Projeto de construção de mina de carvão no Reino Unido gera polémica em vésperas da COP26

por RTP
Reuters

O Reino Unido é o anfitrião da 26ª Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas, que vai procurar pôr em prática os compromissos do Acordo de Paris. Mas a recente proposta de construir uma nova mina de carvão em West Cumbria, no noroeste de Inglaterra, está a tornar-se controversa e, segundo os ambientalistas, o projeto pode transmitir a mensagem errada na COP26, em Glasgow.

No ano passado, o Governo britânico anunciou a intenção de eliminar as centrais elétricas movidas a carvão até 2024. Ainda a enfrentar a pandemia, esperava-se que o Reino Unido apostasse numa economia "mais verde", especial por estar prestes a receber as reuniões internacionais do G7 e da COP26.

Mas a proposta de construção de uma nova mina de carvão em West Cumbria, no noroeste de Inglaterra - a primeira do Reino Unido nas últimas três décadas - é considerado pelos ambientalistas um passo atrás nas medidas contra o aquecimento global.

A empresa West Cumbria Mining quer extrair cerca de 3 milhões de toneladas de carvão metalúrgico no local anualmente, criando 532 empregos diretos e 1.618 na cadeia de suprimentos. O carvão coqueificável é usado na produção de aço e não como fonte de combustível para fábricas e centrais elétricas.

Apesar disso, os ambientalistas consideram que este projeto vai prejudicar os esforços para descarbonizar a indústria do aço no país.

O projeto surge numa altura em que o governo de Boris Johnson, está a pressionar outros países a interromper a produção de carvão, antes da cimeira do clima na Escócia, que decorre de 31 de outubro a 12 de novembro.

"Com o mundo a avançar em direção a uma crise climática catastrófica, devemos carregar no travão, não no acelerador com mais combustíveis fósseis", disse à AFP Tony Bosworth, ativista climático da Friends of the Earth. "Regiões como Cumbria devem estar na vanguarda dos planos do Governo para transformar a nossa economia, criar novos empregos e construir um futuro mais limpo, o que precisamos com urgência".
"Não queremos apoiar novas minas de carvão"
Numa sessão de perguntas e respostas para crianças esta segunda-feira de manhã, Boris Johnson foi questionado sobre se ia "apoiar novas minas de carvão no Reino Unido".

"Não queremos apoiar novas minas de carvão, o que queremos fazer é continuar o nosso progresso em direção a um futuro de carbono zero", respondeu o primeiro-ministro britânico.

Horas depois o porta-voz de Johnson explicou que o chefe do executivo britânico "referia-se a termos mais amplos sobre o nosso objetivo declarado de eliminar o uso de carvão a longo prazo".



Se por um lado os habitantes da região de West Cumbria aplaudem a proposta de construção da mina, e a consequente criação de emprego na região, os ambientalistas deixam fortes críticas.

Para os ativistas e especialistas ambientais, este projeto transmite uma mensagem "desastrosa" numa altura em que o Reino Unido recebe líderes mundiais, diplomatas e cientistas em Glasgow. A COP26 tem sido considerada a última oportunidade para os países se comprometerem e começarem a atuar contra o aquecimento global.

"O Reino Unido apresenta-se como líder, mas está a projetar construir uma mina de carvão, que é das coisas mais poluentes que existem", disse Rebecca Willis, professora de Gestão energética e climática da Universidade de Lancaster. "Isso transmite uma imagem para o resto do mundo de que o Reino Unido não é de confiança".

A nova mina proposta visa gerar toda a eletricidade do Reino Unido a partir de fontes de energia limpa até 2035 e atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050. Mas o primeiro-ministro também prometeu impulsionar a economia no negligenciado norte de Inglaterra, com novas fábricas, estradas, ferrovias e outras infraestruturas que os ambientalistas dizem estar em desacordo com a agenda verde do Governo.

Alexander Greaves, advogado da empresa que projetou a mina de carvão, afirmou à agência de notícias que embora a construção de uma nova mina possa parecer um passo atrás nos progressos contra o aquecimento global, este pretende ser um projeto diferente.

"Mostrar que essas minas podem ser feitas legalmente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e necessárias para compensar qualquer impacto residual é uma verdadeira liderança ambiental", disse.

Mas os ambientalistas não concordam: "É óbvio que a maneira mais rápida de acabar com as emissões de carbono é atuar com mudanças radicais - o que temos de fazer nos próximos dez anos - e é parar de abrir novas minas de carvão", disse Maggie Mason, opositora local da mina. "O mesmo se aplica aos poços de petróleo e de gás".

Em West Cumbria, as autoridades locais aprovaram a mina há um ano. O prefeito conservador da região, Mike Starkie, considera que se trata de um projeto "transformador".

Em março deste ano, o Governo britânico abriu um inquérito sobre o planeamento desta mina, sob pressão da oposição. As conclusões ainda não foram diculgadas e prevê-se que o executivo tome a decisão quanto à construção da mina no noroeste de Inglaterra só após a COP26.
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