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Rússia acusa ONU de condicionar intervenção militar na Síria
À medida que os conflitos entre a oposição e o Governo de Bashar al-Assad se intensificam na Síria, com relatos locais a descrever os mais sangrentos confrontos do último ano e meio de revolta, Kofi Annan deslocou-se à Rússia para desbloquear o veto de Moscovo à intervenção militar no país. A Cruz Vermelha declarou que a Síria já entrou em plena guerra civil, mas a Rússia contesta a decisão e diz que as Nações Unidas estão a tentar condicionar uma nova resolução no Conselho de Segurança.
A Rússia acusa o Ocidente de recorrer a chantagem para garantir uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU que autorize o uso da força na Síria. Na semana passada o Kremlin garantiu a sua oposição a qualquer texto que seja apresentado em Nova Iorque apontando para o uso de força estrangeira naquele país.
A partir de Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, deixou estas acusações numa conferência de imprensa que precede a visita de Kofi Annan à Rússia. O enviado especial da ONU e da Liga Árabe pela paz na Síria dá esta terça-feira início a nova ronda de conversações com responsáveis do Governo moscovita.
Um dia depois da Cruz Vermelha declarar que o que se passa no território sírio é uma guerra civil, Lavrov disse que as Nações Unidas ameaçam descontinuar a missão de 90 dias que enviou 300 homens não-armados à Síria para supervisionar a cessação da violência e monitorizar a implementação do plano de paz da ONU, caso a Rússia não concorde com o uso de força militar no país. Para o ministro russo, "tais ameaças contêm elementos de chantagem”.
A equipa, cuja missão termina a 20 de julho, foi obrigada a retirar-se de algumas localidades devido à intensificação dos combates armados entre as forças da oposição e a segurança do Governo de Bashar al-Assad.
Leia o guia da BBC News sobre a Revolução do povo da Síria.
A ONU espera que a visita de Kofi Annan leve Moscovo a colocar mais pressão sobre os líderes da Síria para começar uma transição política, dadas as fortes relações diplomáticas que tem com Damasco. A Rússia e a China têm enfrentado críticas por vetarem as resoluções da ONU que sugerem intervenção externa no conflito sírio.
Conflitos violentos chegam à capital
As tropas sírias e os rebeldes entraram em confronto dentro da capital, Damasco, esta segunda-feira, no segundo dia do “pior conflito desde que começou a revolta”, há 17 meses, descrevem activistas citados pelas agências internacionais.
Acompanhe, em direto, as atualizações do jornal britâncio The Guardian sobre os conflitos no território da Síria.
Os confrontos resultaram no fecho da estrada que liga o centro da capital ao Aeroporto Internacional no sul da cidade. "Parece que há uma nova estratégia para trazer a luta para o centro da capital", disse Mustafa Osso, um activista local, à Associated Press, referindo-se ao movimento de oposição ao Governo, “Exército Livre da Síria” (Free Syrian Army).
Massacre mais sangrento de 17 meses de revolução pressiona ONU
No passado dia 12 de julho, segundo informa o Conselho de Segurança da ONU, deu-se o mais sangrento massacre nos 17 meses de conflitos na Síria.
O Conselho Nacional da síria, representante da oposição, relata que terão morrido 305 pessoas no assalto de dia 12 à vila muçulmana sunita de Tremseh, na província de Hama. No mesmo dia, o Wall Street Journal citou funcionários norte-americanos não identificados que se mostraram preocupados com o facto de o governo sírio ter movido algumas armas químicas dos seus locais de armazenamento, por razões desconhecidas.
Consulte a cronologia dos massacres na síria, no website da BBC News.
“A capital costumava ser segura. Isto vai incomodar o regime", acrescentou Osso. Por enquanto, os confrontos concentram-se em Kfar Souseh, Midan e Tadamon. Um vídeo amador publicado no canal "KafarSousahRevo" do YouTube mostra o que se passou esta madrugada em Kfar Souseh, mas a autenticidade do vídeo ainda não foi confirmada por nenhuma agência.
Relatos de residentes nos bairros centrais de Damasco, citados pelas agências internacionais, dizem que as tropas sírias usaram veículos blindados para entraram no distrito de Midan (o mais central), com o objectivo de expulsar os rebeldes. Esta intervenção das forças de Bashar al-Assad surge dias depois do Governo sírio negar a utilização de artilharia de guerra contra o povo.
As forças de segurança do Presidente Bashar al-Assad, ao longo dos largos meses de revolta popular, têm conseguido manter o controlo da capital da Síria, apesar de muitos dos subúrbios de Damasco se terem tornado bases de trabalho para os revolucionários. Nos últimos meses, o Governo terá tentado limpar as cidades circundantes de Damasco da presença rebelde.
