Mundo
Regime australiano transforma Nauru numa “prisão a céu aberto”
Um relatório da Amnistia Internacional veio esta segunda-feira denunciar os abusos cometidos pelo Governo australiano aos refugiados da pequena ilha de Nauru. A rígida política de imigração do país e as condições semelhantes às de uma prisão em Nauru foram já consideradas tortura sob a lei internacional.
Nauru, uma pequena ilha do Pacífico por vezes chamada de “Pleasent Island” (Ilha Agradável), não faz jus a esse nome. Segundo a Amnistia Internacional, nos últimos anos a região tem sido utilizada pela Austrália como um depósito de refugiados que chegam ao país por via marítima e que são sujeitos a “um cruel sistema de abusos”.
De acordo com o relatório da Amnistia Internacional, “o Governo australiano isola estas pessoas” em Nauru “com a intenção específica de lhes causar sofrimento”.
Um acordo assinado entre Austrália e Nauru em 2012 dita que a pequena ilha deve responder aos pedidos de proteção internacional dos refugiados, sendo da responsabilidade da Austrália financiar todos os custos.
Esta negociação levantou várias críticas e levou a que a Austrália fosse acusada de “despachar” os refugiados para outro local de modo a evitar deveres e obrigações.
O relatório intitulado “Island of Despair” baseia-se na experiência de Anna Neistat, diretora da Amnistia Internacional, que se deslocou à ilha em julho para investigar as violações dos Direitos Humanos lá cometidas. Foi uma das poucas pessoas a conseguir fazê-lo, uma vez que o remoto local está envolto em secretismo.
"Negligência e crueldade"
Neistat verificou a existência de um “regime sistemático de negligência e crueldade” e afirmou que, “em Nauru, o Governo australiano gere uma prisão a céu aberto fabricada para infligir o sofrimento que for necessário de forma a evitar que algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo tentem encontrar segurança na Austrália”.
Ao chegar à ilha, as pessoas que tinham previamente alcançado a Austrália por via marítima são detidas em instalações geridas pelo Governo até serem reconhecidas como refugiados. Apenas nessa altura são colocados em alojamentos fora do “Centro de Processamento de Refugiados”, local onde muitos residem até os processos se darem por concluídos.
A Austrália é, assim, acusada de ser diretamente responsável por um vasto leque de “violações dos Direitos Humanos”, sendo a sua política de imigração “o oposto daquilo que os países deveriam tentar alcançar”. A diretora da Amnistia Internacional afirmou, ainda, que a Austrália demonstrou ser “capaz de fazer tudo para se assegurar que os refugiados não chegam à costa e que castigará quem se ousar a fazê-lo”.
Milhares de milhões de dólares foram já gastos pelo país para “manter este sistema abusivo” – 573 mil dólares por pessoa, mais precisamente -, sendo que “muito deste dinheiro foi gasto em empresas contratadas para trabalhar em Nauru” e que, aos poucos, ameaçam cessar.
"Percebi que eramos reféns"
Os principais problemas apontados no relatório são o aumento do número de suicídios dos refugiados que procuram escapar dos maus tratos – inclusive crianças -, o tratamento médico inadequado, a violação dos direitos das crianças, as agressões sexuais, os ataques por parte dos habitantes de Nauru, as detenções arbitrárias e a falta de proteção policial.Segundo a Amnistia Internacional, a maioria destas pessoas sofre de uma débil saúde mental derivada dos longos períodos de detenção a que são sujeitas.
Ali Kharsa, refugiada síria de 19 anos, revelou a Neistat que, apesar de ter fugido do seu país por questões de segurança, “Nauru foi a coisa mais difícil” que teve de enfrentar. Ficou lá retida durante três anos.
Já Hassan, refugiado afegão, confessou que o ex-ministro australiano da Imigração Scott Morrison foi a Nauru e ordenou aos exilados que dissessem aos habitantes dos seus países para não viajar até à Austrália. “Nesse momento percebi que eramos reféns”, afirmou Hassan.
O território, sob administração australiana desde a sua independência em 1968, tem cerca de 10 mil habitantes e mais de mil refugiados, sendo assim o terceiro país do mundo com a maior proporção de refugiados per capita. Desse total, 173 são crianças. A maior parte dos refugiados em Nauru vêm do Irão, Afeganistão, Iraque, Myanmar, Paquistão e Sri Lanka.
