Rússia afasta "milagres". Kiev e Moscovo voltam à mesa das negociações em Istambul

Istambul recebe esta quarta-feira delegações ucranianas e russas para uma nova ronda de negociações com vista a um cessar-fogo no conflito da Ucrânia. A esperança num acordo entre as partes é, no entanto, escassa, uma vez que o Kremlin já avisou que não se devem esperar "progressos milagrosos".

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Reuters

Esta terceira ronda de negociações diretas em Istambul ocorre, mais uma vez, sob pressão do presidente norte-americano, Donald Trump, que deu a Moscovo 50 dias para chegar a um acordo com Kiev, sob pena de enfrentar sanções severas.

No entanto, a perspetiva de progresso parece ainda muito limitada, dado que as posições dos dois lados parecem irreconciliáveis.

"É claro que não há razão para esperar progressos milagrosos, mas pretendemos defender os nossos interesses, garanti-los e cumprir as tarefas a que nos propusemos desde o início", disse o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, na terça-feira.


Peskov adianta, no entanto, que poderá ser acordada uma nova troca de prisioneiros e de mortos.

“O tema da regularização ucraniana é tão complexo que chegar a acordos sobre trocas ou sobre a devolução dos corpos dos mortos já é um resultado”, disse.

"Há muito trabalho a ser feito antes que possamos falar sobre a possibilidade de algumas reuniões de alto nível", acrescentou Peskov, depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter renovado o pedido para uma reunião com Putin.
As negociações anteriores, que decorreram em maio e junho, produziram poucos progressos num cessar-fogo, resultando apenas em trocas de prisioneiros e corpos de soldados mortos. O presidente ucraniano indicou na terça-feira que espera discutir novas trocas com Moscovo e o repatriamento de crianças ucranianas levadas para a Rússia.
Posições "diametralmente opostas"
Dmitri Peskov enfatizou na segunda-feira que as posições de Kiev e Moscovo continuam a ser "diametralmente opostas".

A Rússia exige que a Ucrânia ceda quatro regiões parcialmente ocupadas no leste e no sul do país, além da Crimeia, anexada em 2014, e renuncie ao fornecimento de armas ocidentais e a qualquer adesão à NATO.

Estas condições são inaceitáveis para a Ucrânia, que pretende a retirada das tropas russas do seu território e garantias de segurança ocidentais, incluindo a continuidade do fornecimento de armas e o envio de um contingente europeu, ao qual Moscovo se opõe
. Kiev, juntamente com os seus aliados europeus, insiste também na necessidade de um cessar-fogo de 30 dias, o que Moscovo recusa.

Na terça-feira, o presidente ucraniano anunciou que Rustem Umerov, ex-ministro da Defesa e atual secretário do Conselho de Segurança, vai liderar a delegação ucraniana nestas novas negociações.

Moscovo, por sua vez, não anunciou a composição da sua equipa. Nas negociações anteriores, a delegação russa foi chefiada pelo antigo ministro da Cultura e historiador nacionalista Vladimir Medinsky, que a Ucrânia criticou como sendo um funcionário de baixo nível.

Apesar das negociações iminentes, a guerra na Ucrânia continua. O Ministério russo da Defesa disse, esta quarta-feira, que os sistemas de defesa aérea do país destruíram 33 drones ucranianos durante a noite em seis regiões.

De acordo com o relatório militar do Ministério da Defesa, a maioria dos ataques aéreos concentrou-se nas regiões de Tula e Rostov, onde foram abatidas 12 e 11 aeronaves não tripuladas, respetivamente.

O ataque ocorreu depois de a Rússia ter lançado um dos maiores ataques contra a Ucrânia na noite de segunda para terça-feira. A Força Aérea da Ucrânia informou que a Rússia lançou 426 drones e 24 mísseis nessa noite. Uma criança de dez anos morreu e mais de 20 pessoas ficaram feridas nestes ataques.

c/ agências
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