RDCongo. Mais de 100 mil crianças deslocadas em dezembro devido à escalada do conflito

Mais de 100 mil crianças foram deslocadas desde o início de dezembro devido ao recrudescimento do conflito no leste da República Democrática do Congo (RDCongo), anunciou hoje o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Lusa /

Em comunicado, a Unicef manifestou-se "profundamente alarmada com a rápida escalada das hostilidades" na província do Kivu do Sul, que obrigou "centenas de milhares de crianças e famílias a fugir em busca de segurança, tanto dentro da RDCongo como através das fronteiras com o Burundi e o Ruanda".

"Desde 01 de dezembro, os intensos combates deslocaram mais de 500 mil pessoas, incluindo mais de 100 mil crianças só no Kivu do Sul. Com a propagação da violência, prevê-se que a deslocação aumente ainda mais", alertou a agência da ONU.

Citada pela agência EFE, a Unicef revela também que "centenas de pessoas morreram desde 02 de dezembro. Também foram relatadas graves violações contra crianças, incluindo o assassínio de quatro estudantes, seis estudantes feridos e ataques a pelo menos sete escolas com salas de aula danificadas ou destruídas".

No comunicado, refere que "muitas pessoas que fogem da violência cruzaram a fronteira para o Burundi, com relatos de mais de 50 mil recém-chegados apenas entre 06 e 11 de dezembro, quase metade deles crianças".

A Unicef prevê que os números possam aumentar, à medida que as autoridades continuam a identificar os deslocados, muitos dos quais são "crianças não acompanhadas e separadas das suas famílias".

"As crianças nunca devem pagar o preço do conflito. A Unicef está preparada para apoiar todas as crianças afetadas por esta crise cada vez maior", acrescenta.

A nota foi publicada na sequência da ofensiva do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), que tem o apoio de Ruanda (segundo a ONU e vários países ocidentais), no Kivu do Sul, uma zona rica em minerais onde tomou esta semana a estratégica cidade de Uvira.

O avanço rebelde ocorre depois de os presidentes congolês, Felix Tshisekedi, e ruandês, Paul Kagame, terem assinado no dia 04 em Washington um acordo de paz na presença do seu homólogo norte-americano, Donald Trump.

Desde então, Kinshasa e Kigali acusam-se mutuamente de violar o acordo de paz.

A assinatura do acordo de Washington soma-se aos esforços de mediação patrocinados pelo Qatar entre o Governo congolês e o M23, que no dia 15 de novembro assinaram em Doha um acordo-quadro para avançar no sentido do fim do conflito.

A crise no leste da RDCongo agravou-se no final de janeiro deste ano, quando o M23 tomou o controlo de Goma, capital da província do Kivu do Norte, e semanas depois de Bukavu, capital da vizinha Kivu do Sul.

Desde 1998, o leste da RDCongo vive um conflito alimentado por grupos rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão da ONU.

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