Rubio e homólogo saudita discutem "tensões" após escalada

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, discutiu hoje com o chefe da diplomacia da Arábia Saudita as "tensões" no Iémen, após o ataque saudita contra separatistas e retirada do país das tropas dos Emirados Árabes Unidos. 

Lusa /

Num curto comunicado, o Departamento de Estado adiantou que Rubio abordou com o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, "as tensões atuais" no Iémen e as "questões que afetam a segurança e a estabilidade regional". 

Os separatistas iemenitas rejeitaram hoje os apelos da coligação liderada pela Arábia Saudita para se retirarem, poucas horas depois de ataques contra um carregamento de armas suspeito num porto sob o seu controlo. 

"Não há hipótese de nos retirarmos. É irracional pedir ao proprietário de uma terra que a abandone. A situação exige que permaneçamos e nos fortaleçamos", disse à agência de notícias France-Presse o porta-voz do Conselho de Transição do Sul (STC), movimento separatista ativo no sul do Iémen. 

"Estamos em posição defensiva e qualquer movimento em direção às nossas forças receberá uma resposta da nossa parte", ameaçou Anwar al-Tamimi. 

Al-Tamimi afirmou que a Arábia Saudita destacou cerca de 20.000 efetivos das forças de segurança ao longo da fronteira, perto das posições mantidas pelo STC. 

Nas últimas semanas, os separatistas, determinados a restabelecer o antigo Estado independente do Iémen do Sul, obtiveram importantes avanços territoriais durante uma ofensiva relâmpago. 

Especialistas apontaram que estes avanços colocaram a Arábia Saudita, principal apoiante do governo iemenita reconhecido pela comunidade internacional, numa posição embaraçosa. 

A coligação militar liderada pela Arábia Saudita anunciou ataques contra um carregamento de armas alegadamente para separatistas do sul, no porto de Al-Mukalla, capital da província de Hadramawt, recentemente tomada pelo STC. 

Riade denunciou "uma ameaça" à segurança do reino e, ao mesmo tempo, acusou os Emirados Árabes Unidos (EAU), que também integram a coligação militar, de agirem de forma "extremamente perigosa" no Iémen. 

Abu Dhabi já rejeitou as acusações sauditas e negou ter enviado armas, mas reconheceu ter enviado veículos "para serem utilizados pelas forças" dos EAU a operar no Iémen, garantindo que Riade soube do carregamento com antecedência.  

Em resposta a um ultimato da Arábia Saudita e do Governo iemenita reconhecido internacionalmente, devido a acusações de apoio aos separatistas do sul, rejeitadas por Abu Dhabi, o Governo dos Emirados anunciou a retirada das forças que mantém no Iémen. 

O anúncio foi feito pelo Ministério da Defesa dos EAU, em comunicado, divulgado pela agência de notícias estatal WAM, que indicou "a saída das restantes equipas antiterroristas no Iémen por iniciativa própria, de forma a garantir a segurança dos seus membros e em coordenação com as autoridades competentes". 

O ministério referiu-se ainda a "desenvolvimentos recentes e a potenciais repercussões na segurança e eficácia das operações antiterroristas", mas não avançou a data para a retirada. 

Embora a Arábia Saudita e os EAU, vizinhos na península arábica, tenham vindo a aumentar a rivalidade em termos económicos e de política regional, particularmente na zona do mar Vermelho, os ataques aéreos e o ultimato de hoje foi o confronto mais sério entre os dois países das últimas décadas. 

O Iémen, na extremidade sul da península arábica, ao largo da costa oriental de África, faz fronteira com o mar Vermelho e o golfo de Áden. 

A guerra no país já matou mais de 150.000 pessoas, incluindo civis, e criou um dos piores desastres humanitários do mundo. 

Com os Huthis a controlar o norte e o STC no sul, o país enfrenta uma desintegração. O Iémen apenas é unificado desde 1990, e conta com dois governos rivais: o Conselho de Liderança Principal e o Conselho Político Supremo, liderado pelos Huthis, apoiados pelo Irão. 

 

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