Russos cortam eletricidade de Zaporizhia e criam risco de incidente nuclear na Europa

As ações russas causaram um apagão na central nuclear ucraniana Zaporizhia durante horas e esteve iminente um desastre de radiação na Europa. Foram as reservas elétricas dos geradores que possibilitaram travar o incidente.

Carla Quirino - RTP /
Imagem captada pelo satélite europeu Copernicus Sentinel-2

Na quinta-feira, a central ucraniana de Zaporizhia foi desligada da rede elétrica pela primeira vez na história, durante horas. A operadora da Ucrânia, Energoatom, culpa a Rússia por este procedimento brusco que poderia ter desencadeado um desastre de radiação.

"As ações dos invasores desligaram por completo a ZNPP (central nuclear de Zaporizhia) da rede elétrica – a primeira na história", escreveu a operadora em comunicado.

O apagão aumentou o risco de uma possível libertação de radiação nuclear, alerta a subsecretária de Estado norte-americana para Controlo de Armas e Segurança Internacional, Bonnie Denise Jenkins.

A Rússia "criou um sério risco de um incidente nuclear, uma perigosa libertação de radiação que pode ameaçar não apenas a população e o meio ambiente da Ucrânia, mas também afetar os países vizinhos e toda a comunidade internacional", observou Jenkins.

No discurso noturno, o presidente Zelensky afirmou que, "se os geradores a diesel não se tivessem ligado, se a automação e a nossa equipa da central não tivessem reagido após o apagão, já seríamos obrigados a superar as consequências do acidente de radiação".

Zelensky acusou Moscovo de colocar a Ucrânia e a Europa "a um passo" do desastre, culpando os danos provocados por bombardeamentos russos.


A operadora Energoatom afirmou que incêndios numa central termoelétrica próxima fizeram com que a última linha de energia restante de Zaporizhia se desligasse duas vezes. As outras três linhas foram "perdidas anteriormente durante o conflito".

Por sua vez, o governador regional russo instalado no local culpou a ação militar ucraniana pelas interrupções e acrescentou que "o trabalho estava em andamento para restaurar o fornecimento para a região e lançar a segunda unidade de energia".

Os militares da Rússia assumiram da central no início de março, mas são ainda funcionários ucranianos que operam o funcionamento do complexo nuclear.

De acordo com as autoridades locais, os níveis de radiação nas proximidades permaneceram normais, apesar de o complexo nuclear de Zaporizhia ter perdido sua principal fonte de energia na quinta-feira.

A preocupação de um possível acidente nuclear cresce com os combates russos perto de Zaporizhia, que é o maior complexo nuclear em solo europeu.

Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA- Agência Internacional de Energia Atómica, expressa uma grande preocupação aos ataques realizados perto das instalações nucleares.

Para se verificar o que está a acontecer no terreno, Grossi, em comunicado, reitera a necessidade de um grupo de trabalho internacional se deslocar ao complexo: "Quase todos os dias há um novo incidente na central nuclear de Zaporizhzhia ou perto dela. Não podemos perder mais tempo".

Zaporizhia gera cerca de 20 por cento da eletricidade da Ucrânia e um corte prolongado da rede nacional será um grande desafio para a Ucrânia, à medida que o tempo frio se aproxima.
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