial no setor".
Segundo o presidente, a utilização de etanol evitou, nos últimos 30 anos, a emissão de 644 milhões de toneladas de CO² para a atmosfera, e que é "plenamente possível" combinar biocombustíveis com preservação ambiental.
Dados oficiais indicam que as actuais plantações de cana-de-açúcar ocupam um por cento das terras cultiváveis do Brasil.
O problema, salientou o coordenador do Greenpeace, é que a produção de etanol gera mais lucro ao agricultor do que o cultivo de alimentos, o que faz com que as áreas destinas à cana-de-açúcar estejam a aumentar rapidamente.
Paulo Adário disse que ainda não há uma produção significativa de cana-de-açúcar na Amazónia apenas por falta de infra-estruturas, nomeadamente de auto-estradas para transporte da produção e de grandes destilarias de etanol.
"Apesar de a terra ser muito barata, ainda não é viável plantar cana-de-açúcar na Amazónia simplesmente porque seria muito caro transportá-la para as destilarias de etanol, localizadas no Sul do país", analisou.
A organização ambientalista também acompanha com apreensão o aumento do valor da soja no mercado internacional, influenciado pela utilização do milho para a produção de etanol, nos Estados Unidos.
"Historicamente, toda vez que a soja e a carne bovina aumentam de preço registamos também um aumento da desflorestação da Amazónia", afirmou.
"Isso porque aumenta muito a pressão dos produtores por mais áreas, pela ampliação da fronteira agrícola, pela desflorestação e pelas queimadas. Esse cenário é muito preocupante", sublinhou.
Paulo Adário sublinhou que foi exactamente a quebra do preço internacional da soja e da carne bovina, nos últimos anos, a responsável pela diminuição da desflorestação da Amazónia.
Dados apresentados por Lula da Silva, em Nova Iorque, indicam que, entre Agosto de 2005 e Julho de 2006, o ritmo de desflorestação da Amazónia diminuiu 25 por cento.
A área desflorestada diminuiu para 14 mil quilómetros, em 2006, o que evitou a emissão de 410 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO²), preveniu a destruição de 600 milhões de árvores e a morte de mais de 20.000 aves e 750.000 primatas.
"Foi uma diminuição sensível, mas não é motivo para comemoração. Temos que continuar alerta e apoiar cada vez mais acções governamentais de combate à exploração ilegal de madeira", disse.
O ambientalista salientou que imagens de satélite indicam ainda que, entre Agosto de 2006 a Julho de 2007, deverá haver uma redução mais significativa da desflorestação.
Informações não oficiais mostram que a área total desflorestada foi de cerca de 10 mil quilômetros quadrados "a menor da história", disse.
"Se for confirmado esse dado, significará o terceiro ano seguido de diminuição de desflorestação, depois de um pico de 27,8 mil quilómetros quadrados, no primeiro ano do Governo de Lula da Silva", afirmou Adário.