Quantos microplásticos ficam na saliva humana quando mastiga uma pastilha elástica?

Os plásticos encontram-se em muitos produtos do quotidiano - de roupas e loiça a tábuas de cortar. A sua presença na cozinha pode expor as pessoas a minúsculas partículas de plástico com alguns micrómetros de tamanho, conhecidas como microplásticos. Os cientistas incluíram agora outra fonte possível: as pastilhas elásticas que podem libertar até milhares de microplásticos na saliva segundo um estudo norte-americano.

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Tim Nwachukwu / Getty Images via AFP



"O nosso objetivo não é assustar ninguém", garante o autor principal do estudo, Sanjay Mohanty, docente na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), na conferência da American Chemical Society. Até à data, não existem estudos em seres humanos. "Mas sabemos que estamos expostos a plásticos na nossa vida quotidiana e foi isso que quisemos explorar".

Estudos em animais e em células humanas mostram que os microplásticos podem ser prejudiciais, pelo que, por agora, há que esperar por melhores respostas da comunidade científica. Enquanto isso, Mohanty defende que pouco mais há a fazer que não seja tentar reduzir a exposição das pessoas aos microplásticos.As pessoas e os microplásticos
Os cientistas estimam que os seres humanos consomem dezenas de milhares de microplásticos (com tamanhos que variam entre um micrómetro e cinco milímetros) todos os anos através dos alimentos, bebidas, embalagens de plástico, revestimentos e processos de fabrico ou transformação.

No entanto, até à data, apenas alguns pequenos estudos investigaram a pastilha elástica como uma fonte potencial de microplásticos. Mohanty e a sua aluna, Lisa Lowe, decidiram investigar. A razão é a popularidade das pastilhas elásticas e o número de pastilhas consumidas todos os anos.

A goma de mascar é feita de uma base de goma, adoçante, aromatizantes e outros ingredientes. As gomas de mascar naturais utilizam um polímero à base de plantas, como o chiclete ou outra seiva de árvores, para obter uma mastigação adequada. Outros produtos deste tipo, menos naturais, utilizam bases de goma sintéticas feitas de polímeros derivados do petróleo.

"A nossa hipótese inicial era que a pastilha elástica sintética conteria muito mais microplásticos porque a base é de plástico", disse Lowe. Os investigadores testaram cinco marcas de pastilhas elásticas sintéticas disponíveis no mercado e cinco marcas naturais.

Mohanty diz que queriam limitar o fator humano dos diferentes estilos de mastigação e da saliva, pelo que colocaram uma pessoa a mastigar sete pastilhas de cada marca.
A grande experiência da mastigação
No laboratório, a pessoa testada mastigou pastilha elástica durante quatro minutos, recolheu amostras de saliva de trinta em 30 segundos e, por fim, enxaguou a boca com água limpa. Numa outra experiência, foram recolhidas amostras de saliva periodicamente durante vinte minutos para determinar a taxa de libertação de microplásticos de cada pastilha elástica.

Os investigadores mediram então o número de microplásticos presentes em cada amostra de saliva. As partículas de plástico foram coradas de vermelho e contadas ao microscópio ou analisadas por espetroscopia de infravermelhos transformada de Fourier, que também forneceu a composição do polímero.

Lowe mediu uma média de 100 microplásticos libertados por grama de pastilha elástica, com alguns pedaços individuais de pastilha elástica a libertarem até 600 microplásticos por grama. Uma pastilha elástica típica pesa entre dois e seis gramas, o que significa que uma pastilha grande pode libertar até três mil partículas de plástico.

Se uma pessoa comum mascar entre 160 e 180 pequenas pastilhas elásticas por ano, os cientistas estimaram que poderá levar à ingestão de cerca de 30 mil microplásticos. Assim, se uma pessoa consome em média dezenas de milhares de microplásticos por ano, as pastilhas elásticas podem aumentar significativamente essa quantidade, segundo os autores.
Resultados da investigação
"Surpreendentemente, foram libertadas quantidades semelhantes de microplásticos das pastilhas elásticas sintéticas e naturais", diz Lowe. Também continham os mesmos polímeros: poliolefinas, tereftalatos de polietileno, poliacrilamidas e poliestirenos. Os polímeros mais abundantes em ambos os tipos de pastilhas elásticas eram as poliolefinas, um grupo de plásticos que inclui o polietileno e o polipropileno.

A maior parte dos microplásticos foram libertados da pastilha nos primeiros dois minutos de mastigação. Mas Mohanty diz que não foram libertados devido às enzimas da saliva que os decompõem. Pelo contrário, a mastigação é suficientemente abrasiva para fazer com que os pedaços se soltem. Após oito minutos de mastigação, 94% das partículas de plástico recolhidas durante os testes foram libertadas. Por conseguinte, Lowe sugere que, se as pessoas quiserem reduzir a exposição potencial aos microplásticos da pastilha elástica, devem mastigar uma pastilha durante mais tempo, em vez de a substituírem por outra. 

Devido aos instrumentos e técnicas utilizados, o estudo limitou-se à identificação de microplásticos de dimensão igual ou superior a vinte micrómetros. Mohanty acrescenta que é provável que as partículas de plástico mais pequenas não tenham sido detetadas na saliva e diz que é necessário realizar mais investigação para avaliar a potencial libertação de partículas de nanoplásticos das pastilhas elásticas.

"O plástico libertado na saliva é apenas uma pequena parte do plástico contido na pastilha elástica", conclui Mohanty. "Por isso, tenha cuidado com o ambiente e não se limite a deitar a sua pastilha elástica fora ou a colá-la numa parede de pastilhas elásticas", apela. Se as pastilhas elásticas usadas não forem eliminadas corretamente, são outra fonte de poluição por plástico.

Tomáš Karlík / 2 Dezembro 2025 11:10 GMT
Edição e Tradução / Joana Bénard da Costa - RTP
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