Profunda remodelação nas Forças Armadas e nomeados vices-CEM

As chefias militares da Guiné-Bissau divulgaram hoje os moldes de uma profunda remodelação nas Forças Armadas que envolveu 60 exonerações e 65 nomeações, 12 delas reconduções embora em outras funções.

Agência LUSA /

Numa atitude inédita, "em nome da transparência", a remodelação foi tornada pública numa conferência de imprensa em que foram igualmente dadas à imprensa as listas dos militares exonerados, nomeados e reconduzidos pelo próprio chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) guineense.

Segundo o major-general Baptista Tagmé Na Wai, a remodelação abrangeu ainda a reintegração de vários oficiais que estavam afastados do Quadro Permanente (QP) desde o eclodir do conflito armado que assolou a Guiné-Bissau entre 07 de Junho de 1998 e 07 de Maio de 1999.

Entre estes estão alguns altos oficiais do regime do então presidente João Bernardo "Nino" Vieira (1980/98), como os ex-chefes do Estado-Maior dos três ramos das Forças Armadas e o antigo presidente do Supremo tribunal Militar (STM).

Este último, brigadeiro Humberto Gomes, passa, desde hoje, a desempenhar o cargo de conselheiro principal do CEMGFA, ocupando-se também dos assuntos relacionados com o Exército.

Os antigos CEM da Armada, comodoro Lamine Sanhá, e da Força Aérea, tenente-coronel Celestino Carvalho, vão assessorar Tagmé Na Wai nas respectivas áreas que chefiavam no passado.

Novidade é também a nomeação dos vice-CEM dos três ramos das Forças Armadas, tendo a escolha recaído no coronel Aguinaldo N+Dahá (Exército), no capitão-de-mar-e-guerra Miguel Daté (Armada) e tenente- coronel Ibraima Papa Camará (Força Aérea).

No entanto, ficou ainda por anunciar o nome do oficial que vai preencher o cargo de vice-CEMGFA, não tendo sido dada qualquer explicação para o facto.

As novas chefias militares, mudadas após a sublevação militar de 06 de Outubro último, foram empossadas a 11 de Novembro último.

Tagmé Na Wai foi nomeado CEMGFA, e os brigadeiros generais Armando Gomes e António Gomes e ainda o capitão-de-mar-e-guerra José Américo Bubo Na Tchuto foram apontados para chefiar, respectivamente, o Exército, Força Aérea e Marinha.

Tagmé Na Wai substituiu o general Veríssimo Correia Seabra, abatido na sublevação armada de 06 de Outubro último em circunstâncias ainda por determinar, e, na sua intervenção, nem sequer tocou na questão da escolha do vice-CEMGFA.

O cargo do outro oficial morto na sublevação, ocupado pelo coronel Domingos de Barros, ficou também preenchido com a nomeação do tenente-coronel Jorge da Costa para chefe da Divisão de Recursos Humanos do Estado-Maior General das Forças Armadas.

A reestruturação de toda a hierarquia castrense, afirmou Tagmé Na Wai, constitui mais um passo para a reconciliação e unidade da "família militar", pois reintegra grande parte dos oficiais que estavam fora do QP há vários anos.

Na sua breve intervenção, o CEMGFA reiterou que os militares vão confinar-se às casernas e que irão respeitar a Constituição guineense, bem como subordinar-se ao poder político.

"Qualquer problema entre os militares vai resolver-se dentro dos quartéis e, se houver problemas, falem com os seus superiores", frisou Tagmé Na Wai, voltando a garantir também que o poder político deve respeitar o militar.

Tagmé Na Wai, que repetiu a frase em seis ocasiões, lembrou que, sob a sua chefia, as Forças Armadas serão "sempre isentas e apartidárias" e advertiu mais uma vez os políticos para não interferirem nem se imiscuírem nos assuntos militares.

"O povo e os políticos devem ficar tranquilos. Nunca mais haverá conflitos militares. Não somos políticos, não estamos na política e somos apartidários. Queremos é dar dignidade ao Exército", afirmou, numa alusão à futura reforma nas Forças Armadas, ainda em estudo.

Por seu lado, o ministro da Defesa guineense, Daniel Gomes, garantiu que o governo está e vai apoiar a reforma nas Forças Armadas e que haverá dignidade para todos os que forem, quer desmobilizados, quer reformados.

Daniel Gomes salientou que, entre outros aspectos, o executivo de Carlos Gomes Júnior dará prioridade à reintegração social dos desmobilizados, à resolução dos problemas dos degradados quartéis, ao equilíbrio e ponderação nas promoções e ao pagamento dos salários em atraso.

"O major-general Tagmé Na Wai está a fazer História, em conjunto com os restantes oficiais que aceitaram o desafio de modernizar e reformar as Forças Armadas da Guiné-Bissau", afirmou o ministro da Defesa guineense.

Daniel Gomes sublinhou que a reestruturação feita demonstra que as "feridas do passado estão saradas" e que toda a inquietação "acabou", tendo ainda permitido "pôr termo ao mito das divergências entre oficiais de alta patente".

A reestruturação estava pronta desde 17 de Novembro último mas só hoje foi anunciada publicamente, numa atitude inédita das chefias militares, que insistiram na vontade em demonstrar que se pode gerir as Forças Armadas com "transparência".

A proposta da reestruturação, que abrangeu também os comandos das várias unidades militares espalhadas pelo país, foi apresentada pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general Armando Gomes, e posteriormente deliberada pelo Conselho das Chefias do Estado-Maior.

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