SARS-CoV-2 com cerca de quatro mil variantes. Farmacêuticas procuram melhorar vacinas

por Cristina Sambado - RTP
Enrique Garcia Medina - EPA

Existem cerca de quatro mil variantes do novo coronavírus em todo o mundo, o que leva as farmacêuticas, incluindo a Pfizer e a AstraZeneca, a tentar melhorar as suas vacinas, afirmou o ministro britânico responsável pelo processo de vacinação.

Milhares de variantes do SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19, foram documentadas durante a mutação do vírus, entre as quais as chamadas variantes britânicas, sul-africanas e brasileiras, que parecem disseminar-se mais rapidamente do que outras.

Nadhim Zahawi, o ministro britânico responsável pelo processo de vacinação, considera muito improvável que as atuais vacinas não funcionem contra as novas variantes.

Todos os fabricantes Pfizer-BioNTech, Moderna, Ozford-AstraZeneca entre outros, procuram formas de melhorar as suas vacinas para garantir que estão prontos para qualquer variante- existem cerca de quero mil variantes de Covid em todo o mundo”, afirmou Nadhim Zahawi à Reuters.
Apesar de terem surgido milhares de variantes como mutação do vírus na replicação, provavelmente apenas uma minoria muito pequena será importante e alterará o vírus de forma significativa, segundo o British Medical Journal.
A chamada variante britânica, conhecida como VUI-202012/01, tem mutações que incluem uma alteração na proteína do pico que os vírus usam para se ligar ao recetor ACE2 humano – o que significa que é provavelmente mais fácil de detetar.

“Temos a maior indústria de sequenciamento do genoma – temos cerca de 50 por cento da indústria mundial de sequenciamento de genoma – e estamos a manter uma biblioteca de todas as variantes para estarmos preparados prontos para responder – seja no outono ou depois – a qualquer desafio que o vírus possa apresentar e produzir a próxima vacina”, acrescentou Nadhim Zahawi.
A corrida à vacina
O novo coronavírus – conhecido como SARS-CoV-2 – já matou 2,268 milhões de pessoas em todo o mundo desde que surgiu na China no final de 2019, segundo a Universidade de Medicina Johns Hopkins. Atualmente Israel está muito à frente do resto do mundo em vacinas per capita de população, seguido pelos Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Bahrein, Estados Unidos e, em seguida, Espanha, Itália e Alemanha.

A Grã-Bretanha lançou esta quinta-feira um teste para avaliar as respostas imunológicas geradas se as doses de vacinas da Pfizer e das AstraZeneca forem combinadas nem esquema de duas doses.

Segundo os pesquisadores britânicos os dados sobre a inoculação de pessoas com dois tipos diferentes de vacinas podem ajudar a entender se as vacinas podem ser administradas com maior flexibilidade em todo o mundo. Os primeiros dados da investigação sobre as respostas imunológicas devem ser conhecidos em junho.

O ensaio vai examinar as respostas imunológicas de uma dose inicial da vacina da Pfizer seguida de um reforço da AstraZeneca, bem como vice-versa, com intervalos de quatro a 12 semanas.


Tanto a injeção de mRNA desenvolvida pela Pfizer e BioNtech e a vacina de vetor viral de adenovírus desenvolvida pela Universidade de Oxford e AstraZeneca estão a ser lançadas no Reino Unido, com um intervalo de 12 semanas, entre duas doses da mesma vacina.
Nova mutação da variante britânica
Uma nova mutação da chamada variante britânica do SARS-CoV-2 foi detetada pelas autoridades sanitárias do Reino Unido, na passada segunda-feira, e os especialistas temem que a mesma reduza a eficácia das atuais vacinas.

Depois de analisarem 214.159 amostras da variante detetada no Reino Unido, conhecida tecnicamente como B117, os investigadores da Public Health England encontraram 11 casos da mutação E484K, que também se encontra nas variantes brasileiras (B1128) e sul-africana (B1351).

A chamada variante britânica, que apareceu em setembro e rapidamente se tornou dominante no Reino Unido, já foi detetada em 73 países. Com os Estados Unidos a alertarem para a possibilidade de esta variante ter potencial para agravar a pandemia. Os cientistas falam de variantes de vírus quando uma série de mutações características de acumulam.

