Revelações sobre morte do Pasolini levam caso de novo à justiça

Recentes revelações sobre a morte violenta do escritor e cineasta Pier Paolo Pasolini, ocorrida há quase 30 anos, vão levar o caso de novo à justiça, informa hoje a imprensa italiana.

Agência LUSA /

Os novos dados - que apontam para à existência de um plano organizado para matar Pasolini e não, como até agora se julgava, para um mero acto tresloucado de um jovem homossexual - poderão levar o Tribunal de Roma a reabrir o processo.

Pasolini morreu na noite de 02 de Novembro de 1975, num descampado de Ostia, arredores de Roma, em consequência de uma violenta agressão seguida de atropelamento.

Segundo a sentença do julgamento, foi o jovem prostituto Giuseppe Pelosi que agrediu o cineasta e o atropelou com o seu próprio automóvel depois de uma discussão motivada por uma exigência sexual insatisfeita.

Pelosi, então com 17 anos, foi condenado a nove anos de prisão, embora já então existissem indícios de que o crime tinha sido cometido com a colaboração de outras pessoas.

No sábado passado, num programa da estação de televisão RAI-3 dedicado ao tema, Pelosi alterou a sua confissão e disse que apareceram inesperadamente no local do crime três homens com a única intenção de agredir o cineasta.

Os homens, que Pelosi disse não conhecer, "falavam com sotaque do sul" de Itália e enquanto agrediam o cineasta insultaram-no aos gritos de "comunista, maricas e porco".

Pelosi justificou só agora revelar a verdade por já não ter medo das ameaças feitas pelos atacantes a ele e à família, e por já nada ter a perder, na medida em que os pais já morreram e os desconhecidos "devem ter oitenta anos".

Se em 1975 Pelosi tivesse confessado a participação cúmplice de outras pessoas no assassínio, teria sido julgado num tribunal normal e não num de menores, com o risco de ser condenado a uma pena de até 30 anos de prisão.

O testemunho de Pelosi levou os amigos de Pasolini e os advogados que se ocuparam do caso a decidir avançar com uma nova iniciativa judicial.

O advogado Nino Marazzita anunciou já que vai requerer na terça-feira a reabertura do processo num tribunal de Roma.

"Penso que a magistratura tem a obrigação de proceder a uma nova investigação para lançar luz sobre um assunto que desde o princípio levantou muitas dúvidas", afirmou Marazzita.

O advogado aludia a versões que circularam nos anos 70 de que o cineasta teria sido assassinado por motivos políticos, como escreveu Oriana Fallaci.

Nascido em Bolonha em 1922, Pasolini foi para alguns um provocador, que, da perspectiva da esquerda, se empenhou em inquietar as consciências e criticar aspectos da vida italiana de que não gostava.

No "Corriere della Sera", onde escrevia regularmente, atacou o poder da época, em especial o representado pela Democracia Cristã, mas também não poupou críticas mesmo a partidos progressistas, as quais, associadas à sua condição homossexual, lhes criaram muitos inimigos.

Por outro lado, o uso que Pasolin fez do erotismo, da violência e da depravação em obras como "Decameron" ou "Saló ou os 120 dias de Sodoma", seu último filme, incompatibilizaram-no com a Igreja e com os elementos mais conservadores da sociedade italiana.

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