Mundo
Guerra no Médio Oriente
Relatório alerta para repressão contra manifestações pró-Palestina no Ocidente
A Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) publicou um relatório, esta terça-feira, a alertar para o aumento de uma tendência de repressão de vozes dissidentes no Ocidente, em concreto vozes pró-Palestina.
O estudo foi realizado entre outubro de 2023 e setembro de 2025 e centrou-se em quatro países - França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos -, onde afirma que os governos têm "transformado em armas" a legislação antiterrorismo, bem como a luta contra o antissemitismo, para suprimir a dissidência e o apoio aos direitos palestinianos em Gaza e na Cisjordânia ocupada.
De acordo com o estudo, as autoridades têm recorrido a medidas excecionais, como proibições de manifestações, prisões arbitrárias, repressão dentro de instituições académicas, censura nos media e ameaças legislativas, sob o pretexto de manter a ordem pública, combater o antissemitismo ou proteger a segurança nacional.
“Nos países analisados, ativistas, jornalistas, académicos e autoridades eleitas têm sido alvos de ataques por expressarem pacificamente apoio aos direitos palestinianos”, diz o estudo.
“Essa tendência reflete uma mudança preocupante em direção à normalização de medidas excecionais para lidar com vozes dissidentes”, afirma Yosra Frawes, chefe do departamento de Magrebe e Médio Oriente da FIDH.
"Crise profunda"
“Em última análise, a repressão da solidariedade com os palestinianos revela uma crise profunda: não apenas de Direitos Humanos nos territórios ocupados, mas da própria liberdade, em sociedades que se dizem democráticas”, conclui o estudo.
No Reino Unido, a FIDH afirma que “o direito de protestar tem sofrido ataques constantes do governo britânico em todas as administrações e linhas partidárias", destacando políticas governamentais como a legislação anti-protesto apresentada pelo Governo conservador em 2024, posteriormente considerada ilegal.
O estudo conclui que a mudança no Reino Unido para um governo trabalhista, em julho de 2024, fez "pouco para mudar as narrativas oficiais do Governo", afirmando que o executivo de Keir Starmer continua a associar as críticas a Israel e o apoio à Palestina com "antissemitismo violento". O Governo trabalhista respondeu às preocupações com o aumento do antissemitismo com a proibição da organização britânica “Palestine Action” e com o aumento dos poderes da polícia nos protestos pró-Palestina.
Em França, o Governo também tem sido criticado por reprimir aqueles que expressam solidariedade com os palestinianos, incluindo a proibição de manifestações em certas cidades, bem como a decisão de dissolver o coletivo pró-Direitos Humanos e de solidariedade com os palestinianos “Urgence Palestine”.
Nos EUA, ações semelhantes em solidariedade com a Palestina têm sido reprimidas com detenções, ações judiciais e ameaças crescentes. e na Alemanha, onde manifestações pró-Palestina levaram milhares de pessoas às ruas, a ação policial foi criticada como excessiva e muitos contestaram a decisão de proibir certos slogans por lei, considerando-os antissemitas.
A FIDH lembra “que a luta contra o racismo e o antissemitismo é uma obrigação fundamental prevista no direito internacional, mas que não deve ser utilizada indevidamente para justificar restrições arbitrárias às liberdades”.
A organização apela, por isso, aos Estados “que garantam a proteção efetiva das liberdades civis, impeçam qualquer instrumentalização política de medidas anti-ódio e garantam a segurança dos defensores dos Direitos Humanos”.