Reino Unido pode autorizar criação de embriões híbridos de animais e humanos

Um órgão regulador britânico deverá autorizar quarta-feira a criação de embriões híbridos de animais e seres humanos destinado ao desenvolvimento de terapias para doenças neurodegenarativas actualmente incuráveis, como o Alzheimer e Parkinson.

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Após vários meses de consultas, a britânica Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana (HFEA, na sigla em inglês), organismo que regula as questões da bioética no Reino Unido, deverá dar "luz verde" a esta prática, informa hoje o jornal britânico The Guardian.

Os investigadores pretendem criar embriões híbridos inserindo células humanas em óvulos de vacas mortas, com o objectivo de conseguir extrair valiosas células embrionárias, e com elas combater doenças neurodegenerativas, assim como graves lesões da espinal-medula.

Grupos de cientistas britânicos do King`s College de Londres e da Universidade de Newcastle solicitaram, em Novembro de 2006, a autorização do organismo governamental para criar os embriões híbridos, argumentando que a utilização de óvulos de animais resolveria o problema da escassez de óvulos humanos.

No entanto, a actual legislação no Reino Unido prevê a destruição destes embriões depois de 14 semanas e proíbe que estes sejam implantados, para evitar a criação de organismos híbridos.

A decisão oficial, depois de publicada, deverá passar até ao fim do ano pelo Parlamento daquele país, segundo o The Guardian, que adianta que antes de comunicar a decisão definitiva, o HFEA estudou o caso durante três meses, com pesquisas de opinião, consultas e debates públicos.

Segundo a autoridade que regula as questões da bioética no Reino Unido, a maioria dos especialistas consultados mostraram-se "maioritariamente favoráveis a criação de embriões híbridos citoplásmicos", nos quais uma célula humana é inserida num óvulo animal previamente esvaziado.

Em Dezembro, a comunidade científica, grupos de pacientes e investigadores criticaram o Governo de Londres devido a um documento oficial que propunha ilegalizar praticamente todas as investigações que utilizassem embriões híbridos, alegando que uma proibição prejudicava os esforços para desenvolver técnicas eficazes para o tratamento de doenças neurodegenerativas.

Em Maio, as autoridades britânicas adoptaram uma posição mais aberta e mudaram a sua postura inicialmente negativa através da publicação de um projecto-lei sobre fecundação, que apenas prevê a proibição de desenvolver embriões híbridos criados através da fecundação de um óvulo animal com esperma humano.

Segundo o presidente da conceituada Royal Society, Martin Rees, citado pelo The Guardian, 61 por cento da opinião pública britânica estão a favor da criação de embriões mistos de animais e humanos "se isso ajudar a entender melhor algumas doenças específicas".

Esta temática tem levado a fortes protestos por parte de associações religiosas e outras que se opõem a este tipo de investigação, afirmando que estas práticas acabam com a distinção entre seres humanos e animais e que apenas levam a criação de embriões destinados a ser destruídos.
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