Proibição de véu islâmico gera protestos na Dinamarca

por RTP
Lei que proibia burcas na Dinamarca já tinha sido assinada em maio Andrew Kelly - Reuters

A lei que proíbe o uso de vestuário islâmico na Dinamarca está a gerar contestação nas ruas. Centenas de pessoas, incluindo membros da comunidade muçulmana, manifestaram-se na quarta-feira, em Copenhaga, contra a medida, que consideram privar as mulheres da liberdade de se vestirem como quiserem.

O Parlamento dinamarquês aprovou em maio uma medida que proibia a utilização de peças que cobrissem o rosto em público, incluindo vestuário islâmico como a burca ou o nicabe. A burca é uma indumentária que cobre integralmente o rosto e o corpo da pessoa que a usa. O nicabe cobre apenas o rosto, deixando um pequeno espaço para os olhos.

A lei entrou em vigor na quarta-feira. Desta forma, a polícia pode multar quem utilizar a indumentária em mil coroas dinamarquesas (134 euros), por ofensa de primeira ordem, ou dez mil coroas (1341 euros) por ofensa de quarta ordem.

A medida não foi bem recebida pela população da Dinamarca, que se manifestou no próprio dia em Copenhaga.

De acordo com a agência Reuters, cerca de 1300 manifestantes -  muçulmanos e não muçulmanos - juntaram-se no centro da capital e caminharam até à sede da polícia dinamarquesa, onde formaram um cordão humano.


Entre os dinamarqueses contra a medida está Mathias Vidas Olsen. “Não sou contra ou a favor do nicabe. Sou a favor de as pessoas usarem o que quiserem, seja um muçulmano ou um punk”, confessa à agência Reuters.

A polícia disse que os manifestantes que pretendessem cobrir o rosto não seriam multados, tal como é explicado pelo jornal britânico The Independent. Certos usos do véu não são penalizados, como é o caso da utilização em protestos pacíficos.Véus cobrem minoria na Dinamarca
O deputado Martin Henriksen afirmou estar muito satisfeito com o progresso da lei que propôs. Segundo este legislador do Partido Popular dinamarquês, os véus islâmicos são “a forma mais pura de extremismo”.

“Esta é uma batalha contra o fundamentalismo. Enquanto sociedade mostramos o que estamos dispostos a aceitar”, afirmou Henriksen, citado pela CNN.

Apesar destas declarações, a agência Reuters relembra que a comunidade muçulmana na Dinamarca representa cinco por cento numa população de 5,7 milhões de dinamarqueses. E só 0,1 por cento das mulheres muçulmanas utilizam burcas ou nicabes diariamente, o que equivale a 150 entre 200 mulheres.

Centenas de pessoas, incluindo membros da comunidade muçulmana, manifestaram-se na quarta-feira, em Copenhaga, contra a medida, que consideram privar as mulheres da liberdade de se vestirem como quiserem.


Dando conta deste número, os opositores à lei defendem que esta foi implementada para aumentar o sentimento de anti-imigração no país.

“É necessário enviarmos um sinal ao Governo de que não nos iremos curvar à discriminação e a uma lei que especificamente se destina a uma minoria religiosa”, declarou Sabina, que apenas revelou o primeiro nome à Reuters.Barbas falsas podem ser proibidas
A lei foi escrita de forma genérica, proibindo que se utilize em público qualquer objeto que cubra o rosto. Desta forma, peças como máscaras de ski, barbas falsas ou lenços podem também ser vistos como ilegais, como explica a CNN.

O próprio chefe do sindicato da polícia dinamarquesa, Claus Oxfeldt, confessou à Reuters que gostaria que a lei explicasse melhor como é que a proibição deve ser aplicada. Afirmou não ter a certeza, por exemplo, se os turistas asiáticos que utilizam máscaras contra a poluição estariam ao abrigo dessa proibição.

No que diz respeito aos véus islâmicos, o ministro dinamarquês da Justiça explicou que a proibição se focava em mulheres que eram forçadas pelas famílias a usar o véu, apesar de não ter estipulado de forma clara como é que isso seria averiguado.

“Usar isto [um nicabe] é uma escolha espiritual importante para mim”, afirmou Sabina.

Fotis Filippou, subdiretor da Amnistia Internacional para a Europa, é da opinião de que a proibição “não é necessária nem proporcional”.

“Todas as mulheres têm o direito a vestirem-se como querem e a utilizarem roupas que expressem a sua identidade e as suas crenças. Esta proibição terá um impacto particularmente negativo nas mulheres muçulmanas que escolham usar o nicabe ou a burca”, declarou ao Independent.
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