Profanação de mais de 100 campas muçulmanas provoca emoção e indignação

Ablain-Saint-Nazaire, França, 06 Abr (Lusa) - A profanação de mais de uma centena de campas muçulmanas num cemitério militar do norte de França provocou hoje emoção e indignação, tendo o presidente Nicolas Sarkozy criticado um acto relevante do "racismo mais inadmissível que existe".

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As inscrições descobertas hoje de manhã no cemitério Notre-Dame de Lorette, perto de Arras, "visam directamente o Islão e insultam gravemente Rachida Dati", a ministra da Justiça, de origem magrebina, indicou à agência noticiosa francesa AFP o procurador da República de Arras, Jean-Pierre Valensi.

"Uma cabeça de porco foi mesmo colocada numa das campas", adiantou o procurador, que deu conta de 148 campas profanadas na noite de sábado para hoje.

O incidente ocorreu quase um ano depois de factos semelhantes no mesmo cemitério.

Na noite de 18 para 19 de Abril de 2007, 52 campas do lado muçulmano foram cobertas de inscrições nazis, de cruzes gamadas e célticas. As inscrições "Heil Hitler" e "Skinhead não está morto" foram também encontradas num dos ossários do cemitério.

"Este acto resulta do racismo mais inadmissível que existe e o presidente da República partilha a dor de toda a comunidade muçulmana de França", declarou hoje a presidência num comunicado, que indica 136 campas profanadas.

Sarkozy "pretende ser informado do seguimento do inquérito judicial", que espera seja rápido "para que os autores deste acto sejam punidos como merecem", adianta.

O primeiro-ministro, François Fillon, e a ministra do Interior, Michèle Alliot-Marie, exprimiram igualmente a sua "indignação" e condenaram "com a maior firmeza" aqueles actos.

O partido socialista, por seu turno, deu conta da sua "fúria e indignação" e pediu uma "investigação eficaz seguida de sanções exemplares".

Hoje de manhã, uma centena de polícias encontrava-se no local e o acesso ao local estava impedido ao público e aos jornalistas.

Representantes da comunidade muçulmana puderam, no entanto, aceder à zona.

"É vergonhoso ver isto. Quando falta o respeito é uma catástrofe", declarou à imprensa o presidente regional do culto muçulmano Bahssine Saaidi, defendendo que se trabalhe em conjunto para "parar este problema de racismo".

Na sequência da primeira profanação, dois jovens de 18 e 21 anos foram condenados a dois anos de prisão e um menor de 16 a sete meses de prisão, dos quais cinco e meio de pena suspensa.

Inaugurado em 1925, o cemitério ocupa um local que assinala os combates mortíferos de 1915, numa das zonas mais disputadas da frente ocidental no início da Primeira Guerra Mundial.

Cerca de 40.000 soldados estão sepultados no local, dos quais 20.000 em campas individuais. A zona muçulmana integra 576 campas orientadas para Meca.

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