Rússia. Explosão da semana passada estará relacionada com "novas armas"

por RTP
Entrada da base militar russa localizada em Nyonoksa, na região de Arkhangelsk Reuters - Sergei Yakovlev

A agência nuclear russa, Rosatom, afirmou esta segunda-feira que a morte dos cinco especialistas na explosão da semana passada, numa base militar perto de Arkhangelsk, ocorreu devido aos testes de lançamento de "novas armas". Os especialistas norte-americanos acreditam que o acidente pode estar ligado ao novo míssil de cruzeiro, o Burevestnik.

"O trabalho sobre os novos tipos de armas será prosseguido até ao fim", afirmou a agência nuclear russa.

"Cumpriremos os deveres que a nossa Pátria nos confiou. A segurança será totalmente garantida
", garantiu o diretor-geral da Rosatom, Alexei Likhatchev.

Na semana passada, o Ministério da Defesa russo, sem divulgar o local da explosão, explicou que o incidente ocorreu “durante um teste ao líquido utilizado nos motores de caças”.

Não houve substâncias químicas nocivas libertadas para a atmosfera, os níveis de radiação estão normais”, afirmou o Ministério momentos depois de o líquido ter entrado em combustão e provocado, posteriormente, um incêndio na base militar.

No entanto, este sábado as autoridades russas já admitiram que o acidente levou ao encerramento de uma área próxima da base, a norte da Rússia, devido a um aumento da radioatividade no local.

O pico de radiação sentido na região chegou aos dois microsieverts - unidade usada para avaliar o impacto da radiação ionizante sobre os seres humanos - durante 40 minutos e depois caiu para o valor normal de 0,11 microsieverts.

Apesar da alteração de valores na cidade de Severodvinsk, localizada a 40 quilómetros da base de testes de Nyonoksa, ambos os níveis são muito pequenos para causar qualquer tipo de doença por radiação.

Contudo, foi através destes valores que os especialistas norte-americanos começaram a ligar as peças do puzzle.

“A nossa suspeita é de que algo correu mal durante um teste russo a um míssil de cruzeiro movido a energia nuclear“, referiu Jeffrey Lewis, um dos especialistas no controlo de armas dos Estados Unidos.

O aumento dos níveis de radioatividade, ainda que pareça ligeiro, pode indicar o envolvimento de combustível nuclear.

Com esta informação, os peritos norte-americanos automaticamente associaram a explosão a um dos testes realizados ao novo míssil “invencível” de Putin, o 9M730 Burevestnik.
O míssil “invencível”
Mais conhecido como “petrel” – uma espécie de pássaro marinho - e apelidado de Skyfall pela NATO, este míssil de cruzeiro, movido a energia nuclear e desenvolvido pelas Forças Armadas russas, pode ser a única arma com um alcance virtualmente ilimitado.

“Há a velocidade versus o peso do sistema e o risco de um míssil que expele radiações para onde quer que vá”, revelou Mark Galeotti, um analista russo no Royal United Services Institute.

"Estes novos sistemas têm origem nos tempos soviéticos - eles foram retirados das prateleiras e receberam novos investimentos", acrescentou.

Divulgado pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, como uma das seis novas armas estratégicas russas, este míssil, em teoria, pode ser capaz de usar a fonte de combustível nuclear para aquecer o ar e assim evitar as defesas antiaéreas e voar por períodos indefinidos.

O desenvolvimento desta arma experimental ajudaria a explicar o sigilo em torno do acidente, apesar das preocupações do público com os níveis de radiação.

Desenvolver uma tecnologia igual a esta parece não ser fácil, visto que os Estados Unidos andam em modo “tentativa-erro” desde a Guerra Fria.

Cinquenta anos depois, os norte-americanos apenas conseguiram chegar à fórmula certa para os mísseis balísticos intercontinentais de alta altitude.
A explosão mortal
Considerados especialistas “de elite” e apelidados de “heróis” por estarem cientes dos riscos que corriam, os cinco engenheiros nucleares morreram na sequência de uma explosão, na semana passada, numa base militar russa.

O responsável pelo centro nuclear de Sarov - uma instalação secreta da época da Guerra Fria que é responsável pelo arsenal de bombas de hidrogênio russas – Valentin Kostyukov afirmou que os testes tinham sido realizados em "condições extraordinariamente difíceis".

Inicialmente o Ministério da Defesa russo sustentou que a explosão da passada quinta-feira tinha ocorrido devido à explosão e posterior combustão de um liquido de combustível. Supostamente, o acidente tinha provocado duas vítimas mortais e seis feridos.

No entanto, a agência nuclear russa já revelou que o teste envolveu uma “fonte de propulsores radioativos” numa plataforma offshore, no meio do Ártico, e que matou cinco pessoas, ferindo gravemente outras três.

De acordo com as declarações da Rosatom, os engenheiros já tinham terminado os testes quando explodiu o motor. Instantes a seguir, eclodiu um incêndio na base militar.

A explosão atirou vários funcionários para o mar, o que deixou alguma esperança de os encontrar vivos”, referiu a agência.

Com este incidente, o Ministério da Defesa russo decidiu vedar a zona e proibir a passagem de civis na área de testes de Nyonoksa.

A região vai permanecer fechada até ao inicio de setembro.


Tópicos
pub