Segundo um residente da cidade de Damasco, citado anonimamente pela Associated Press, outro indicador de que “os rebeldes estão mais descarados” é o facto de, esta segunda-feira, “os ataques terem sido conduzidos durante o dia”, quando, até agora, sempre foram realizados de noite.
O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas autoriza ações para impor sanções a países e regimes que ameacem a paz ou cometam agressões em relação ao povo, que podem, em última análise, incluir o uso de força militar. Os EUA e a UE têm posto essa hipótese nas reuniões do Conselho de Segurança da ONU, mas têm, também, tentado adiar a execução desta hipótese. Para ganhar tempo, a ONU enviou Kofi Annan ao país para implementar um plano de paz, que, meses depois, ainda não foi cumprido.
As organizações que representam os rebeldes sírios estimam que mais de 17 mil pessoas foram mortas na Síria desde o início da Revolução.
Cruz Vermelha diz que é guerra civil
O trabalho do CICV tem como base as Convenções de Genebra de 1949, seus Protocolos Adicionais, seus Estatutos – assim como os do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho – e as resoluções das Conferências Internacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
O CICV é uma organização independente e neutra que assegura a proteção humanitária e a assistência às vítimas de conflitos armados e de outras situações de violência. Toma iniciativa em resposta a emergências e, ao mesmo tempo, promove o respeito ao Direito Internacional Humanitário e sua implementação na legislação nacional de um país. in "A missão e o mandato do CICV" Este domingo, a Cruz Vermelha classificou o conflito sírio como guerra civil, o que significa que as leis humanitárias internacionais passam a aplicar-se a todo o território da Síria, o que faz adivinhar a abertura de potenciais processos por crimes de guerra associados aos massacres noticiados ao longo de quase ano e meio de revolta popular.
“Falamos agora de um conflito armado não-internacional no país”, disse o porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Hicham Hassan, citado pela agência Associated Press. Anteriormente, o CICV havia restringido a sua avaliação às zonas de Idlib, Homs e Hama, mas Hassan explicou que a organização determinou que a violência se espalhou além dessas áreas.
“As hostilidades alargaram-se a outras áreas do país” pelo que as “leis humanitárias internacionais se aplicam a todas as zonas onde existir violência”, concluiu o porta-voz da Cruz Vermelha.
A lei humanitária internacional estabelece regras de guerra, ou seja, que tipo de força pode ser usada e em que circunstâncias, o que constitui uma violação a essas regras e como devem ser sancionados os crimes de guerra.Síria recusa vistos a trabalhadores da ajuda humanitária internacional
Marrocos e Síria cortam relações diplomáticas
O Governo sírio declarou esta segunda-feira que o embaixador marroquino é "persona non grata" no país, em resposta à decisão de Rabat de expulsar os diplomatas sírios de Marrocos.
O embaixador sírio foi convidado a deixar o território marroquino pelo Governo daquele país até que a Síria faça uma transição política para a democracia que satisfaça as exigências de liberdade do seu povo.As fronteiras sírias estão neste momento fechadas a trabalhadores de ajuda humanitária de países membros das Nações Unidas, noticia a Reuters.
O Governo de Bashar al-Assad recusa-se a passar vistos aos trabalhadores humanitários ocidentais, mas as Nações Unidas estão tentar contornar o obstáculo.
"Temos muitos vistos pendentes para o pessoal internacional que parte de vários de países ocidentais - Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, França e mais um ou outro – a quem são recusados vistos por causa das suas nacionalidades", informou John Ging, funcionário da ONU, numa conferência de imprensa em Genebra. "Isso é algo a que nos opomos veemente e estamos a trabalhar com o governo sírio no sentido de superar a situação”, garantiu.
WikiLeaks denuncia apoio do Ocidente às forças de segurança sírias
A WikiLeaks enviou à Associated Press, na manhã de segunda-feira, uma troca de e-mails entre duas empresas de construção europeias e respectivos dirigentes, que provam que o Ocidente estava a construir uma rede para comunicações encriptadas ao serviço do Governo sírio, ao mesmo tempo que se dava a revolta popular em Damasco, no ano passado.
Segundo cita a Associated Press, os e-mails ligam duas empresas europeias, a Intracom SA, da Grécia e a Selex Elsag, da Itália, uma unidade da Finmeccanica SpA, passaram anos a construir uma rede de comunicações por toda a Síria e equiparam as forças de segurança do Governo com milhares de walkie-talkies, unidades de rádio montadas em motociclos, transmissores aéreos utilizados em helicópteros.
