Projeto entre Espanha e Portugal salva lince ibérico da extinção

por Inês Geraldo - RTP
População do lince ibérico continua a crescer Reuters

Um projeto de duas décadas entre Espanha e Portugal tem ajudado ao crescimento da população de lince ibérico nos dois países. Quase em vias de extinção em 2002, o lince ibérico continua a ser uma espécie em perigo mas os esforços entre os países da Península Ibérica têm levado a um crescimento sustentável. De acordo com as autoridades espanholas o projeto tem de ser mantido para que daqui a 20 anos o lince ibérico esteja fora de perigo e possa desenvolver-se sem restrições.

De acordo com uma sondagem recente, a população de linces ibéricos cresceu mais de nove vezes nos últimos 18 anos. De 94 linces ibéricos em 2002, a Península Ibérica tem mais de 800 linces em 2020. De acordo com especialistas, caso Portugal e Espanha continuem a conservação da espécie, por volta de 2040 o lince ibérico poderá estar fora de perigo.

Em 2019 foi revelado que 80 por cento da população de linces ibéricos encontra-se em Espanha. Cerca de 311 linces nasceram na península e que existiam 188 fêmeas em idade reprodutiva.

Miguel Ángel Simón, um biólogo que passou mais de 20 anos a observar e conservar a população de linces ibéricos, explicou a enormidade da tarefa que foi fazer esta espécie renascer. “Quando começámos em 2000, nem sequer sabíamos quantos linces existiam”.

“Descobrimos a partir do primeiro Censo que existiam 94 linces e pensámos que iriam desaparecer brevemente. Não sabíamos se existia maneira de salvar a espécie – estava muito perto da extinção. Naquela altura, eram os felinos que estavam em maior perigo no mundo inteiro. O nosso primeiro objetivo foi tentar travar a extinção deste animal”.

Simón explicou que houve uma abordagem feita à classe política para conseguir dinheiro e que a cooperação com proprietários de terras e do público em geral foi começando a gerar um movimento para salvar a espécie.

Uma onda de projetos criada pelo governo da Andaluzia em coordenação com outras regiões espanholas, autoridades portuguesas e várias organizações não-governamentais de conservação foi travando o declínio da população de felinos e levou a um crescimento sustentável, levando o lince ibérico a novas áreas.

“Hoje, a situação é muito boa e penso que podemos ser otimistas, não só porque recuperámos esta população na Andaluzia mas também conseguimos construir populações em Portugal – onde o lince estava praticamente extinto – e também na zona da Extremadura e Castilla-La Mancha”, explicou Simón.

Um novo projeto, com a chancela da União Europeia, tem um orçamento de quase 19 mil euros e tem como objetivo aumentar a diversidade genética das populações de linces ibéricos. Javier Salcedo, líder do projeto “Life Lynxconnect”, declarou que é preciso haver uma ligação entre as populações de linces, já que existem grandes possibilidades de haver problemas genéticos nestes linces, caso continuem isolados uns dos outros.

“Temos de promover uma monitorização genética para ter acesso a toda a situação e para saber se será necessário mudar algumas espécies de forma artificial”, explicou Ramón Pérez de Ayala da WWF espanhola (Fundo Mundial para a Natureza).

Pérez de Ayala também se mostra esperançoso no futuro dos linces ibéricos e espera que nos próximos anos a espécie deixe de ser considerada como estando em vias de extinçãopor parte da União Internacional para a Conservação da Natureza, para passar a ser uma espécie vulnerável.

Para Pérez de Ayala serão precisos ainda 20 anos para que Portugal e Espanha possam declarar que o lince ibérico está fora de perigo. “Se continuarmos, se conseguirmos manter o crescimento da população e se a sorte continuar do nosso lado, teremos pelo menos 750 fêmeas em idade reprodutiva – o que significará uma população de mais 3000 linces – por volta de 2040”.

As populações de linces terão de ser misturadas e aumentadas e também têm de ser estabelecidos novos habitats, ricos em coelhos, alimento dos linces. Também importante será haver lugares seguros para que os felinos não sejam atropelados.

Pérez de Ayala declarou que proteger o lince é um dever moral e ecológico. “Todas as espécies têm um valor intrínseco que não pode ser perdido. E falamos de um animal que equilibra muito bem a cadeia alimentar do ecossistema mediterrânico”. E lembra ainda que a harmonia ambiental é apenas uma de muitas razões para proteger o lince ibérico.

“A um nível emocional, o lince é uma joia e algo muito bonito de se ver”.
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