Relatório acusa Facebook de não proteger utilizadores da desinformação sobre a Covid-19

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

A desinformação e as visões céticas sobre a Covid-19 e as vacinas espalharam-se em, pelo menos, 20 perfis, páginas e grupos do Facebook e do Instagram. A conclusão é de um relatório do NewsGuard que revela que, só no ano passado, estas contas ganharam mais de 370 mil seguidores.

A desinformação e a promoção da recusa à toma da vacina contra a Covid-19 incluem publicações em grupos do Facebook que alegam que as crianças estão a ser "assassinadas pela injeção experimental e que estão a ser pressionadas a tomá-la". Há ainda uma conta de Instagram que promove um documentário de Andrew Wakefield, uma das figuras mais conhecidas pela promoção de informação não comprovada sobre a relação entre a vacina e o autismo.

Um estudo da NewsGuard, que monitoriza a desinformação online, investigou 20 contas, páginas e grupos que continuam a promover teorias da conspiração e falsas alegações sobre a Covid-19. De acordo com uma publicação do Guardian, desde setembro do ano passado que esta entidade envia relatórios regulares à Organização Mundial da Saúde a sinalizar as páginas nas redes sociais e noutras plataformas digitais que estão a publicar e a disseminar desinformação e notícias falsas sobre a Covid-19.

No relatório, divulgado esta terça-feira, é destacado que, embora algumas das páginas em questão tivessem rótulos gerados pelo Facebook a identificá-las por conterem publicações sobre o coronavírus, não havia qualquer informação que indicasse aos utilizadores se os conteúdos eram confiáveis ou não.
Contas de "fake news" com milhares de seguidores
Segundo a investigação, os 20 sites monitorizados ganharam um total de 372.670 seguidores só no ano passado. O relatório do NewsGuard destaca páginas com publicações "céticas" sobre as vacinas - como as páginas de Facebook de Robert F. Kennedy Jr, um negacionistas proeminente, e Joseph Mercola, da área da medicina alternativa.

Embora Kennedy tenha sido eliminado do Instagram devido à suas publicações e convicções assumidas em relação à vacina, a sua página no Facebook ganhou, juntamente com a conta de Mercola no Instagram, mais de 140 mil seguidores desde fevereiro. O especialista em medicina alternativa alega, desde o início, que tem "todo o direito de informar o público" sobre a sua "pesquisa médica".

O Facebook foi pressionado a banir Kennedy, sobrinho do antigo presidente John F. Kennedy, em março, quando este partilhou um documentário, "Racismo Médico", sendo acusado de tentar promover a recusa à vacina entre os afro- americanos. Kennedy alegou, na altura, que o filme "capacita todos os norte-americanos a exigir as vacinas mais seguras", pelo que os conteúdos que publica continuam online.

Com base neste relatório, Alex Cardier, o diretor-geral do NewsGuard no Reino Unido, considerou que o Facebook e o Instagram não estão a conseguir proteger os utilizadores da desinformação da Covid-19 e da vacina, apesar de terem sido avisados "repetidamente".

"O nosso relatório mostra que, mesmo quando avisados repetidamente, o Facebook e o Instagram não protegem os seus utilizadores da desinformação sobre a Covid-19 e a vacina", afirmou à publicação. "Os relatórios do NewsGuard enviados para a Organização Mundial da Saúde são totalmente públicos e o Facebook podia fornecer aos seus utilizadores explicações transparentes sobre o porquê de tantas fontes populares nas suas plataformas não serem confiáveis".

"Em vez disso, pouco ou nada fazem. As fontes virais de desinformação continuam a florescer, apesar dos avisos do NewsGuard e do óbvio perigo que representam para os utilizadores. O Facebook deu a si mesmo um novo nome, mas a promoção da desinformação continua a mesma", continuou, referindo-se à mudança de nome da empresa para Meta.

Um porta-voz da Meta, empresa a que pertencem as redes sociais Facebook e Instagram, garantiu ao jornal que está a incentivar os utilizadores a vacinarem-se e que está a tomar medidas para combater a desinformação.

"Durante a pandemia, removemos mais de 20 milhões de informações falsas e prejudiciais e retirámos o conteúdo identificado neste relatório que viola as nossas regras. No total, banimos mais de três mil contas, páginas e grupos que quebraram, repetidamente, as nossas regras", afirmou.

Além disso, o Facebook garante estar "a categorizar todas as publicações sobre as vacinas com informações precisas" e a trabalhar "com verificadores de factos independentes para sinalizar 190 milhões de publicações como falsas".
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