Reunião histórica na Casa Branca entre Bush e PM vietnamita
O Vietname e os Estados Unidos vão finalmente "enterrar o machado da guerra" quando o primeiro-ministro vietnamita, Phan Van Khai, se avistar terça-feira na Casa Branca com o Presidente norte-americano, George W. Bush.
Khai é o primeiro dirigente comunista do Vietname a visitar os Estados Unidos e o seu encontro com Bush culmina vários anos de melhoria gradual das relações entre os dois países, 30 anos após o fim da guerra em que morreram mais de 58 mil soldados norte-americanos e cerca de um milhão de soldados e civis vietnamitas.
Fontes oficiais norte-americanas disseram que o ponto alto da visita, iniciada domingo, será a assinatura de acordos de troca de informações sobre terrorismo e "crime transnacional" e ainda um acordo de participação de militares vietnamitas no Programa Internacional de Educação Militar do Departamento de Defesa norte-americano (IMET).
Inicialmente, os oficiais vietnamitas participarão apenas em programas de aprendizagem da língua inglesa e de medicina militar, mas isso deverá ser "aprofundado" mais tarde, acrescentaram as fontes.
Nos últimos 18 meses e na sequência da visita aos Estados Unidos, em 2003, do ministro da Defesa vietnamita, Phan Van Tra, diversos navios de guerra norte-americanos têm visitado o Vietname e "muitas mais visitas" deverão ser organizadas no futuro.
"Os militares dos dois países enterraram finalmente o machado da guerra e a partir de agora a cooperação militar vai aprofundar-se", disseram fontes do Departamento de Estado, que acrescentaram não haver quaisquer planos para estabelecer uma presença permanente dos Estados Unidos no Vietname.
De grande importância para os Estados Unidos são também os acordos de cooperação entre os serviços de informações dos dois países sobre terrorismo, proliferação nuclear, contrabando e pirataria de produtos.
"Não se trata apenas de terrorismo, mas de toda uma vasta gama de questões cuja importância deve ser sublinhada", de acordo com fontes do Departamento de Estado.
Para o Vietname, o comércio e o apoio dos Estados Unidos à entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC) são os principais incentivos para a intensificação das relações.
Após a visita do antigo Presidente Bill Clinton ao Vietname, em 2000, os dois países assinaram um acordo comercial e desde então o comércio bilateral aumentou de 1.500 milhões de dólares (1,235 milhões de euros) para 6.400 milhões de dólares em 2004.
Esta situação tem sido benéfica para o Vietname, cujas exportações para os Estados Unidos aumentaram de 800 milhões de dólares em 2001 para cinco mil milhões o ano passado.
A presença de uma enorme comunidade de refugiados vietnamitas nos Estados Unidos poderá causar, no entanto, dificuldades ao Presidente Bush, que pretende intensificar as relações com o Vietname, zona do mundo de grande importância para os estrategas norte- americanos.
Grande parte das comunidades vietnamitas no país continuam a identificar-se com o antigo Vietname do Sul e é normal nessas comunidades verem-se bandeiras desse país, que já não existe, como meio de identificação.
O Governo de Hanoi tem utilizado a amizade com essas comunidades, sendo normais as visitas privadas ao Vietname de antigos altos oficiais das forças armadas do Vietname do Sul que se exilaram nos Estados Unidos.
Essa comunidade conta com grande apoio entre alguns legisladores norte-americanos.
Na semana passada, 45 congressistas enviaram uma carta ao Presidente Bush, exortando-o a informar Khai "da profunda preocupação sobre a situação de direitos humanos e da liberdade religiosa" no Vietname.
Membros da Comissão Internacional para a Liberdade Religiosa Internacional foram ao Congresso "informar" congressistas sobre "a situação da liberdade religiosa no Vietname".
"A abertura económica do Vietname não levou a uma abertura política e as liberdades de expressão, reunião, associação e religião continuam a ser restritas", disse uma porta-voz da organização, Nina Shea.
Outros grupos de direitos humanos como a Human Rights Watch, Repórteres sem Fronteira e o Comité Vietnamita para os Direitos Humanos escreveram também a Bush, expressando preocupação pela situação de direitos humanos no Vietname