Anna Neistat afirmou ainda que o sistema australiano pode ser equiparado a tortura “de acordo com a lei internacional”. “Todos os refugiados têm o direito a ir imediatamente para a Austrália”, continuou. “Estas pessoas não podem esperar mais por uma solução humana”.
De acordo com o relatório da Amnistia Internacional, “o Governo australiano isola estas pessoas” em Nauru “com a intenção específica de lhes causar sofrimento”.
Um acordo assinado entre Austrália e Nauru em 2012 dita que a pequena ilha deve responder aos pedidos de proteção internacional dos refugiados, sendo da responsabilidade da Austrália financiar todos os custos.
Esta negociação levantou várias críticas e levou a que a Austrália fosse acusada de “despachar” os refugiados para outro local de modo a evitar deveres e obrigações.
O relatório intitulado “Island of Despair” baseia-se na experiência de Anna Neistat, diretora da Amnistia Internacional, que se deslocou à ilha em julho para investigar as violações dos Direitos Humanos lá cometidas. Foi uma das poucas pessoas a conseguir fazê-lo, uma vez que o remoto local está envolto em secretismo.
"Negligência e crueldade"
Neistat verificou a existência de um “regime sistemático de negligência e crueldade” e afirmou que, “em Nauru, o Governo australiano gere uma prisão a céu aberto fabricada para infligir o sofrimento que for necessário de forma a evitar que algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo tentem encontrar segurança na Austrália”.
Ao chegar à ilha, as pessoas que tinham previamente alcançado a Austrália por via marítima são detidas em instalações geridas pelo Governo até serem reconhecidas como refugiados. Apenas nessa altura são colocados em alojamentos fora do “Centro de Processamento de Refugiados”, local onde muitos residem até os processos se darem por concluídos.
Nauru must be shut down.
— Jarrod McKenna ن (@jarrodmckenna) 17 de outubro de 2016
No excuses.
No delays.
Now.
Now.
#4corners
A Austrália é, assim, acusada de ser diretamente responsável por um vasto leque de “violações dos Direitos Humanos”, sendo a sua política de imigração “o oposto daquilo que os países deveriam tentar alcançar”. A diretora da Amnistia Internacional afirmou, ainda, que a Austrália demonstrou ser “capaz de fazer tudo para se assegurar que os refugiados não chegam à costa e que castigará quem se ousar a fazê-lo”.
Milhares de milhões de dólares foram já gastos pelo país para “manter este sistema abusivo” – 573 mil dólares por pessoa, mais precisamente -, sendo que “muito deste dinheiro foi gasto em empresas contratadas para trabalhar em Nauru” e que, aos poucos, ameaçam cessar.
"Percebi que eramos reféns"
Os principais problemas apontados no relatório são o aumento do número de suicídios dos refugiados que procuram escapar dos maus tratos – inclusive crianças -, o tratamento médico inadequado, a violação dos direitos das crianças, as agressões sexuais, os ataques por parte dos habitantes de Nauru, as detenções arbitrárias e a falta de proteção policial.Segundo a Amnistia Internacional, a maioria destas pessoas sofre de uma débil saúde mental derivada dos longos períodos de detenção a que são sujeitas.
Ali Kharsa, refugiada síria de 19 anos, revelou a Neistat que, apesar de ter fugido do seu país por questões de segurança, “Nauru foi a coisa mais difícil” que teve de enfrentar. Ficou lá retida durante três anos.
Já Hassan, refugiado afegão, confessou que o ex-ministro australiano da Imigração Scott Morrison foi a Nauru e ordenou aos exilados que dissessem aos habitantes dos seus países para não viajar até à Austrália. “Nesse momento percebi que eramos reféns”, afirmou Hassan.
O território, sob administração australiana desde a sua independência em 1968, tem cerca de 10 mil habitantes e mais de mil refugiados, sendo assim o terceiro país do mundo com a maior proporção de refugiados per capita. Desse total, 173 são crianças. A maior parte dos refugiados em Nauru vêm do Irão, Afeganistão, Iraque, Myanmar, Paquistão e Sri Lanka.
Anna Neistat afirmou ainda que o sistema australiano pode ser equiparado a tortura “de acordo com a lei internacional”. “Todos os refugiados têm o direito a ir imediatamente para a Austrália”, continuou. “Estas pessoas não podem esperar mais por uma solução humana”.