A Rússia vai lançar esta sexta-feira a primeira central nuclear flutuante do mundo. Apesar dos avisos de vários ambientalistas, o Akademil Lomosonov vai zarpar da cidade de Murmansk, no noroeste da Rússia, rumo à costa de Chukotka, do outro lado do Ártico.
De acordo com a agência nuclear Rosenergoatom, a mobilidade do Akademik Lomonosov vai aumentar o fornecimento de energia nas áreas da região.
A central nuclear russa vai percorrer cinco mil quilómetros pelos mares do Ártico, desde o porto de Murmansk, no noroeste da Rússia, até à costa de Chukotka, perto do Alasca.
Fonte: AFP
“Não há impacto negativo. Há impacto positivo porque não usamos carvão ou algo semelhante", assegurou o responsável da empresa.
No entanto, o lançamento do projeto, no ano passado, foi alvo de várias críticas por parte de alguns ambientalistas. A organização não-governamental, Greenpeace, sediada em Amesterdão, relembrou o desastre nuclear que ocorreu na antiga União Soviética, em 1986.
“Uma central nuclear flutuante é uma maneira muito arriscada e cara de produzir eletricidade", afirmou Jan HaverKamp, um dos especialistas em energia nuclear da organização.
Enquanto apelidavam o navio de "Chernobyl flutuante", outros críticos apontavam as suas preocupações para um “Titanic nuclear” temendo que este também se venha a afundar ao som da orquestra, à semelhança do que aconteceu no início do século passado.
"Ter reatores nucleares a flutuar no Oceano Ártico representa, de maneira explícita, uma ameaça óbvia a um ambiente frágil que já está sob enorme pressão devido às alterações climáticas”, explicou, na altura, Jan Haverkamp.
Na opinião dos ambientalistas, a missão do Akademik Lomonosov pode ainda aumentar o risco de poluir o Ártico - uma região remota, pouco povoada e sem grandes instalações de limpeza.
“Qualquer central nuclear produz resíduos radioativos e pode sofrer um acidente”, afirmou Jan Haverkamp à AFP.
A probabilidade de este navio provocar uma colisão, durante uma tempestade, pode ser bastante elevada e "não há infraestruturas para uma limpeza nuclear [na região]", acrescentou.
A indústria nuclear russa já está a tentar desenvolver reatores mais pequenos e acessíveis – como os utilizados em submarinos, em navios quebra-gelo e em porta-aviões - para tentar solucionar o problema.
“Titanic nuclear” a viajar pelo Ártico
Para além de não poder levar a bordo mais de 69 tripulantes, apenas vai velejar a uma velocidade de 3,5 a 4,5 nós. Isto equivale a andar de carro a menos de 10 km/h – mais concretamente, entre os 6,48 e os 8,33 km/h, respetivamente.
Os 144 metros deste navio russo possuem dois reatores de propulsão naval - os KLT-40S, utilizados nos navios quebra-gelo – para gerar energia. Estes reatores de fissão nuclear conseguem produzir até 70 megawatts [unidade de potência] de eletricidade ou gerar 300 megawatts de calor, o suficiente para iluminar e aquecer uma cidade com cerca de 100 mil habitantes.
O Akademik Lomonosov foi essencialmente construído para fornecer energia elétrica às plataformas de petróleo offshore da região, à medida que a Rússia desenvolve a exploração de hidrocarbonetos no Ártico. Abastecer um complexo repleto de minas de ouro, em Chukotka, também pode estar nos planos russos.
Esta operação deve durar entre quatro a seis semanas, dependendo das condições meteorológicas encontradas ao longo do percurso. Contudo, as previsões até podem ser positivas visto que o aquecimento global acabou por tornar a Passagem do Nordeste – via marítima que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico ao longo da costa norte da Rússia - muito mais acessível devido ao degelo.
No futuro, o navio pode vir a ser ligado a uma central elétrica para ser possível dessalinizar a água do mar. Este processo químico vai permitir que seja retirado o excesso de sal e de outros minerais para, consequentemente, ser produzida água doce em abundância.