Rosto do movimento #MeToo pagou a vítima de abuso

por RTP
A atriz foi das primeiras mulheres a acusar Harvey Weinstein de abuso sexual Brendan McDermid - Reuters

Asia Argento, uma das atrizes que acusaram Harvey Weinstein de violação, concordou pagar 380 mil dólares a Jimmy Bennett, um ator de 22 anos, por um alegado abuso sexual quando este tinha 17 anos. O pagamento foi pedido pelo advogado do ator meses depois de a atriz ter acusado o produtor de abuso.

A atriz e produtora italiana Asia Argento foi das primeiras mulheres da indústria cinematográfica a acusar Harvey Weinstein de abuso sexual.

No seu testemunho, Argento contou que foi vítima de abusos de Weinstein em 1997, quando tinha 22 anos. A relação dos dois continuou vários anos depois, pois, segundo relatou à revista The New Yorker, tinha medo de que o produtor se zangasse: “Depois da violação, ele ganhou”.

Documentos obtidos pelo jornal The New York Times alegam que, pouco tempo depois de Asia Argento acusar Harvey Weinstein, em outubro de 2017, a atriz concordou em pagar 380 mil dólares (cerca de 332 mil euros) a Jimmy Bennett, um ator com quem contracenou em 2004.

O pagamento serviu para compensar o jovem de um alegado abuso sexual. A documentação, enviada por email encriptado para o New York Times, indica que o abuso teve lugar num hotel da Califórnia em 2013, altura em que o rapaz teria 17 anos e a atriz 37. A idade de consentimento no Estado da Califórnia é de 18 anos.

A alegação de violação e o subsequente acordo de pagamento estão explicados em documentos trocados entre os advogados de Argento e Bennet - Carrie Goldberg e Gordon K. Sattro, respetivamente.

Para além desses documentos, foi remetida ao jornal norte-americano uma selfie dos dois atores deitados numa cama, tirada no dia do suposto abuso. Três pessoas familiarizadas com o caso afirmaram que a documentação é fidedigna.
Como "mãe e filho"
Asia Argento e Jimmy Bennett contracenaram pela primeira vez no filme “The Heart Is Deceitful Above All Things”, um filme de 2004 no qual Argento participou como atriz mas também como realizadora, para além de ajudar a escrever o guião.

O filme mostra a relação de uma prostituta toxicodependente com o seu filho, papéis que eram desempenhados por Asia Argento e Jimmy Bennett. Na altura, o rapaz tinha sete anos.

A partir daí, os dois atores sempre mantiveram uma boa relação, referindo-se como “mãe” e “filho” nas redes sociais.

No entanto, a 9 de maio de 2013, esta relação sofreu uma alteração. Os dois encontraram-se no hotel Ritz-Carlton em Marina del Rey, na Califórnia, onde decorreu o presumível abuso.

Enquanto Jimmy Bennett regressava a casa, em Orange County, começou a sentir-se “extremamente confuso, mortificado e repugnado”, como testemunha nos documentos enviados ao The New York Times.

Gordon K. Sattro, advogado de Jimmy Bennett, afirmou que quando o ator soube que Asia Argento se apresentava como vítima de abuso sexual, relembrou o encontro no hotel e teve dificuldades em lidar com a situação.

Num acordo entre Argento e Bennett a atriz concordou em pagar ao ator 380 mil dólares no decurso de um ano e meio. O pagamento inicial de 200 mil dólares (cerca de 174 mil euros) foi feito em abril, segundo uma carta de Goldberg, advogada de Argento, onde se estipulavam os termos do acordo.
Desacreditar o movimento #MeToo
Depois de o caso de Asia Argento ter sido exposto, o movimento #MeToo enfrenta um sério abalo.

O advogado de Weinstein, Benjamin Brafman, já aproveitou a oportunidade para desacreditar o movimento. Em declarações à Fox News, Brafman acusou Asia Argento de um “extraordinário nível de hipocrisia”.

“O timing sugere que, pela altura em que Argento trabalhava no seu próprio acordo secreto pelo alegado abuso sexual de um menor, também se estava a posicionar na primeira fila dos que condenavam Weinstein, apesar de as relações sexuais consentidas que mantinha com ele eram entre dois adultos, que duraram mais de quatro anos”, defendeu o advogado.

No entanto, membros do movimento #MeToo apelam a que não se desacredite a causa. Tarana Burke, fundadora do #MeToo, utilizou o Twitter para afirmar que “as pessoas vão usar estas notícias recentes para desacreditar o movimento – não deixem que isso aconteça”.

Acrescenta que, noutras ocasiões, disse repetidamente que o movimento “é para todos nós, inclusive para estes jovens rapazes corajosos que se chegam à frente.”


Rose McGowan, outra figura do movimento #MeToo, também já manifestou a sua opinião no Twitter.

“Tive oportunidade de conhecer a Asia Argentino há dez meses atrás. Partilhamos a dor de ter sido abusadas por Harvey Weinstein. O meu coração está partido. Continuarei o meu trabalho a favor das vítimas."


Mais tarde acrescentou num outro tweet que “nenhum de nós sabe ao certo a veracidade da situação e tenho a certeza que serão reveladas [mais informações]. Sejam gentis”.

Em declarações à Associated Press, na segunda-feira, o advogado de Jimmy Bennett afirmou que o ator “não quer comentar os documentos ou os acontecimentos” para já. Pediu que se respeitasse a privacidade de Bennett e que este aproveitaria “as próximas 24 horas, ou mais, para preparar a sua resposta”.
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