Rússia volta a rejeitar cessar-fogo total e propõe trégua "de dois a três dias"

As negociações entre as delegações russa e ucraniana, mediadas pela Turquia, em Istambul, terminaram após pouco mais de uma hora. Moscovo recusou a proposta de um cessar-fogo incondicional e propôs, por sua vez, à Ucrânia um cessar-fogo parcial de "dois a três dias" em certas áreas. As duas partes anunciaram também que estão a trabalhar numa nova troca de prisioneiros.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Ministério turco dos Negócios Estrangeiros - EPA

"A reunião foi concluída sem quaisquer resultados negativos", disse Öncü Keçeli, porta-voz do Ministério turco dos Negócios Estrangeiros.

Apesar de não haver "resultados negativos", Kiev e Moscovo continuam longe de chegar a um acordo para um cessar-fogo, a longo prazo ou temporário.

As duas partes conseguiram apenas concordar numa nova troca de prisioneiros.

Em declarações no final do encontro, o presidente ucraniano anunciou que Kiev e Moscovo estão a trabalhar numa nova troca de prisioneiros de guerra e entregou aos negociadores russos uma lista de crianças que Kiev quer que Moscovo devolva à Ucrânia.

"Foram trocados documentos através do lado turco e estamos a preparar-nos para uma nova libertação de prisioneiros de guerra", disse Zelensky numa conferência de imprensa à margem de uma cimeira de líderes do flanco leste da NATO, em Vilnius, na Lituânia.
O ministro ucraniano da Defesa, Rustem Umerov, que liderou a delegação ucraniana nestas negociações em Istambul, explicou que as duas partes em conflito "concordaram em trocar todos os prisioneiros de guerra gravemente feridos e em estado crítico", bem como "jovens soldados dos 18 aos 25 anos".

Em declarações aos jornalistas em Istambul, Umerov afirmou que ambas as partes concordaram também em repatriar os restos mortais de seis mil soldados mortos em combate de cada uma das partes. No final do mês passado, a Ucrânia e a Rússia concluíram uma troca de prisioneiros de dois mil prisioneiros – a maior troca desde o início do conflito. Essa troca foi acordada nas negociações anteriores em Istambul, realizadas em maio.

A Ucrânia também anunciou que entregou aos negociadores russos uma lista de crianças que Kiev quer que Moscovo devolva à Ucrânia. As autoridades ucranianas afirmam que centenas de crianças foram retiradas à força do território ucraniano pelas tropas russas e que o país quer que sejam devolvidas no âmbito de um acordo de paz. Moscovo, por sua vez, afirma que as crianças foram transferidas para as proteger dos conflitos.
Rússia propõe cessar-fogo parcial de "dois a três dias"
Durante as negociações desta segunda-feira, Moscovo recusou a proposta de um cessar-fogo incondicional e propôs, por sua vez, à Ucrânia um cessar-fogo parcial de "dois a três dias" em certas áreas.

"Fizemos uma proposta bastante geral. Um cessar-fogo concreto durante dois ou três dias em certas áreas da linha da frente", disse o negociador-chefe russo, enquanto Kiev continua a insistir numa trégua completa e incondicional.

A Ucrânia, por sua vez, propôs realizar uma nova ronda de negociações com a Rússia antes do final de junho.

“Propomos ao lado russo realizar uma reunião até o final deste mês, de 20 a 30 de junho”, disse o ministro ucraniano da Defesa, insistindo num encontro entre Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin. Kiev acredita que todas as questões-chave nas negociações com a Rússia só podem ser resolvidas a nível de liderança e propõe, por isso, um encontro entre os presidentes da Rússia e da Ucrânia.

No mês passado, Zelensky desafiou Putin para um encontro presencial em Istambul, depois de o presidente russo ter rejeitado uma exigência da Ucrânia e dos aliados europeus para assinar um cessar-fogo de 30 dias.

Putin rejeitou o pedido e não compareceu ao encontro desta segunda-feira. A delegação russa foi chefiada pelo assessor presidencial Vladimir Medinsky. Uma vez que Putin recusou comparecer, Zelensky também anunciou que não iria viajar para Istambul.

“O lado russo continua a rejeitar a noção de um cessar-fogo incondicional, o mesmo que o presidente dos Estados Unidos ofereceu há algum tempo, o mesmo cessar-fogo incondicional que nossa delegação ofereceu mais uma vez”, disse o vice-ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Sergiy Kyslytsya.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, já se mostrou disponível para receber em Ancara ou Istambul as negociações entre os líderes da Rússia e da Ucrânia.

"O meu desejo é reunir Putin e Zelenskiy em Istambul ou Ancara. Também convidar [o presidente dos EUA] Trump para esta reunião. Tomaremos medidas para esta reunião após as últimas conversações", disse Erdogan.
Rússia entregou memorando à Ucrânia
Os negociadores russos entregaram, também esta segunda-feira, um memorando a detalhar aos seus homólogos ucranianos os termos de Moscovo para um cessar-fogo total.

A Rússia já tinha anunciado que estava a trabalhar neste memorando e Kiev exigia que este lhes fosse entregue antes da reunião desta segunda-feira, o que não aconteceu.

"Não conseguimos reagir às propostas russas, pois elas só foram apresentadas durante a reunião. Mesmo assim, conseguimos estruturar a nossa conversa de forma a termos um resultado humanitário tangível", disse o vice-ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Sergiy Kyslytsya. Volodymyr Zelensky voltou a apelar a novas sanções conjuntas “ao nível do G7”, inclusive dos Estados Unidos e de “todos no mundo que querem paz”.

As sanções são necessárias para "limitar seriamente o comércio", diz Zelensky na conferência de imprensa em Vilnius, afirmando que sem elas "Putin continuará a brincar".


"A chave para uma paz duradoura é clara: o agressor não deve receber qualquer recompensa pela guerra. Putin não deve receber nada que possa justificar a sua agressão. Qualquer recompensa apenas lhe mostraria que a guerra compensa", disse Zelensky.

c/agências
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