Rebeldes sírios capturam base militar para anular supremacia aérea de Assad

Ao fim de dois meses de cerco as forças insurrectas sírias assaltaram esta semana o maior aeroporto militar no norte do país, acabando por tomar controlo das instalações esta manhã por volta das 11H00 locais. Trata-se de uma importante conquista para os rebeldes, que terão agora condições para anular a supremacia das forças do regime no combate pelos ares. Taftanaz era uma plataforma fundamental no lançamento de bombardeamentos das forças leais a Bashar al-Assad. A tomada da base acontece num momento em que o enviado especial das Nações Unidas Lakhdar Brahimi lança na Suíça a segunda fase de contactos com Washington.

RTP /
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A meio da manhã, os rebeldes sírios faziam saber daquela que pode constituir a mais importante conquista das forças oposicionistas no terreno em quase dois anos de luta contra o regime de Bashar al Assad: “Os combates no aeroporto militar de Taftanaz terminaram às 11H00 e essa base está agora totalmente nas mãos dos insurrectos”, confirmou Rami Abdel Rahmane, o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Desde inícios de novembro que as forças oposicionistas mantinham um cerco à mais importante base militar no norte da Síria. O assalto final seria lançado na quarta-feira e após um combate sangrento, que provocou um número ainda não conhecido de baixas entre as duas partes, o controlo do complexo foi finalmente reclamado pelos rebeldes na manhã desta sexta-feira.

“Há muitos mortos entre as forças do regime. Grande parte dos soldados e dos oficiais fugiram ao amanhecer”, acrescentou Abdel Rahmane.

Trata-se de um passo fulcral para a frente rebelde anular a supremacia aérea de que vêm deitando a mão as forças leais ao Presidente Assad, já que é pelos ares que surgem as respostas mais duras do regime quer contra os insurrectos quer contra a própria população, resultando numa longa a lista massacres de civis às mãos de Damasco.

Numa derradeira tentativa de frustrar o assalto - uma operação que envolveu centenas de combatentes, de acordo com os rebeldes –, a aviação síria chegou a bombardear a base, mas entretanto já as forças da oposição tinham tomado posse de vários helicópteros.

Anteriormente, o responsável do Observatório Sírio dos Direitos Humanos estimara já o valor estratégico da tomada da base de Taftanaz. Uma análise que vai ao encontro da linha de ação escolhida pelas forças do regime: assim que perdeu a supremacia no terreno, Assad passou a investir nos raides aéreos como principal trunfo num confronto que leva quase dois anos e ceifou mais de 60 mil vidas. As forças leais ao Presidente mantêm contudo o controlo de uma outra base aérea no sul do território, o que não garante de forma imediata o fim dos bombardeamentos pelo ar.
Segunda ronda Brahimi-Washington-Moscovo
Com estes importantes desenvolvimentos no terreno, o enviado das Nações Unidas para a Síria Lakhdar Brahimi, o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Mikhail Bogdanov, e o subsecretário de Estado dos EUA, William Burns, convergem para a cidade suíça de Genebra, onde deverão dar início à segunda ronda de conversações a três sobre o conflito.

É uma nova tentativa para desbloquear uma solução internacional que enfrenta desde o início a oposição russa e chinesa. Tradicionais aliados de Damasco, os embaixadores de Moscovo e Pequim têm consistentemente vetado em Nova Iorque qualquer resolução dos Conselho de segurança da ONU visando a queda do regime de Bashar Al-Assad.

Uma rutura nesta aliança foi entrevista nas últimas semanas quando altos representantes russos, pela primeira vez, admitiram que a queda de Assad não era coisa que fizesse perder o sono para os lados do Kremlin.

O próprio Presidente russo dava a 20 de dezembro um sinal de que Moscovo pode estar já a preparar-se para um cenário sírio pós-Assad: “Há sem dúvida um apelo à mudança”, declarava Vladimir Putin, afinando o reposicionamento face ao conflito.

Sublinhando que o desenlace deverá assentar no diálogo entre o regime e a oposição - nunca numa vitória armada que lance o país numa guerra sem fim - Putin mostrava-se conformado com a ideia de perder um aliado de longa data na região do Médio Oriente para acrescentar: “Estamos preocupados com outra coisa, o que vai acontecer depois. (...) A Rússia não está assim tão preocupada com a sorte do regime al-Assad”.

Dias antes já Pequim manifestara abertura para uma alteração pacífica da situação síria e estas escassas aberturas dos aliados de Damasco poderão abrir as portas a uma negociação assente sobre um novo tabuleiro político.
Regime ataca Lakhdar Brahimi
Com o discurso de domingo de Bashar al-Assad em pano de fundo, a reunião de Genebra arranca porém ensombrada pelas declarações recentes de representantes do regime sírio, que apontaram o que dizem ser a falta de parcialidade do representante das Nações Unidas. Num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o regime acusou Lakhdar Brahimi de “parcialidade flagrante”, ao colocar-se ao lado daqueles que “conspiram” contra a Síria.

As críticas surgiram na sequência de uma entrevista de Brahimi à BBC, durante a qual o enviado especial da ONU acusou Assad de resistência face às aspirações do seu povo: “Creio que o que o povo está a dizer é que já é demais que uma família (Bashar assumiu a liderança do país após três décadas de poder do seu pai Afez al-Assad) governe durante 40 anos”. Daqui concluiu o regime que Brahimi se “desviou da sua missão central”.

O quadro da solução diplomática está ainda condicionado pelo discurso do Presidente Assad na Ópera de Damasco, no passado domingo. Quebrando um silêncio de meses, mas mantendo-se renitente em abandonar o poder, Bashar al-Assad propôs um encerramento do conflito mediante conversações com aqueles que “não traíram a Síria”. Deixando a promessa de luta “enquanto subsistir um terrorista”, o ainda líder sírio faria tábua rasa das recomendações internacionais.
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