Repórteres Sem Fronteiras denunciam censura sobre pandemia na Guiné Equatorial

por Lusa

A organização Repórteres sem Fronteiras denunciou hoje a suspensão de um programa de debate sobre a covid-19 e dos seus jornalistas na Guiné Equatorial, considerando que a censura de informação coloca a população em risco.

De acordo com a organização de defesa dos jornalistas, com sede em Paris, o programa diário "Buenos dias Guinea", emitido pela cadeia Asonga, está suspenso desde 01 de maio e os seus jornalistas foram mandados para casa após a emissão de um debate sobre a gestão da crise de saúde provocada pela covid-19.

A Asonga, única televisão privada do país, é propriedade do vice-presidente da Guiné Equatorial e filho do Presidente Teodoro Obiang, no poder há mais de 40 anos.

o vice-presidente "Teodorin" Obiang Ngema Mangue é também o presidente do Comité Político de Luta e Resposta à pandemia.

Os sete jornalistas que colaboravam com o programa foram enviados para casa até nova ordem sem que lhes tenha sido indicado qual o motivo da suspensão, adiantam os RSF.

Na última emissão, os jornalistas denunciaram a violência dos militares para fazer respeitar as medidas de confinamento decretadas como forma de travar a propagação do vírus no país.

"Na Guiné Equatorial, nem o coronavírus escapa ao híper controlo e à censura da informação", disse Arnaud Froger, responsável pelo escritório de África dos RSF, sustentando que os jornalistas estavam apenas a fazer o seu trabalho e devem ser reintegrados nos seus cargos.

Para Arnaud Froger, as consequências desta "política publica de privação de informação independente" podem ser "desastrosas".

"Limitar a liberdade de imprensa neste contexto de crise de saúde vai colocar a própria população em risco", alertou.

Os RSF contactaram os dirigentes da Asonga que recusaram fazer comentários sobre a situação.

A organização assinalou ainda que no ano passado dois jornalistas da mesma cadeia de televisão, Melanio Nkogo e Ruben Bacale, foram detidos durante 12 dias por terem entrevistado um juiz que criticou a suspensão de que tinha sido alvo.

Depois de libertados, não foram readmitidos nos seus postos de trabalho.

A Guiné Equatorial, que integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ocupa a 165ª posição entre 180 países no índice mundial sobre a liberdade de imprensa de 2020 dos RSF.

Oficialmente, a Guiné Equatorial regista 522 casos acumulados de infeções pelo novo coronavírus, seis mortes e 13 doentes dado como recuperados.

O Governo prolongou o estado de emergência até 31 de maio.

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