Reeleição de Bolsonaro seria a "destruição do Brasil " -- Guilherme Boulos

por Lusa

O ex-candidato presidencial brasileiro Guilherme Boulos considera que a reeleição do atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nas presidenciais marcadas para outubro de 2022 seria a "destruição" o país e da democracia.

"Uma eventual reeleição do Bolsonaro, que acredito firmemente não vai acontecer, seria a destruição do Brasil. Seria a destruição da democracia brasileira seja pelo expediente das eleições contínuas ou mesmo pela continuidade da militarização do Estado, que ele tem feito desde o primeiro dia de Governo. Se reeleito, ele teria mais força, teria uma certa legitimação social para tocar este projeto. Isto seria devastador", afirmou Boulos, em entrevista à Lusa.

"Sem contar o que [sua] política económica representa, seria um cenário de caos, de catástrofe social no Brasil, que nós já começamos a viver. Temos 19 milhões de pessoas com fome num país que alimenta a China, parte da Europa e os Estados Unidos. A reeleição do Bolsonaro seria a pior catástrofe à democracia brasileira e nós vamos lutar com todas as forças contra isto", acrescentou o político brasileiro.

Aos 39 anos, Guilherme Boulos é um exemplo de uma nova liderança jovem de esquerda. Começou sua carreira militando no Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e, em 2018, disputou as presidenciais brasileiras pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), mas obteve menos de 1% dos votos. Dois anos depois, porém, candidatou-se nas eleições municipais de São Paulo, a maior cidade do Brasil, e levou seu partido pela primeira vez a uma segunda volta numa campanha surpreendente em que acabou derrotado.

Questionado sobre a polarização no Brasil, ilustrada pelas sondagens sobre as intenções de voto nas eleições de 2022 no Brasil - que colocam em destaque o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, líder da esquerda e do Partido dos Trabalhadores (PT), e Bolsonaro, que não está filiado em nenhuma agremiação política, mas é o maior líder da extrema-direita brasileira -, Boulos disse acreditar que este fenómeno reflete as desigualdades sociais do país na política.

"Polarização de projetos e ideias é uma coisa, intolerância, ódio, querer eliminar ao adversário é outra [coisa] e isto o `bolsonarismo` trouxe para a política brasileira. A eleição de 2018 foi uma eleição tóxica, foi uma eleição marcada por sentimentos de ódio e de medo", acusou.

"Se você olhar as pesquisas [sondagens] hoje, a polarização eleitoral está entre as candidaturas de Lula [da Silva] e Bolsonaro", acrescentou.

Apesar de reconhecer o cenário polarizado, o jovem líder progressista, que tem intenção de disputar o governo regional do estado de São Paulo no próximo ano, disse esperar que os ataques pessoais e as notícias falsas não sejam elementos dominantes nas campanhas presidencial e regionais, mas sim os debates sobre projetos para o país.

A agenda política "não pode ser imposta pelo Bolsonaro, o Brasil precisa discutir em 2022 a desigualdade, a fome, o desemprego, os grandes temas que afetam a maioria do povo", defendeu.

"Neste momento, o Brasil está passando por uma das crises sociais mais graves da sua história. O país voltou para o mapa da fome. Somos um dos maiores produtores de alimentos do mundo e há 19 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave no país, com uma inflação de alimentos como não se via em 30 anos, um desemprego chegando a 15 milhões de pessoas. Certamente esta precisa ser a agenda da eleição de 2022", completou.

Questionado sobre a possibilidade de uma candidatura de terceira via, Boulos declarou que gostaria de ver o atual Presidente fora de uma eventual segunda volta, mas admitiu que os dados não apontam neste sentido.

"Nenhuma pesquisa [sondagem] que a gente tem visto, embora haja um movimento de setores da opinião pública, indica uma força popular e eleitoral desta chamada terceira via", considerou.

Boulos também salientou que não é possível descartar a possibilidade de Bolsonaro tente um movimento autoritário para permanecer no poder em caso de derrota em 2022, hipótese discutida no Brasil.

"Tratando-se de Bolsonaro nada pode ser descartado. Bolsonaro só não deu nenhum golpe até aqui, do ponto de vista de fechar instituições, e de prender opositores, porque não teve força para fazer, não porque não tem vontade. Ele tem um desejo expresso, explicito, nas suas falas e nos seus atos", ponderou.

"Não consigo enxergar o Bolsonaro fazendo qualquer transição de poder. Acho que tudo que ele puder fazer para fomentar um clima de conflito, de golpismo no Brasil ele fará. Por isto é tão importante a vigilância e a organização do campo democrático para que esta postura inconsequente de Bolsonaro não tenha eco na sociedade", concluiu.

CYR // PJA

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