Relatório Mueller. Resumo iliba Trump de conluio com russos, democratas querem ver todo o documento

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Duas conclusões fatídicas para os democratas: não houve conluio e Donald Trump não obstruiu a Justiça Mike Theiler - Reuters

Robert Mueller não encontrou provas que possam sustentar a tese de conluio entre a equipa de Donald Trump e elementos ligados ao Kremlin por alturas da corrida de 2016 para a Casa Branca. O Presidente foi igualmente ilibado das acusações de obstrução à Justiça. Conhecido o resumo de quatro páginas do relatório do procurador especial, libertado pelo recém-nomeado procurador-geral Bill Barr, Donald Trump usou esta bala de prata para o que pode ser um tiro fatal para os democratas, em Palm Beach, antes de entrar no avião de regresso a Washington.

“Depois de uma longa investigação, depois de tanta gente ter sido tão atingida, depois de não terem olhado para o outro lado onde aconteceram coisas tão más, acaba de ser anunciado que não houve conluio com a Rússia. A coisa mais ridícula que ouvi na vida”, declarou Donald Trump antes de entrar no avião presidencial.

Há dois anos sob suspeita do mais grave dos crimes que poderiam ser atribuídos a um presidente, o de traição, Donald Trump sempre se disse alvo de uma perseguição sem fundamento, uma espécie de “caça às bruxas”. Desde que entrou na Casa Branca, o caminho de Trump tem sido marcado pelo atrito, não só nas relações com os democratas como também com os elementos da sua própria equipa, com um entra e sai da Administração como nunca foi registado em mandatos presidenciais anteriores.

O resumo alinhavado por Bill Barr, nomeado em fevereiro para substituir Jeff Sessions, um procurador-geral que começava a criar pruridos no Presidente, veio este fim-de-semana ilibar Trump das suspeitas/ acusdações de contacto com elementos que estariam ligados a Vladimir putin aquando da corrida às Presidenciais de 2016. Esta é a declaração de Barr que sintetiza os motivos de júbilo de Trump: “A investigação não estabeleceu que os membros da campanha Trump tenham conspirado ou se tenham coordenado com o governo russo durante a campanha eleitoral”.

No Twitter, o Presidente inaugurou o com rara boa disposição, sem ataques, desejando um bom dia aos americanos, a quem lembrou da inexistência de provas de qualquer relação entre os seus afiliados e elementos ligados a Moscovo.

“Um ataque ilegal que falhou (An ilegal take-down that failed – numa referência a uma placagem no futebol americano) e espero que agora comecem a olhar para o outro lado [os democratas]”, foi desta forma que Trump resumiu o processo desencadeado em 2017, assim que tomou posse em Washington. Um processo que paralelamente levou a múltiplas demissões, substituições de procuradores e condenações mais ou menos graves dos colaboradores mais próximos, como foi o caso de Paul Manafort e Michael Cohen.

Um dos visados nas investigações, em particular o episódio em que se encontrou com uma advogada russa na Trump Tower, foi o filho mais velho do Presidente, Donald Trump Jr. O episódio seria comentado pelo ideólogo da campanha de Trump, Steve Bannon, que falou de traição e trapalhada do primogénito de trump, o que levaria ao afastamento definitivo entre Trump e Bannon, com ataques e acusações mútuas de loucura e insanidade que chegaram a animar a imprensa no início de 2018.

Donald Trump Jr. não escondeu o júbilo com que recebeu as notícias do fim-de-semana e, à semelhança do pai, deixou essa alegria transparecer numa série de tweets.



Sai Sessions, entra Barr

Uma das últimas demissões a fazer as despesas do dia da Administração foi a do procurador-geral Jeff Sessions, que depois de tanto escolher parece ter deixado Trump insatisfeito. Para o lugar de Sessions entrou Bill Barr, perfeitamente a tempo para o encerramento da investigação de Robert Mueller. Nomeado pelo Presidente em fevereiro, a primeira decisão de Barr foi precisamente a de libertar – e em que medida – o Relatório Mueller.

Quatro páginas foi a decisão. Duas conclusões fatídicas para os democratas: não houve conluio e Donald Trump não obstruiu a Justiça. Caiu pela base toda a estratégia de um eventual impeachment do Presidente, fosse esse o desejo da oposição agora que a câmara dos representantes tem uma maioria democrata.

Resta aos democratas agarrarem-se à tese de que Barr é um recém-escolhido de Trump e que por detrás dessa escolha haverá um motivo e que o resumo não diz tudo, exigindo que seja revelado aos americanos o relatório na sua totalidade.

São agora réstias de esperança, itens perdidos em páginas que ninguém conhece que mantêm viva a esperança dos democratas. Pormenores, como por exemplo a disputa com Trump de que ele não foi completamente ilibado, já que a formulação de Bill Barr refere que, apesar de Robert Mueller não ter concluído que o presidente cometeu um crime, o relatório também “não vai ao ponto de o ilibar [a Trump]”.

Neste caso, refere o britânico The Guardian, fica em aberto a questão sobre se Trump obstruiu a justiça ao demitir o director do FBI James Comey. O mesmo acerca de uma explicação que fica aquém do rigor que se pedia a este nível do encontro de Donald Trump Jr com a advogada russa no quartel-general das operações do pai, então candidato à Casa Branca.

Entre acusações de que Barr não é imparcial, o líder democrata do Senado Chuck Schumer e a speaker da câmara dos representantes Nacy Pelosi emitiram um comunicado conjunto sublinhando mais o que ficou por dizer do que o que ficou dito no resumo de Bill Barr.


A carta de Barr “levanta tantas perguntas quanto as respostas que fornece. O facto de o relatório do procurador especial Mueller não exonerar o Presidente de uma acusação tão grave como a de obstrução à justiça demonstra o quão urgente é que o relatório completo e a documentação subjacente sejam tornadas públicas sem mais demora”. Este é para já o plano de recurso dos democratas, uma forma de ganharem tempo enquanto redefinem a estratégia em torno de Donald Trump, que se perfila agora como um forte candidato a permanecer na Casa Branca até meados da próxima década.
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