Ambas as empresas, contactadas pela Associated Press dizem ter cumprido as sanções impostas, e especialistas citados pela agência dizem que o mais provável é que tudo tenha sido legal. No entanto os documentos libertados dão um olhar extraordinariamente detalhado sobre a ajuda que empresas do Ocidente têm dado ao regime sírio, apesar das negociações diplomáticas, que ditam o contrário.
A partir de Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, deixou estas acusações numa conferência de imprensa que precede a visita de Kofi Annan à Rússia. O enviado especial da ONU e da Liga Árabe pela paz na Síria dá esta terça-feira início a nova ronda de conversações com responsáveis do Governo moscovita.
Um dia depois da Cruz Vermelha declarar que o que se passa no território sírio é uma guerra civil, Lavrov disse que as Nações Unidas ameaçam descontinuar a missão de 90 dias que enviou 300 homens não-armados à Síria para supervisionar a cessação da violência e monitorizar a implementação do plano de paz da ONU, caso a Rússia não concorde com o uso de força militar no país. Para o ministro russo, "tais ameaças contêm elementos de chantagem”.
A equipa, cuja missão termina a 20 de julho, foi obrigada a retirar-se de algumas localidades devido à intensificação dos combates armados entre as forças da oposição e a segurança do Governo de Bashar al-Assad.
Leia o guia da BBC News sobre a Revolução do povo da Síria.
A ONU espera que a visita de Kofi Annan leve Moscovo a colocar mais pressão sobre os líderes da Síria para começar uma transição política, dadas as fortes relações diplomáticas que tem com Damasco. A Rússia e a China têm enfrentado críticas por vetarem as resoluções da ONU que sugerem intervenção externa no conflito sírio.
Conflitos violentos chegam à capital
As tropas sírias e os rebeldes entraram em confronto dentro da capital, Damasco, esta segunda-feira, no segundo dia do “pior conflito desde que começou a revolta”, há 17 meses, descrevem activistas citados pelas agências internacionais.
Acompanhe, em direto, as atualizações do jornal britâncio The Guardian sobre os conflitos no território da Síria.
Os confrontos resultaram no fecho da estrada que liga o centro da capital ao Aeroporto Internacional no sul da cidade. "Parece que há uma nova estratégia para trazer a luta para o centro da capital", disse Mustafa Osso, um activista local, à Associated Press, referindo-se ao movimento de oposição ao Governo, “Exército Livre da Síria” (Free Syrian Army).
Massacre mais sangrento de 17 meses de revolução pressiona ONU
No passado dia 12 de julho, segundo informa o Conselho de Segurança da ONU, deu-se o mais sangrento massacre nos 17 meses de conflitos na Síria.
O Conselho Nacional da síria, representante da oposição, relata que terão morrido 305 pessoas no assalto de dia 12 à vila muçulmana sunita de Tremseh, na província de Hama. No mesmo dia, o Wall Street Journal citou funcionários norte-americanos não identificados que se mostraram preocupados com o facto de o governo sírio ter movido algumas armas químicas dos seus locais de armazenamento, por razões desconhecidas.
Consulte a cronologia dos massacres na síria, no website da BBC News.
“A capital costumava ser segura. Isto vai incomodar o regime", acrescentou Osso. Por enquanto, os confrontos concentram-se em Kfar Souseh, Midan e Tadamon. Um vídeo amador publicado no canal "KafarSousahRevo" do YouTube mostra o que se passou esta madrugada em Kfar Souseh, mas a autenticidade do vídeo ainda não foi confirmada por nenhuma agência.
Relatos de residentes nos bairros centrais de Damasco, citados pelas agências internacionais, dizem que as tropas sírias usaram veículos blindados para entraram no distrito de Midan (o mais central), com o objectivo de expulsar os rebeldes. Esta intervenção das forças de Bashar al-Assad surge dias depois do Governo sírio negar a utilização de artilharia de guerra contra o povo.
As forças de segurança do Presidente Bashar al-Assad, ao longo dos largos meses de revolta popular, têm conseguido manter o controlo da capital da Síria, apesar de muitos dos subúrbios de Damasco se terem tornado bases de trabalho para os revolucionários. Nos últimos meses, o Governo terá tentado limpar as cidades circundantes de Damasco da presença rebelde.
Segundo um residente da cidade de Damasco, citado anonimamente pela Associated Press, outro indicador de que “os rebeldes estão mais descarados” é o facto de, esta segunda-feira, “os ataques terem sido conduzidos durante o dia”, quando, até agora, sempre foram realizados de noite.
