Programa Alimentar Mundial alerta para conjugação de choques em Moçambique

O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou que a conjugação de choques climáticos, conflitos e esgotamento das reservas alimentares ameaçam agravar a insegurança alimentar em Moçambique, com 4,36 milhões de pessoas com necessidades humanitárias e de proteção "urgentes".

Lusa /
Foto: Nações Unidas

De acordo com o mais recente relatório operacional daquela agência da Organização das Nações Unidas (ONU), os eventos climáticos extremos como a seca e os ciclones lideram o número de afetados, com cerca de 3,5 milhões de pessoas, além do conflito armado no norte do país, com mais de 763 mil pessoas.

"Durante o primeiro semestre de 2025, a situação humanitária e de segurança em Cabo Delgado deteriorou-se ainda mais, com ataques intensificados por parte de grupos armados não estatais, deslocando mais de 48.000 pessoas desde janeiro até ao início de julho", lê-se no documento.

Para aquela agência da ONU, a situação marca uma "continuação da volátil" situação da segurança no norte do país, "agravando as vulnerabilidades humanitárias e sobrecarregando as capacidades de resposta locais, numa altura em que os recursos continuam a reduzir".

"Moçambique continua a ser um dos países africanos mais expostos a choques climáticos extremos, com os efeitos da seca induzida pelo `El Niño` a afetarem ainda mais os já elevados níveis de insegurança alimentar", avança.

Segundo o PAM, devido à situação, muitas áreas, principalmente no centro e norte do país, enfrentam longos períodos sem chuva significativa, com temperaturas em algumas partes muito acima da média sazonal, prejudicando gravemente a sementeira e a colheita, acelerando o esgotamento dos `stocks` alimentares e levando as famílias rurais a "níveis mais profundos de vulnerabilidade".

"Em resposta, foi lançado um apelo contra a seca em setembro, com o objetivo de ajudar 1,1 milhões das pessoas mais vulneráveis em todos os distritos afetados pela seca. No entanto, em junho de 2025, apenas 40,5% da população-alvo foi atingida", refere, apontando ainda para o problema no financiamento a assistência humanitária. 

A agência da ONU explica ainda que a época ciclónica 2024-2025 em Moçambique foi "excecionalmente intensa", com três grandes ciclones tropicais, num intervalo de três meses, que deixaram um rasto de destruição principalmente nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, "interrompendo gravemente os meios de subsistência e a produção agrícola".

"Apesar da escala das necessidades, as respostas humanitárias -- particularmente na área da segurança alimentar e dos meios de subsistência -- foram significativamente subfinanciadas e de âmbito limitado", acrescenta.

Dois milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, dos quais 148 mil necessitam de "assistência humanitária urgente", afirmou na terça-feira o Governo.

A informação foi avançada pelo porta-voz do Conselho de Ministros de Moçambique, Inocêncio Impissa, com os dados preliminares da avaliação da segurança alimentar no período após a época chuvosa, realizada em março e abril em 11 milhões de cidadãos de 66 distritos.

Só entre dezembro e março últimos, na época ciclónica, o país foi atingido por três ciclones - incluindo o Chido, o mais grave -, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.

Os eventos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.

O responsável acrescentou que pelo menos 148 mil pessoas encontram-se em situação de emergência, "necessitando de assistência humanitária urgente".

A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.

Tópicos
PUB