Rússia-Ucrânia. Kiev pede calma à população e afasta cenário de invasão iminente

por Joana Raposo Santos - RTP
Nas últimas semanas, o Kremlin enviou para a fronteira com a Ucrânia cerca de 100 mil militares. Sergey Pivovarov - Reuters

O Executivo ucraniano pediu calma à população do país e garantiu que um ataque por parte da Rússia não está na iminência de acontecer. Kiev reconhece, porém, que a ameaça é real e vai aceitar a ajudar norte-americana, nomeadamente o carregamento de equipamentos militares enviados pelos Estados Unidos esta terça-feira.

“Não se preocupem, durmam tranquilamente. Não precisam de ter as vossas malas preparadas”, afiançou o ministro ucraniano da Defesa, Oleksii Reznikov, em declarações no Parlamento.

Segundo o responsável, “a partir de hoje não há razões para acreditar” que a Rússia esteja a preparar-se para uma invasão em breve, até porque os militares enviados por Moscovo para a fronteira não formaram, ainda, o que o ministro considera “um grupo de batalha” capaz de invadir a Ucrânia.

O apelo à tranquilidade por Reznikov faz eco de mensagens semelhantes de outros governantes ucranianos, entre os quais o presidente Volodymyr Zelenskiy, que na segunda-feira garantiu ao país que a situação “está sob controlo”.

No entanto, o ministro da Defesa reconheceu esta semana que “há cenários arriscados” nesta escalada de tensões entre Rússia e Ucrânia que estes “são possíveis e prováveis no futuro”.

Analistas políticos consideram que o Governo ucraniano está a equilibrar a tentativa de acalmar a população com a garantia de que consegue apoio suficiente do Ocidente caso, efetivamente, uma invasão russa aconteça.

“As autoridades ucranianas estão a tentar evitar a desestabilização e o pânico dentro do país, daí usarem discursos de tranquilidade e dizerem que não há uma ameaça iminente”, considerou à Associated Press o especialista Volodymyr Fesenko.

Para este analista, “os planos do Kremlin incluem enfraquecer a situação da Ucrânia e fomentar a histeria e o medo entre os ucranianos, e as autoridades de Kiev estão com dificuldades em travar esta bola de neve”.

Uma sondagem recente realizada na Ucrânia revelou, inclusivamente, que metade da população acredita na possibilidade de uma invasão por parte da Rússia.

“Claro que temos medo da agressividade da Rússia e de uma guerra que só irá aumentar ainda mais a pobreza dos ucranianos. Mas seremos obrigados a lutar e a defendermo-nos”, disse à agência norte-americana de notícias o cidadão ucraniano Dmytro Ugol. “Estou preparado para lutar, mas a minha família não o quer. A cada dia que passa, as notícias assustam-nos mais e mais”.
EUA colocam 8.500 militares em “alerta elevado”
A Rússia já negou que esteja a planear um ataque, acusando os EUA de “fomentarem as tensões” na Ucrânia. Mas a verdade é que, nas últimas semanas, o Kremlin enviou para a fronteira cerca de 100 mil militares. A NATO e os Estados Unidos estão, por isso, preparados para o possível espoletar de uma guerra em breve.

Washington decidiu esta terça-feira colocar 8.500 militares em “alerta elevado” para que, em caso de necessidade, sejam imediatamente mobilizados pela NATO para ajudarem a dar resposta a uma guerra entre Rússia e Ucrânia.

“O que está em causa é tranquilizar os nossos aliados da NATO”, vincou o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

Segundo este, ainda não foi tomada uma decisão final sobre mobilização de tropas, mas a ordem do chefe do Pentágono, Lloyd Austin, procura garantir que os Estados Unidos estão prontos para dar uma resposta, caso a NATO decida enviar a sua força de reação rápida para a região.

Esta terça-feira deve chegar a território ucraniano uma remessa de equipamentos militares no valor de 200 milhões de dólares, enviada pelos EUA para ajudar a nação a preparar-se para um eventual conflito.

As ações norte-americanas acontecem na mesma altura em que os países da NATO colocaram forças em alerta, enviando navios e aviões de combate para reforçar a defesa na Europa Oriental contra a atividade militar russa.

A Dinamarca, por exemplo, enviou um navio e aviões de guerra F-16 para a Lituânia, enquanto Espanha enviou quatro caças para a Bulgária e três navios para o Mar Negro para se juntarem às forças navais da NATO. Já a França está preparada para enviar militares para a Roménia.
UE preparada para avançar com sanções
Na segunda-feira, no final de uma reunião do Conselho Europeu em Bruxelas, o ministro português dos Negócios Estrangeiros avançou que a UE está preparada para responder com sanções à Rússia caso esta viole "a soberania e integridade territorial" da Ucrânia. Os 27 estão, porém, a procurar aliviar a tensão entre as duas nações pela via diplomática.

"O nosso objetivo é muito simples: evitar um conflito armado no leste da Europa, um conflito armado na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia", frisou Augusto Santos Silva, lembrando que a tensão entre as duas partes "está a evoluir negativamente desde 2014".

O ministro dos Negócios Estrangeiros deixou claro que, para já, a União Europeia está a tentar resolver o problema pela via diplomática. "Estamos longe de considerar que esteja esgotada a via política e diplomática. Pelo contrário, ela está em curso e deve ser prosseguida", afirmou.

Caso esta via falhe, porém, Bruxelas está preparada para avançar com sanções. "Qualquer agressão contra a Ucrânia, qualquer violação por parte da Rússia da soberania e da integridade territorial da Ucrânia terá uma consequência pesada porque motivará uma resposta" em termos políticos e económicos por parte da UE, sublinhou Augusto Santos Silva.

c/ agências
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