Quando uma gripe matou dezenas de milhões de pessoas

por RTP
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A pandemia de Covid-19 tem sido desvalorizada por líderes como Trump, Johnson ou Bolsonaro como uma mera "gripe". Mas as palavras não devem enganar-nos porque já em tempos a chamada "gripe espanhola" matou mais gente do que a Primeira Guerra Mundial.

A pandemia de gripe de 1918 e dos anos seguintes, como recorda a jornalista Laura Spinner, ficou com o nome de "espanhola" porque, dos vários países onde primeiro surgiu, a Espanha era a excepção neutral, que não tinha a imprensa censurada nem as manchetes ocupadas com notícias da guerra. Além disso, deu-se o caso de o rei espanhol Afonso XIII adoecer com o vírus, o que ainda trouxe maior notoriedade à presença de Espanha no mapa da pandemia.

Mas, na realidade, nada prova que a doença tenha começado em Espanha. Entretanto, países beligerantes como Inglaterra, França, Estados Unidos ou Alemanha também se tornavam palco de um rápido contágio, só com a diferença de os seus jornais estarem demasiado ocupados com más notícias para prestarem atenção a mais essa. A censura de guerra proibia, por outro lado, a difusão de notícias sobre os estragos causados pela gripe nos países beligerantes, mas permitia-a sobre os causados em Espanha.

Entre as várias hipóteses para a origem da "gripe espanhola", nenhuma delas aponta realmente para um vírus surgido em Espanha. Várias são hipóteses que têm de comum entre si as deficientes condições sanitárias dos hospitais de campanha da Primeira Guerra Mundial - e não deixa de ser uma ironia que um século depois se pretenda combater o novo coronavírus com improvisados hospitais de campanha.

Seja como for, a pandemia de gripe mal chamada "espanhola" durou quase três anos, de Janeiro de 1918 a Dezembro de 1920, contaminou cerca de 500 milhões de pessoas (um quarto da população mundial da época) e matou um número ainda hoje indeterminado, algures entre os 17 e os 100 milhões.

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