Reconhecida responsabilidade do governo espanhol na queda de avião militar
A responsabilidade política do ex- ministro da Defesa espanhol Federico Trillo na queda de um avião do tipo Yak-42 na Turquia em 2003, em que morreram 62 militares espanhóis, foi hoje reconhecida no Parlamento, em Madrid.
Uma resolução adoptada pela comissão parlamentar da Defesa declara que a responsabilidade dos poderes públicos "nas graves negligências observadas" na organização do voo, bem como nos "graves erros" cometidos na identificação dos cadáveres, "não cabe apenas às instâncias militares, mas também e directamente às autoridades políticas, concretamente ao ministro da Defesa Federico Trillo".
A resolução foi aprovada pelos socialistas (no poder) e comunistas, com a oposição do Partido Popular (direita), ao qual pertence o ex-ministro Trillo.
Os 62 militares espanhóis regressavam a Espanha após uma missão da NATO no Afeganistão quando o avião em que seguiam, um trimotor ucraniano Yakolev-42, se despenhou em Trebizonda, no nordeste da Turquia, a 26 de Maio de 2003.
Os 12 elementos da tripulação, todos ucranianos, morreram também no acidente que foi a pior tragédia sofrida pelo exército espanhol e causou um dos maiores escândalos do fim do mandato dos conservadores em Espanha, no poder até Março de 2004.
Quando os socialistas assumiram o poder, após as legislativas de 14 de Março, consideraram que as autoridades civis e militares da época tinham ignorado as múltiplas denúncias de militares espanhóis sobre o estado avançado de degradação do aparelho ucraniano.
A pressa de repatriar e sepultar os corpos conduziu, em seguida, a graves negligências na identificação dos mesmos, tendo-se verificado 30 erros em 62 cadáveres.
As famílias das vítimas que em vão pediram, na altura, a demissão do ministro da Defesa Federico Trillo continuam até hoje a exigir que ele interrompa o mandato como deputado do Partido Popular.
Federico Trillo afirmou hoje perante a comissão parlamentar que a morte dos militares não pode ser imputada a um governo.
Trillo explicou que "não houve responsabilidade directa" do ministro da Defesa, uma vez que a organização de voos para transporte de tropas depende do comando militar, e acrescentou que o acidente se deveu a um erro humano, recusando-se a ser "um bode expiatório".
No início deste mês, a agência da NATO que geriu os contratos do avião militar ucraniano (NAMSA) reconhecera já a sua responsabilidade na cadeia de contratações do aparelho.
De acordo com fontes do ministério da Defesa espanhol, o director-geral da Agência para a Manutenção e Abastecimento da NATO, Karl Heinz Munzer, enviou uma carta ao chefe do estado-maior da Defesa espanhol, general Félix Sanz Roldan, na qual admite responsabilidades limitadas no caso.