Projeto de lei colombiano quer acabar com "souvenirs" de Pablo Escobar

por Carla Quirino - RTP
Jaime Saldarriaga - AFP

O Congresso colombiano está a considerar aprovar um projeto de lei que proibirá a venda e distribuição de lembranças com imagens de Pablo Escobar, para combater o narcoturismo e a estigmatização do país sul-americano. A legislação em debate pretende também estabelecer multas para quem exiba símbolos associados à figura do "patrão" da droga dos anos 80. Contra estão os muitos vendedores que comercializam essas mercadorias. Alegam que uma lei que proíba os "souvenirs" com o tema Escobar vai prejudicar os seus rendimentos.

Cristian Avendaño, representante do partido Aliança Verde da Colômbia e natural de Santander, apresentou a iniciativa legislativa.

O projeto de lei visa “superar a estigmatização e os paradigmas culturais” e ajudar o Estado a adotar “medidas para combater o narcoturismo, o turismo sexual e a venda de objetos que glorificam e idolatram a imagem de traficantes de drogas e criminosos como modelos para as gerações presentes e futuras”. 

Em causa estão as vendas de souvenirs com a representação do mais famoso traficante de cocaína do mundo.
O legado de "El Patrón"

Pablo Emilio Escobar Gaviria nasceu a 1 de dezembro de 1949, em Rionegro, na Colômbia e foi morto a 2 de dezembro de 1993. Foi um dos mais conhecidos traficante, narcoterrorista colombiano e ainda o fundador e único líder do Cartel de Medellín.

Conhecido como “El Patrón”, Pablo Escobar chegou a constar na lista dos mais ricos da revista Forbes.

Pablo Escobar tornou-se um dos homens mais ricos do mundo com o tráfico de cocaína | Foto: Shutterstock

Escobar e o Cartel  de Medellín, mantido com o dinheiro do tráfico de drogas, foram responsabilizados por ordenarem pelo menos quatro mil mortes. 

Atentados, sequestros e uma alta taxa de homicídios, marcaram as ruas colombianas e norte-americanas sobretudo nos anos 80, quando Escobar monopolizou o comércio de cocaína nos Estados Unidos na década de 1980 e início dos anos 1990. Estima-se que o narcotraficante enviava remessas mensais de 70 a 80 toneladas de cocaína para os EUA.

Mas também foi herói no seu país. Muito do dinheiro ganho no negócio ilícito foi aplicado em construções comunitárias como bairros e espaços desportivos, rendendo a Escobar notoriedade entre a população pobre colombiana, considerado mesmo uma espécie de "Robin dos Bosques".

Foi morto na cidade-natal pela Polícia Nacional da Colômbia, um dia depois de completar 44 anos. 

Os últimos anos de vida e a caça ao homem do cartel de Medillín foi sobejamente mediática que acabou por atribuir a Escobar um status quase de culto em todo o mundo, sendo imortalizado em livros, músicas, filmes com estrelas de Hollywood e mesmo séries televisivas de sucesso. Javier Bardem e Benicio del Toro são alguns dos atores que vestem a pele do traficante de cocaína.

Até a frase "Prata ou chumbo, a escolha é tua" (Plata o plomo, la decisión es tuya), que significava aceitar um suborno ou ser morto, dão mote para camisolas vendidas a seis euros.
Acalorado debate entre vendedores e defensores do projeto

Até agora, quem visitasse a Colômbia podia adquirir nas lojas de lembranças todo o tipo de objetos, com a representação do rosto de Pablo Escobar como canecas, camisolas, porta-chaves ou até réplicas do bilhete de identidade. Mas uma proposta de lei está em cima da mesa no Congresso da Colômbia para alterar a comercialização destes souverirs dedicados ao traficante ou a outros condenados.

"As questões difíceis que fazem parte da história e da memória do nosso país não podem ser lembradas simplesmente através de uma camisola ou um autocolante vendido numa esquina", diz Juan Sebastián Gómez, deputado e coautor do Projeto de Lei.

A nova legislação não só proíbe a venda como multará quem use roupas e outros objetos que promovam os criminosos. As multas poderão variar entre 40 e 160 euros. No caso de vendedores, podem ver a atividade suspensa e os bens destruídos.

Porém, ainda não é claro que a iniciativa seja aprovada, mas para já, está a gerar um intenso debate entre aqueles que vendem essas mercadorias e os que querem banir a idolatria.

Os defensores argumentam que o projeto legislativa se apresenta também como um passo para desconstruir a mensagem "romantizada e positiva" criada em torno do criminoso, que era chefe de um cartel.

Por outro lado, muitos vendedores temem perdas económicas, alegando que as recordações de Escobar continuam a ser uma fonte significativa do rendimento.

Joana Montoya, proprietária de uma banca na Comuna 13, de Medellín, sublinha que “pelo menos 15 por cento das vendas vêm desses produtos”. "A mercadoria Escobar beneficia muitas famílias por aqui, ajuda a sustentar-nos. Ajuda a pagar a renda, a comprar comida, a cuidar dos nossos filhos", acrescenta.

Enquanto alguns turistas continuam a ver os produtos de Escobar como um pedaço da história, os defensores da proibição argumentam que "é hora de parar de mercantilizar um legado de violência".

O deputado Sebastián Gómez enfatiza ainda: "Na Alemanha, não se vende camisolas de Hitler ou suásticas. Na Itália, não se vende autocolantes ou canecas de Mussolini, e não se vai ao Chile e se compra uma cópia do bilhete de identidade de Pinochet”.
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