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Quase 800 detenções relacionadas com tráfico de fármacos em operação da Interpol. Portugal entre os principais países
Uma operação coordenada pela Interpol em 90 países resultou na apreensão de mais de 50 milhões de doses de produtos farmacêuticos ilícitos, avaliados em cerca de 65 milhões de dólares (cerca de 56 milhões de euros). A Operação "Pangea XVII", realizada entre dezembro de 2024 e maio de 2025, levou à detenção de 769 pessoas e ao desmantelamento de 123 grupos criminosos, os números mais elevados registados nos 17 anos em que se realiza a operação.
Nesta operação de larga escala, foram iniciadas 1.728 investigações e emitidos 847 mandados de busca no âmbito da operação. Cerca de 93% dos produtos apreendidos não tinham aprovação por parte das autoridades reguladoras nacionais. Os restantes sete por cento foram confirmados como falsificados, desviados ou rotulados de forma incorreta.
A operação decorreu em 90 países, incluindo Portugal, onde foram descobertos produtos farmacêuticos em oito estabelecimentos prisionais.
Outros produtos apreendidos incluem esteroides anabolizantes, medicamentos antidiabéticos, produtos antitabagismo, suplementos alimentares e agentes dermatológicos.
“Medicamentos falsificados e não aprovados representam um risco grave para a saúde pública”, pode ler-se no comunicado da Interpol. “Podem conter ingredientes perigosos ou ilegais e causar doenças graves ou até mesmo morte”, acrescenta.
Aumento da procura por semaglutida e suplementos peptídicos
Esta operação revelou uma tendência de crescente procura por medicamentos antidiabéticos, como a semaglutida, e suplementos peptídicos, frequentemente promovidos nas redes sociais como auxiliares na perda de peso ou no aumento de desempenho físico.
De acordo com a Interpol, estes produtos são alvo de comercialização por grupos criminosos devido à sua popularidade e valor elevado no mercado paralelo. Estima-se que uma única seringa de semaglutida possa custar centenas de dólares no mercado secundário. A Organização Mundial da Saúde e várias agências reguladoras têm alertado para os riscos associados ao uso não supervisionado destes fármacos injetáveis.
Suplementos peptídicos como BPC-157, ipamorelin e melanotan, também registaram um aumento significativo nas apreensões. Estes compostos permanecem sem aprovação na maioria das regiões, devido à falta de estudos clínicos e potenciais riscos à saúde.
Apreensões a nível global
A Austrália destacou-se com o maior volume de apreensões, incluindo mais de 5,2 milhões de unidades de produtos terapêuticos ilegais. O modafinil e o armodafinil, ambos psicoestimulantes, foram as substâncias mais comuns.
Portugal está entre os países que reportaram apreensões relevantes, com a descoberta de esteroides anabolizantes em oito prisões, revelando indícios de uma rede criminosa ativa no contrabando de substâncias ilícitas para o sistema prisional.
O Canadá, Irlanda, Malásia, Países Baixos, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos também reportaram grandes apreensões. No Burkina Faso, 816 mil comprimidos foram descobertos em veículos, e no México foram intercetadas 47 mil unidades de ansiolíticos como o clonazepam e o alprazolam.
“O rápido crescimento dos canais online facilitou o acesso a estas substâncias perigosas e criou novas oportunidades para redes criminosas”, alertou David Caunter, diretor de Crime Organizado e Emergente da Interpol.
A nível digital, cerca de 13 mil sites, páginas de redes sociais e bots utilizados para a venda de medicamentos ilegais foram desativados. A Malásia liderou a remoção de conteúdos online (7.000 anúncios), seguida da Rússia, Irlanda, Singapura e Irão.
“Trabalhando em conjunto, os países estão a tomar medidas concretas para proteger a saúde pública e garantir a integridade dos sistemas de saúde”, concluiu a Interpol.