Rússia formaliza hoje anexação de quatro regiões ucranianas

por RTP
O presidente da Rússia vai realizar uma cerimónia de assinatura, anexando formalmente quatro áreas da Ucrânia Sergei Ilnitsky - EPA

A Rússia formaliza esta sexta-feira, numa cerimónia no Kremlin, em Moscovo, a anexação das quatro regiões ucranianas onde decorreram recentemente os denominados "referendos", classificados por vários países do Ocidente como "ilegais".

Durante a cerimónia, os decretos de entrada dos novos territórios na Federação Russa serão assinados e o presidente russo, Vladimir Putin, fará um discurso.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, adiantou que os líderes separatistas das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, bem como os das regiões de Kherson e Zaporizhia, estão na capital russa para a cerimónia e para reuniões com Putin.

A anexação oficial já era esperada após as consultas públicas – que terminaram na terça-feira - nas áreas total ou parcialmente controladas pela Rússia na Ucrânia.
Moscovo alega que os habitantes apoiaram esmagadoramente a anexação formal destes territórios pela Rússia.

As administrações instaladas por Moscovo nas quatro regiões do sul e leste da Ucrânia - país alvo de uma ofensiva militar russa desde fevereiro - alegam que os indicadores da votação no “sim” à anexação oscilaram entre os 87 e os 99 por cento.

O presidente russo reconheceu esta quinta-feira a independência das regiões ucranianas de Kherson e Zaporizhia, no sul da Ucrânia, um passo antes da anexação destes territórios pela Rússia. As autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, cuja independência foi reconhecida por Putin em fevereiro passado, também realizaram referendos.
"Referendos" contestados
A inciativa dos referendos foi considerada ilegal pelo secretário-geral da ONU. António Guterres apelou à Rússia que respeite a carta das Nações Unidas.

Kiev, Estados Unidos e os seus aliados ocidentais condenaram veementemente os referendos, que classificaram como uma "farsa", e afirmaram que não vão reconhecer a anexação dos territórios.

"Quero ser muito claro sobre isto: os Estados Unidos nunca, nunca, nunca reconhecerão as reivindicações da Rússia ao território soberano da Ucrânia", frisou o chefe de Estado norte-americano durante uma cimeira em Washington que reuniu líderes das ilhas do Pacífico.

"Os chamados referendos foram uma paródia, uma paródia absoluta. Os resultados foram orquestrados por Moscovo", acrescentou Joe Biden.

Em referência ao presidente russo Vladimir Putin, o chefe de Estado norte-americano considerou que "a agressão da Rússia na Ucrânia, com o objetivo de perseguir as ambições imperiais de Putin, está em flagrante violação da Carta das Nações Unidas e da integridade territorial da Ucrânia".

A Comissão Europeia propôs na quarta-feira um oitavo pacote de sanções à Rússia, face à "nova escalada" do Kremlin na sua agressão à Ucrânia, com a realização de "referendos fraudulentos", mobilização parcial e a ameaça de recurso a armas nucleares.

O novo pacote de sanções inclui um teto ao preço do petróleo russo, novas restrições ao comércio para privar a Rússia de cerca de sete mil milhões de receitas, uma proibição de exportações de mais produtos para privar o Kremlin de tecnologias-chave para a sua indústria de armamento, e uma atualização da lista de entidades individuais e coletivas alvo de medidas restritivas.
Processo prossegue na próxima semana
Vladimir Putin formalizará esta sexta-feira, durante uma cerimónia solene no Kremlin, a anexação dos quatro territórios ucranianos com a assinatura dos tratados correspondentes.

Na próxima semana, ambas as câmaras do Parlamento russo aprovarão esta adesão, após a qual Putin a promulgará, como aconteceu em 2014 com a anexação da península da Crimeia.

Na Crimeia, um referendo considerado ilegal pelo Ocidente também foi organizado há oito anos, após o qual a sua independência foi proclamada e depois o território anexado pela Rússia.

c/ Lusa
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