A variante britânica tem 23 alterações, incluído a mutação N501Y, apelidada de Nelly por alguns cientistas e ligada a uma maior transmissão.

Vários relatórios científicos no Reino Unido alertaram, nas últimas semanas, para o facto de a variante britânica estar também associada a um risco de aumento da mortalidade. Para já os dados são inconclusivos.

A mutação E484K, renomeada de Erik, junta-se às 23 identificadas anteriormente.

“É preocupante porque a uma variante mais transmissível, e que parece estar associada a uma maior gravidade da doença, acrescentamos uma mutação que sabemos comprometer a resposta com anticorpos”, afirmou Iñaki Comas, do consórcio espanhol que monitoriza os genomas do coronavírus, ao jornal El País.

Pelos seus cálculos a variante britânica – sem Erik- representa cerca de dez por cento dos casos em território espanhol.

Já o microbiologista Ravi Gupta, da Universidade de Cambridge, criou em laboratório pseudovírus (uma partícula viral que não contém o genoma do vírus) com as mutações características da variante britânica mais o E848K. Os resultados preliminares sugerem que Erik aumenta a resistência do vírus a anticorpos no plasma sanguíneo de pessoas que receberam a vacina da Pfizer.

O biólogo Iñaki Comas recorda que as defesas humanas não consistem apenas em anticorpos. Outro componente essencial da resposta são os linfócitos T, células brancas do sangue capazes de destruir células infetados pelo coronavírus. Maior resistência aos anticorpos não implica necessariamente que o vírus escape do exército defensivo do corpo humano.

O grande receio é que a nova variante britânica com adição de Erik seja ainda mais transmissível, mais letal e mais resistente às vacinas.


A combinação das mutações Erik e Nelly já foram detetadas em duas outras variantes detetadas pela África do Sul e Brasil.

A mutação Erik é a principal suspeita pelo aumento da resistência do vírus nos anticorpos humanos.

A vacina da farmacêutica norte-americana Novavax já demonstrou eficácia de 89 por cento no Reino Unido, mas apenas de 60 por cento na África do Sul, segundo dados preliminares de um ensaio clínico com 20 mil pessoas.

Na mesma linha, também a vacina da norte-americana Johnson & Johnson teve eficácia de 72 por cento nos Estados Unidos, 66 por cento na América Latina e 57 por cento na África do Sul, com base em dados de um ensaio com 44 mil participantes.

As vacinas parecem ser menos eficazes em interromper as infeções do vírus com a mutação Erik, mas oferecem uma imunidade alta contra a Covid.

Para o biólogo colombiano Julián Villabona, da Escola de Higiene e Medicina de Tropical de Londres, “a mutação E484K é preocupante, mas não é motivo para desespero”.

A 25 de janeiro, a farmacêutica norte-americana Moderna revelou que os anticorpos gerados pela sua vacina têm capacidade seis vezes menor para neutralizar o vírus em relação à variante sul-africana, acrescenta Villabona.

O E484K pode ter um impacto na capacidade do vírus reinfectar pessoas que já tenha tido a doença, mas isso não significa que a variante vá escapar completamente do nosso sistema imunológico. Além disso, o efeito da mutação de vacinas pode ser diferente a nível individual, mas o efeito a nível da população pode continuar a ser satisfatório”, enfatizou o biólogo colombiano.

Uma equipa da Imperial College de Londres descobriu em dezembro uma variante do novo coronavírus com as mutações Erik e Nelly na cidade brasileira de Manaus. E a 12 de janeiro alertou para a possibilidade do SARS-CoV-2 estar a sofrer mutações em várias partes do mundo, com variantes mais facilmente transmissíveis e até capazes de reinfectar pessoas que já superaram a doença.

Para Villabona a solução para o problema é conhecido de toda a população mundial: vacinar o mais rapidamente possível e, até lá, usar máscaras, distanciamento físico, higienização das maõs e boa ventilação.

“A lição que as novas variantes e a mutação E484K nos ensinam é que não devemos subestimar a evolução viral, permitindo que o vírus se dissemine desenfreadamente. Um vírus que não se dissemina é um vírus que não evolui”, acrescentou o professor da Escola de Higiene e Medicina de Tropical de Londres ao El País.
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