Resultados das presidenciais na entidade sérvia da Bósnia anulados parcialmente
A comissão eleitoral da Bósnia anulou hoje parcialmente os resultados da eleição presidencial na entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina devido a irregularidades, uma decisão que pode alterar o resultado do escrutínio.
A eleição antecipada de 23 de novembro para eleger o sucessor do presidente deposto da República Srpska (RS), Milorad Dodik, foi vencida por uma margem reduzida por Sinisa Karan, candidato apoiado por Dodik e a coligação no poder na RS, que obteve 50,39% dos votos, face ao candidato da oposição, Branko Blanusa (48,22%), de acordo com os resultados oficiais.
A diferença entre os dois candidatos é de menos de 10 mil votos, num universo de 450 mil eleitores que foram às urnas.
Desde o dia da eleição que a oposição acusa a coligação no poder de fraude.
Milorad Dodik, que continua à frente do seu partido (SNSD), rejeitou as acusações e declarou recentemente que para si "essa história estava encerrada".
A comissão eleitoral (CIK) ordenou no início de dezembro a recontagem dos boletins em centenas de secções de voto -- num universo de cerca de 2.160 -- e anunciou hoje a anulação dos resultados em 136 delas, em 17 localidades, a maioria em Doboj (norte), Zvornik (este) e Laktasi (noroeste), a circunscrição do presidente deposto.
"Várias irregularidades foram constatadas durante estas eleições antecipadas", disse um relator da CIK, Miso Krstovic.
"Analisando essas secções de voto, podemos confirmar que [as irregularidades] podem ter influenciado o resultado" da eleição, explicou Jovan Kalaba, presidente da CIK.
A decisão da CIK não é definitiva e pode ser contestada na justiça num prazo de dois dias. Se a decisão for confirmada pelo tribunal, a CIK irá convocar um novo escrutínio nas secções de voto em causa.
A eleição na RS foi convocada após a destituição judicial de Milorad Dodik, 66 anos, líder incontornável sérvio-bósnio que dirigiu a RS durante quase 20 anos.
Dodik foi destituído do cargo de presidente em agosto por ter sido condenado a seis anos de inelegibilidade para cargos públicos por incumprimento das decisões do Alto Representante do país para a Bósnia-Herzegovina, Christian Schmidt.
O líder sérvio-bósnio ameaça há anos desmembrar a Bósnia, a que chama um Estado falhado, e tornar a República Srpska independente, unindo-a à Sérvia.
Há meses que a Bósnia atravessa uma das suas crises políticas mais graves, 30 anos após o fim da guerra que se seguiu à proclamação da sua independência da Jugoslávia em 1992.
O Acordo de Paz de Dayton, alcançado em 21 de novembro de 1995 e que seria assinado em 14 de dezembro desse ano, pôs fim a quatro anos de guerra civil interétnica com um balanço de cerca de 100.000 mortos no país balcânico.
O acordo criou a Bósnia-Herzegovina como uma república federal, com uma estrutura descentralizada e dividida em duas entidades: a "Federação da Bósnia-Herzegovina" (a entidade dos muçulmanos e croatas) e a Republika Srpska (a entidade dos sérvios da Bósnia).
Foi também acordada uma administração sob a tutela de um alto representante eleito pelo Conselho Europeu, um protetorado europeu que se mantém até hoje.