Rússia. Opositor de Putin proibido de participar nas eleições presidenciais

por RTP
"Mais cedo ou mais tarde, vou tornar-me presidente da Federação Russa", assegurou Boris Nadezhdin. Maxim Shemetov - Reuters

O candidato anti-guerra e opositor de Vladimir Putin na corrida às presidenciais russas viu esta quinta-feira a sua candidatura rejeitada pela Comissão Eleitoral do país. Boris Nadezhdin, que recentemente apelou a um país "pacífico" e "livre", foi acusado de irregularidades na recolha de assinaturas.

Discreto veterano da política, aquele que se propunha a enfrentar Putin nas eleições de março canalizava as esperanças dos russos que estão contra o atual regime. Era o único potencial rival, numa altura em que as restantes figuras conhecidas da oposição estão detidas ou exiladas.

Nadezhdin, natural da ex-república soviética do Uzbequistão e formado em Matemática e Física, veio já afirmar que pretende contestar em tribunal a rejeição da sua candidatura, mas as hipóteses de sucesso são quase nulas.

A Comissão Eleitoral, órgão responsável pela organização das eleições e leal ao Kremlin, votou por unanimidade para recusar o registo da candidatura do político de 60 anos. Segundo a agência France Press, esta entidade acusou-o de irregularidades na recolha das 100.000 assinaturas necessárias para se candidatar às presidenciais.As eleições russas decorrem de 15 a 17 de março e, à partida, a vitória irá para Vladimir Putin, no poder desde o final de 1999. Graças a uma reforma constitucional adotada em 2020, poderá permanecer no Kremlin até 2036, quando fará 84 anos.

"Participar nas eleições presidenciais de 2024 é a decisão política mais importante da minha vida. Não vou voltar atrás nas minhas intenções. Vou recorrer da decisão da Comissão Eleitoral no Supremo Tribunal", declarou o ex-deputado, prometendo recorrer ao Tribunal Constitucional se necessário.

"Mais cedo ou mais tarde, vou tornar-me presidente da Federação Russa", assegurou Boris Nadezhdin.

Apesar de o opositor de Putin ter dito que "conta com o sistema judicial russo para resolver a situação", é pouco provável que o Supremo ou o Constitucional decidam a seu favor.
“Não o consideramos um adversário”
Já no final de janeiro, em entrevista à AFP, Nadezhdin demonstrou ter poucas ilusões sobre as suas hipóteses de vencer Putin, mas revelou ter esperança no "princípio do fim" da era do presidente.

Esta quinta-feira, dirigiu-se à Comissão Europeia para dizer que "dezenas de milhões de pessoas" votariam em si nas eleições. "Estou em segundo lugar, atrás de Putin", afirmou Nadezhdin.

A principal bandeira da candidatura deste político tem sido o fim do "pesadelo" que considera ser a ofensiva na Ucrânia, prometendo acabar com a "militarização" da Rússia e libertar "todos os presos políticos", nomeadamente Alexei Navalny, detido no Ártico.

O Kremlin não tem escondido o seu desprezo por este aspirante a candidato, dizendo mesmo não o ver "como um adversário".

Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, insistiu esta quinta-feira que a Comissão Eleitoral tinha detetado "um grande número de erros nas assinaturas" recolhidas a favor de Nadezhdin.

"Este é um critério importante que não foi respeitado", explicou o responsável, acrescentando que "a Comissão segue claramente as regras estabelecidas para os candidatos".

c/ agências
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