PRS da Guiné-Bissau acusa "certos políticos" de instigarem militares

por Agência LUSA

O Partido da Renovação Social (PRS), o maior da oposição na Guiné-Bissau, afirmou que "há certos políticos" que estão a instigar os militares e negou que esteja envolvido na sublevação de 06 deste mês.

A acusação foi feita pelo vice-presidente do PRS e também vice- líder da bancada parlamentar do partido, Sola N+Quilin, numa conferência de imprensa realizada na sede desta força política, presenciada por dezenas de militantes.

"Um dos objectivos da conferência de imprensa é para dissipar essas interpretações. O PRS é um partido político e, por isso, nada tem a ver com os militares, nem pode instigá-los", sublinhou N+Quilin, refutando as acusações feitas implicitamente pelo primeiro-ministro guineense.

A 06 deste mês, quando se deu a sublevação militar, Carlos Gomes Júnior afirmou que existiam "alguns políticos" por trás da insubordinação, deixando implicitamente a ideia de que estavam ligados ao PRS.

"Mas o PRS também assistiu a alguns políticos a instigarem os militares. No golpe (de Estado) de 14 de Setembro (de 2003, que levou à destituição do regime de Kumba Ialá, fundador do PRS, em 1991), vocês, os jornalistas, assistiram a isso", afirmou.

"Nesta lógica, nós até poderíamos ter o direito de o fazer agora. Mas, como políticos conscientes, não estamos interessados, nem poderemos estar interessados, em instigar os militares para criar instabilidade no país", acrescentou N+Quilin.

O dirigente do PRS acusou também os jornalistas de instigarem os militares, sustentando que, após o golpe de Estado de Setembro de 2003, as rádios privadas guineenses "Bombolom FM" e "Galáxia de Pindjiguiti" emitiram programas para o insultar.

"Quando condenei no Parlamento o acto golpista dos militares, os jornalistas criaram programas para me insultarem. E vocês assistiram a esses programas. Foram as rádios Bombolom FM e Galáxia de Pindjiguiti", afirmou N+Quilin, seguido por fortes aplausos da assistência.

N`Quilin, contudo, não soube explicar em que medida os jornalistas em causa participaram e apoiaram o golpe de Estado.

Sobre a nomeação das novas chefias militares, pois as que existiam foram afastadas na sequência da sublevação militar deste mês, N+Quilin sublinhou tratar-se de um assunto que diz unicamente respeito ao presidente da República e ao governo.

"O PRS nada tem a ver com isso. Isso é da competência do governo e da Presidência da República. Recomendamos ao governo e ao presidente grande ponderação na escolha e que, seja ela qual for, não permita que aconteça novamente esta situação que acabámos de viver", respondeu.

Para o vice-presidente do PRS, a sublevação militar estará a chegar ao fim e o partido, que está envolvido nas negociações, pensa que está a caminhar-se para a paz.

"A estratégia do PRS tem como prioridade das prioridades fazer o país retornar à calma total", afirmou, recusando, para já, falar sobre o que o partido tenciona fazer para as eleições presidenciais de 2005.

"Queremos que haja paz, porque sem a paz não pode haver nenhuma eleição. Queremos que o país se encontre em situação de acalmia e paz total para que possamos pensar em eleições", sublinhou N+Quilin, que também não falou da candidatura às presidenciais do antigo presidente do Parlamento Jorge Malú, dirigente do PRS.

Negando que haja divergências internas no partido, N+Quilin afirmou que a recente renúncia ao cargo do presidente do PRS, Alamara Nhassé, ainda não foi ratificada pelos respectivos órgãos do partido.

"É apenas uma proposta de renúncia, porque Alamara Nhassé foi eleito num Congresso e, no intervalo do Congresso, há órgãos do partido que o substituem. O partido ainda não se pronunciou, mas Alamara Nhassé é livre e pode renunciar ao seu cargo, mas é preciso que o partido dê anuência", sublinhou, insistindo que não há divergências internas.

A 19 deste mês, Alamara Nhassé, ex-primeiro-ministro e presidente do PRS eleito no congresso de Janeiro de 2002, enviou uma carta à direcção do partido em que alegava "razões pessoais" para renunciar ao cargo de que, aliás, já se tinha afastado em Novembro de 2002.

Nesta data, e na altura em que Alamara Nhassé chefiava o governo, o então presidente da Guiné-Bissau, Kumba Ialá, demitiu o executivo e formou um outro de iniciativa presidencial, dissolveu o Parlamento e convocou eleições legislativas antecipadas, que foram sendo sucessivamente adiadas.

Desde então que Alamara Nhassé se afastou da política activa, tendo delegado em Alberto Nambeia a direcção interina do PRS.

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