O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas autoriza ações para impor sanções a países e regimes que ameacem a paz ou cometam agressões em relação ao povo, que podem, em última análise, incluir o uso de força militar. Os EUA e a UE têm posto essa hipótese nas reuniões do Conselho de Segurança da ONU, mas têm, também, tentado adiar a execução desta hipótese. Para ganhar tempo, a ONU enviou Kofi Annan ao país para implementar um plano de paz, que, meses depois, ainda não foi cumprido.
As organizações que representam os rebeldes sírios estimam que mais de 17 mil pessoas foram mortas na Síria desde o início da Revolução.
Cruz Vermelha diz que é guerra civil
O trabalho do CICV tem como base as Convenções de Genebra de 1949, seus Protocolos Adicionais, seus Estatutos – assim como os do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho – e as resoluções das Conferências Internacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
O CICV é uma organização independente e neutra que assegura a proteção humanitária e a assistência às vítimas de conflitos armados e de outras situações de violência. Toma iniciativa em resposta a emergências e, ao mesmo tempo, promove o respeito ao Direito Internacional Humanitário e sua implementação na legislação nacional de um país. in "A missão e o mandato do CICV" Este domingo, a Cruz Vermelha classificou o conflito sírio como guerra civil, o que significa que as leis humanitárias internacionais passam a aplicar-se a todo o território da Síria, o que faz adivinhar a abertura de potenciais processos por crimes de guerra associados aos massacres noticiados ao longo de quase ano e meio de revolta popular.
“Falamos agora de um conflito armado não-internacional no país”, disse o porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Hicham Hassan, citado pela agência Associated Press. Anteriormente, o CICV havia restringido a sua avaliação às zonas de Idlib, Homs e Hama, mas Hassan explicou que a organização determinou que a violência se espalhou além dessas áreas.
“As hostilidades alargaram-se a outras áreas do país” pelo que as “leis humanitárias internacionais se aplicam a todas as zonas onde existir violência”, concluiu o porta-voz da Cruz Vermelha.
A lei humanitária internacional estabelece regras de guerra, ou seja, que tipo de força pode ser usada e em que circunstâncias, o que constitui uma violação a essas regras e como devem ser sancionados os crimes de guerra.Síria recusa vistos a trabalhadores da ajuda humanitária internacional
Marrocos e Síria cortam relações diplomáticas
O Governo sírio declarou esta segunda-feira que o embaixador marroquino é "persona non grata" no país, em resposta à decisão de Rabat de expulsar os diplomatas sírios de Marrocos.
O embaixador sírio foi convidado a deixar o território marroquino pelo Governo daquele país até que a Síria faça uma transição política para a democracia que satisfaça as exigências de liberdade do seu povo.As fronteiras sírias estão neste momento fechadas a trabalhadores de ajuda humanitária de países membros das Nações Unidas, noticia a Reuters.
O Governo de Bashar al-Assad recusa-se a passar vistos aos trabalhadores humanitários ocidentais, mas as Nações Unidas estão tentar contornar o obstáculo.
"Temos muitos vistos pendentes para o pessoal internacional que parte de vários de países ocidentais - Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, França e mais um ou outro – a quem são recusados vistos por causa das suas nacionalidades", informou John Ging, funcionário da ONU, numa conferência de imprensa em Genebra. "Isso é algo a que nos opomos veemente e estamos a trabalhar com o governo sírio no sentido de superar a situação”, garantiu.
WikiLeaks denuncia apoio do Ocidente às forças de segurança sírias
A WikiLeaks enviou à Associated Press, na manhã de segunda-feira, uma troca de e-mails entre duas empresas de construção europeias e respectivos dirigentes, que provam que o Ocidente estava a construir uma rede para comunicações encriptadas ao serviço do Governo sírio, ao mesmo tempo que se dava a revolta popular em Damasco, no ano passado.
Segundo cita a Associated Press, os e-mails ligam duas empresas europeias, a Intracom SA, da Grécia e a Selex Elsag, da Itália, uma unidade da Finmeccanica SpA, passaram anos a construir uma rede de comunicações por toda a Síria e equiparam as forças de segurança do Governo com milhares de walkie-talkies, unidades de rádio montadas em motociclos, transmissores aéreos utilizados em helicópteros.
Ambas as empresas, contactadas pela Associated Press dizem ter cumprido as sanções impostas, e especialistas citados pela agência dizem que o mais provável é que tudo tenha sido legal. No entanto os documentos libertados dão um olhar extraordinariamente detalhado sobre a ajuda que empresas do Ocidente têm dado ao regime sírio, apesar das negociações diplomáticas, que ditam o contrário.