Pyongyang poderá ter ogiva nuclear para incorporar nos mísseis intercontinentais

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Kim Jong-Un terá 60 bombas nucleares Reuters

O regime norte-coreano poderá ter dado o passo que faltava para equipar os seus mísseis intercontinentais com capacidade nuclear, ao miniaturizar uma bomba nuclear para caber nas ogivas dos mísseis balísticos que vem testando nos últimos meses. A notícia é do jornal Washington Post, que cita um relatório classificado dos serviços de informações do Departamento da Defesa.

A confirmar-se o sucesso da miniaturização da bomba nuclear, trata-se aqui da fase derradeira para o regime coreano subir ao patamar das potências com capacidade de ataque nuclear, o que coloca a Coreia do Norte na posição prometida pelo líder Kim Jong-Un de visar as cidades norte-americanas com uma ameaça real de destruição massiva.

O Washington Post teve acesso a partes de um relatório confidencial (28 de Julho) dos Serviços de Informações da Defesa do Pentágono.No início de Julho a Coreia do Norte anunciava o teste com sucesso do seu primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM), um “ensaio histórico” de um míssil Hwasong-14, de acordo com a televisão pública norte-coreana. Na altura, um analista considerou tratar-se de um míssil suficientemente poderoso para atingir o território norte-americano no Alasca.

Escassas semanas depois, a 28 de Julho, o regime realizava novo teste com um míssil ICBM, o que reforçou os temores americanos de que a Coreia do Norte estaria já em posse de opções militares não esperadas. Esse teste veio desde logo criar preocupações suplementares, já que o regime revelava, com esses dois lançamentos em pouco mais de três semanas, um crescimento da capacidade militar dos norte-coreanos que não estava dentro das expetativas da comunidade internacional.

Restava então uma dúvida: seriam os coreanos capazes de equipar as ogivas com um engenho nuclear? Tendo passado uma década desde que em 2006 o regime fez o seu primeiro teste nuclear, a comunidade internacional acreditava que estava distante a data em que Pyongyang seria capaz de subir esse degrau da escalada bélica que se chama ameaça nuclear, face à complexidade que tecnicamente representa o processo da miniaturização de uma arma nuclear. Os prognósticos poderão, entretanto, ter-se revelado perigosamente errados.

“Os serviços de informações acreditam que a Coreia do Norte conseguiu produzir armas nucleares que podem ser incorporadas em mísseis balísticos, incluindo em mísseis balísticos intercontinentais ICBM”, refere o relatório citado pelo Washington Post, acrescentando que as mesmas conclusões foram retiradas pelo Ministério japonês da Defesa.
Kim Jong-Un terá 60 bombas nucleares
De acordo com outro relatório norte-americano citado pelo jornal, o regime norte-coreano possuirá agora no seu arsenal de 60 bombas nucleares. Número, refere o WaPo, que é considerado conservador por parte de peritos que apontam para uma quantidade muito maior de armamento nuclear.

A nova realidade da Península Coreana representa mais do que nunca um desafio para a liderança do Presidente Donald Trump, que recentemente deixou a promessa de não permitir nunca que Pyongyang se tornasse numa ameaça nuclear para os Estados Unidos.

As opções de prevenção e resposta tornaram-se no entanto mais complexas e poderão deixar de passar em exclusivo por sanções negociadas com a China, ancestral aliado de Pyongyang, à mesa do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Ainda no final da semana passada a sede da ONU assistiu à adoção de nova resolução que poderá vir a custar mil milhões de dólares de receitas anuais ao regime norte-coreano. É o sexto pacote de sanções votadas contra a Coreia do Norte desde esse primeiro teste nuclear em 2006. No entanto, e prestando atenção às declarações do assessor de Trump para a Segurança nacional, H. R. McMaster, durante uma entrevista na MSNBC, este sábado, a ideia que fica é de uma administração com todas as opções em cima da mesa: a perspetiva de uma Coreia do Norte com capacidade nuclear seria “intolerável para o Presidente”.

“Temos de ponderar todas as opções... o que inclui uma opção militar”, avisou McMaster, admitindo que numa primeira fase a Administração não partiria de imediato para a guerra, preferindo “pressionar Kim Jong-un e o seu círculo próximo, de forma a convencerem-se que é do seu interesse abdicar do nuclear”.
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