Reino Unido. Requerentes de asilo "ameaçados com o Ruanda"

por Carla Quirino - RTP
Organização Refugee Action

Um relatório da organização Refugee Action reuniu 100 entrevistas de refugiados que pedem asilo ao Reino Unido. Os testemunhos denunciam ameaças de deportação para o Ruanda, caso se queixem de más condições de acomodação e da comida, que em alguns casos é servida com bolor.

“Acomodação hostil: como o sistema de asilo é cruel por conceção” (Hostile Accommodation: How the Asylum System Is Cruel By Design) é o título do último relatório da organização Refugee Action, que, desde 1981, presta aconselhamento e apoio a refugiados e requerentes de asilo no Reino Unido.

Durante a última campanha por um sistema de asilo mais justo, a Refugee Action ouviu 100 requerentes que esperam resposta das autoridades britânicas.

Entre adultos solteiros e famílias alojados em hotéis em Londres, Manchester, West Midlands e Bradford, a organização humanitária recolheu testemunhos detalhados relacionados com problemas de acomodações de asilo e liberdade de informação solicitada aos departamentos de saúde ambiental.

O relatório, agora divulgado, revela que mais de metade dos refugiados queixam-se de superlotação, falta de privacidade e de passar mais de seis meses a morar em acomodações de asilo. Alguns adultos solteiros passaram mais de dois anos e meio nestes alojamentos.
"Segregação racial"
Na análise feita pela Rejugee Action, o sistema de acomodação de requerentes de asilo – atualmente mais de 50 mil em hotéis – é classificado com “um sistema nacional de segregação racial e detenção de facto”.

Os requerentes exilados enfrentam tempos cada vez mais prolongados de espera em espaços exíguos, com famílias de mais de seis pessoas a morarem num quarto por mais de um ano.

O documento dá conta das ameaças feitas aos refugiados, caso estes denunciem más condições dos abrigos. Os testemunhos falam em intimidação - se tirarem, por exemplo, fotografias da comida com bolor para fornecer evidências da sua qualidade, são ameaçados com o reencaminhamento para o Ruanda."Todos os que tiveram de fugir de casa merecem a oportunidade de viver novamente" - é este o lema da organização.


Concretamente, o documento revela que pelo menos três quartos (75 entrevistas) das pessoas denunciaram alimentos de baixa qualidade ou inadequados e afirmam enfrentar fome ou desnutrição. Um número semelhante defronta-se com problemas de saúde mental.

Um terço das famílias alega que os filhos não têm acesso à educação.

O relatório documenta casos individuais, como um utilizador de cadeira de rodas preso no 11.º andar de um alojamento com um elevador disfuncional. Refere também um empreiteiro que instou um clínico geral a não passar um atestado a um requerente de asilo que defendia a necessidade de transferência, pois tal poderia pressionar no sistema de alojamento do contratante.

Infestações de pragas e roedores são relatos comuns, a par de problemas com humidade, mofo e inundações. Também houve casos de tetos que desabaram: uma mãe com um bebé e uma criança precisaram mesmo de assistência hospitalar.

Este relatório é lançado no momento em que o novo projeto de lei de imigração do Governo do Reino Unido está a ser discutido no Parlamento.

A Refugee Action adverte que, se a Lei de Migração Ilegal for implementada, a situação vai piorar.



Tópicos
pub