Repórteres sem Fronteiras alertam para "quadro preocupante" da liberdade de imprensa na Europa
A organização Repórteres sem Fronteiras descreve a liberdade de imprensa na Europa como “um quadro preocupante”. A organização afirma que a Europa continua a ser um local seguro para os jornalistas, mas sublinha que “os riscos estão a aumentar” e que é “vital melhorar a proteção de todos os jornalistas”.
Para Pavol Szalai, diretor do escritório da UE/Balcãs dos Repórteres sem Fronteiras (RSF), a questão da liberdade de imprensa “é um quadro preocupante”. “A Europa continua a ser o lugar mais seguro do mundo para se ser jornalista, mas as pressões sobre a liberdade de imprensa – e os riscos – estão a aumentar”, explica Szalai, citado por The Guardian.
“Assassinar um jornalista é um ato desprezível e cobarde”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na rede social Twitter após a notícia da morte de Giorgos Karaïvaz. “A Europa representa a liberdade. E a liberdade de imprensa pode ser a mais sagrada de todas. Os jornalistas devem ser capazes de trabalhar em segurança”, acrescentou von der Leyen.
O presidente do Parlamento Europeu (PE), David Sassoli, também reagiu ao assassínio do jornalista grego, defendendo que “as investigações devem esclarecer urgentemente se o assassínio estava ligado ao seu trabalho".
A RSF cita um declínio no Estado de Direito, um aumento dos ataques violentos e das ameaças online como algumas das principais preocupações para a liberdade de imprensa na Europa. A organização observa em particular um “ataque sofisticado e metodológico à liberdade de imprensa” na Hungria, que está a inspirar comportamentos semelhantes na vizinha Eslovénia e na Polónia.
Na Hungria, os jornalistas têm acusado o Governo de Viktor Orbán de estar a impedir os meios de comunicação de cobrir a pandemia de Covid-19. Em carta aberta publicada no final de março, a maioria das agências de notícias independentes no país e vários jornalistas dizem ter sido impedidos de entrar em hospitais e de entrevistar profissionais de saúde. Para além disso, qualquer pessoa condenada no país por publicar “notícias falsas” pode agora ser condenada a uma pena de prisão de até cinco anos.
No relatório de 2020, a RSF afirma que esta medida dá às autoridades húngaras mais um instrumento para pressionar os media independentes. De acordo com este relatório, a Hungria está colocada no 89º lugar na classificação mundial da liberdade de imprensa.
Violência e ameaças online são uma “preocupação crescente”
Na Europa Ocidental, a RSF mostra-se mais preocupada com o aumento dos casos de violência contra jornalistas durante as manifestações – quer por parte da polícia, quer dos manifestantes – em países como a Alemanha, França, Espanha e Grécia.
Em França, vários jornalistas foram recentemente espancados ou feridos por balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo disparadas pela polícia e outros foram atacados por apoiantes de grupos de extrema-direita em Espanha e na Grécia.
“Essa também é uma tendência de preocupação crescente – violência contra jornalistas e prisões arbitrárias”, disse Pavol Szalai, citado pelo jornal britânico.
A organização Repórteres sem Fronteiras também se mostra preocupada com as ameaças online, como assédio e mensagens de ódio, considerando que são prejudiciais ao trabalho dos jornalistas. Em março, a organização interpôs uma queixa contra o Facebook por considerar que a rede social não cumpre o seu dever de evitar a disseminação de informações falsas e mensagens de ódio.
A RSF deu vários exemplos de discursos de ódio na rede social, como o da página de Facebook da revista satírica Charlie Hebdo, em que, após a publicação de uma de suas capas de setembro, foram registados dezenas de comentários insultuosos, ameaçadores ou a apelar à violência contra os seus jornalistas.
“A UE apelou a que as liberdades dos meios de comunicação sejam fortalecidas”, sublinhou o diretor do escritório da UE/Balcãs da RSF. “É vital que a Europa cumpra suas responsabilidades e melhore a proteção de todos os jornalistas”, sublinha Szalai.
Segundo o relatório do ano passado da RSF, do total de 180 países, Portugal encontra-se em décimo lugar na classificação mundial da liberdade de imprensa. Nos três primeiros lugares encontram-se a Noruega, Finlândia e Dinamarca.
c/ agências