Recusa de refugiados vale processos a Hungria, Polónia e República Checa

por Carlos Santos Neves - RTP
O comissário europeu para a Migração, Dimitris Avramopoulos, sublinha estar em causa “uma obrigação legal, não uma opção” Alkis Konstantinidis - Reuters

A Comissão Europeia decidiu instaurar processos de infração contra Budapeste, Varsóvia e Praga, alegando incumprimento do programa de recolocação de refugiados acolhidos na Grécia e em Itália, foi esta terça-feira anunciado a partir de Estrasburgo. O comissário europeu com o portefólio das migrações sublinha estar em causa “uma obrigação legal, não uma opção”.

“A aplicação das decisões do Conselho no que diz respeito à recolocação é uma obrigação legal, não uma opção”. Dimitris Avramopoulos, comissário europeu para a Migração, sintetizou nestes termos o que está na base dos processos contra as autoridades húngaras, polcas e checas.
Dados da Comissão Europeia apontam para um aumento, este ano, do ritmo de recolocação de requerentes de asilo na Europa. Desde janeiro foram distribuídas perto de 10.300 pessoas, o quíntuplo relativamente a 2016.

A abertura destes procedimentos ficará oficializada já esta quarta-feira, quando forem publicados os processos de infração contra países-membros por diferentes incumprimentos de regras comunitárias.

A decisão do Executivo comunitário segue-se a várias advertências aos governos visados contra o incumprimento do programa de recolocação acordado em setembro de 2015.

A União Europeia decidiu então redistribuir em dois anos, através de um sistema de quotas, 160 mil requerentes de asilo acolhidos por gregos italianos, a frente europeia da crise dos refugiados. Só em 2015, estes dois países receberam mais de um milhão de pessoas.

Todavia, o número de pessoas já redistribuídas ao abrigo deste plano está aquém de 21 mil.
“Esgotámos todos os meios”

Durante uma conferência de imprensa em Estrasburgo, Dimitris Avramopoulos admitiu sentir-se “constrangido” com o anúncio de processos de infração.Portugal acolheu até junho 1.374 refugiados da Grécia e Itália. O país comprometeu-se a receber 2.951 pessoas.

“Esgotámos todos os meios”, sublinhou o responsável, para acrescentar “esperar que os três governos alterem a sua posição, porque ainda há tempo”. O comissário europeu disse mesmo contar com “a razão e o espírito europeu”.

“A Europa não serve apenas para pedir financiamento e garantir a segurança”, vincou o comissário, já depois de apelar à solidariedade entre Estados-membros tendo em vista a partilha da gestão das pressões migratórias.
“Quotas disfuncionais”

Os governos de pendor nacionalista e eurocético da Polónia e da Hungria recusaram-se a receber refugiados no âmbito do plano de 2015. Por seu turno, a República Checa começou por aceitar 12 pessoas, mas depressa fechou as portas a mais acolhimentos.

Numa primeira reação ao comunicado da Comissão Europeia, o primeiro-ministro checo, Bohuslac Sobotka, reiterou que “a República Checa não concorda com o sistema de recolocação”.

“Tendo em conta a degradação da situação da segurança na Europa e a disfuncionalidade do sistema de quotas, não participaremos”, rematou.

Os países abrangidos por estes processos podem vir a ser punidos financeiramente. Mas tais desfechos podem levar meses ou anos a concretizar-se. Está, de resto, em curso uma outra batalha legal, travada por húngaros e eslovacos, contra o acordo de recolocação de refugiados. Espera-se uma decisão da justiça europeia em julho.
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