Restrições da China a minoria étnica propiciam adesão ao Estado Islâmico

Pequim, 21 jul (Lusa) - As "severas" restrições que Pequim impõe à minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur terá levado mais de cem membros daquele grupo a aderir à organização terrorista Estado Islâmico (EI), aponta um instituto de investigação norte-americano.

Lusa /

A China reivindica que o EI recruta membros na região autónoma de Xinjiang, onde vivem os muçulmanos uigures, e culpa forças exteriores por fomentar atentados no país, que causaram nos últimos anos centenas de mortos.

Pequim decidiu banir ou controlar várias práticas muçulmanas, incluindo manter a barba longa e jejuar durante o mês do Ramadão, afirmando que são símbolos do "extremismo islâmico".

Estas políticas "podem constituir fatores que levam as pessoas a deixar o país e procurar em outros locais o sentido de `pertença`", considera um estudo elaborado pelo instituto New America Foundation, com base em Washington.

As conclusões têm como base os dados de mais de 3.500 recrutas estrangeiros do EI, fornecidos por um desertor da organização terrorista.

Segundo o estudo, Xinjiang surge como a quinta região com mais recrutas entre os membros do EI, logo após três regiões na Arábia Saudita e uma na Tunísia.

Os recrutas são tendencialmente oriundos de "regiões com uma história difícil e uma relação tensa com o poder local", sublinha o estudo.

A região autónoma chinesa oferece um "alto potencial" para os recrutadores do EI, devido "às significativas disparidades económicas entre a etnia chinesa maioritária han e a população muçulmana local" e a "forte repressão estatal".

O estudo acrescenta que os combatentes do EI oriundos de Xinjiang são, no geral, "menos formados, têm pouca experiência a viver no estrangeiro e são casados", em contraste com outros recrutas estrangeiros.

Pequim acusa frequentemente o que considera grupos separatistas exilados, como o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, de estar por detrás dos ataques em Xinjiang.

Na semana passada, a câmara alta do Reino Unido incluiu o grupo numa lista de organizações terroristas.

Ainda assim, o estudo revela que os recrutas de Xinjiang não tinham experiência prévia em organizações terroristas.

Esta semana, o Presidente chinês, Xi Jinping, realizou uma visita pela região autónoma de Ningxia, no norte do país, onde vive outra minoria muçulmana, os Hui.

Xi visitou a mesquita de Xincheng, na cidade de Yinchuan, onde apelou à promoção da "harmonia religiosa e social", exortando à vigilância contra "infiltrações ilegais através da via religiosa". Instou ainda as autoridades a "aderir às políticas religiosas do Partido Comunista Chinês" e a "guiar as religiões para que melhor se adaptem à sociedade socialista".

"Devem ser feitos mais esforços para que as figuras religiosas e os crentes respeitem e obedeçam às leis", acrescentou, apelando aos grupos religiosos para que "interpretem bem a doutrina do Islão".

Tópicos
PUB