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SARS-CoV-2. O que se sabe sobre a nova estirpe?

por Joana Raposo Santos - RTP
Vários países europeus decidiram proibir voos de e para o Reino Unido devido à nova estirpe do vírus que lá foi detetada. Phil Noble - Reuters

A nova estirpe do vírus SARS-CoV-2 que foi detetada inicialmente no Reino Unido já chegou à Austrália, mas as autoridades de saúde desse país acreditam que não é mais infeciosa do que o vírus original e não planeiam proibir voos de e para território britânico, ao contrário do que fizeram já outras nações. Mas o que sabe até agora sobre esta mutação do novo coronavírus?

Neste momento, o fator que inspira mais preocupação é o facto de a estirpe estar rapidamente a substituir outras versões do vírus - no Reino Unido há locais onde esta nova versão é agora a forma de transmissão mais comum. Análises de laboratório determinaram que algumas das mutações desta estirpe aumentam a capacidade do vírus de infetar células.

Apesar disso, não há certezas absolutas sobre uma maior transmissibilidade da estirpe entre a população. O facto de ter começado a ser transmitida de forma mais comum em Londres pode dever-se apenas ao levantamento de restrições que a capital britânica adotou recentemente, tornando a população mais relaxada e facilitando infeções. Apesar de o primeiro-ministro Boris Johnson ter anunciado que a estirpe é 70 por cento mais transmissível do que o vírus original, vários cientistas deram números mais baixos ou mais elevados do que esse à estação BBC.

Londres é precisamente um dos locais onde a estirpe, detetada pela primeira vez em setembro, mais causa preocupações. Neste momento, quase dois terços dos casos ativos de Covid-19 nessa cidade foram provocados pela nova variante.

Acredita-se que esta mutação do SARS-CoV-2 surgiu num paciente no Reino Unido com o sistema imunitário enfraquecido e que, por isso, facilitou a mutação do vírus, ou que foi importada de um país com menor capacidade de identificar e monitorizar novas estirpes.

Agora, a variante pode encontrar-se por todo o Reino Unido, exceto na Irlanda do Norte, e está altamente concentrada em Londres e no Sul de Inglaterra. Entretanto foram detetados casos na Dinamarca, Países Baixos e Austrália, aparentemente importados de território britânico.
“Já ocorreram milhares de mutações”
Vários países europeus decidiram rapidamente proibir voos de e para o Reino Unido para evitar que a nova estirpe chegasse ou aumentasse nos seus territórios. Foi o caso da Irlanda, Itália, França, Alemanha, Bélgica e Países Baixos.

A Austrália, porém, adiantou que não planeia anunciar proibições desse tipo. Irá apenas exigir aos passageiros que cheguem do Reino Unido que cumpram 14 dias de quarentena num hotel.

“Já ocorreram milhares de mutações do novo coronavírus. Não há provas definitivas de que esta seja uma mudança significativa”, explicou ao Guardian o diretor de Saúde australiano, Paul Kelly.

“Tem sido detetada mais transmissão recentemente no Sul de Inglaterra e isso pode estar associado ao vírus. O agente infecioso mudou um pouco, mas muitas pessoas têm estado a movimentar-se nessa região. Além disso é inverno”, constatou o especialista, procurando justificar o aumento da transmissão da nova estirpe com o comportamento da população.

Outro especialista auscultado pelo Guardian frisou que, apesar de a estirpe detetada no Reino Unido ter efetivamente chegado à Austrália, a mutação encontrada no Estado australiano de Nova Gales do Sul é completamente diferente da britânica.

Essa é mais uma prova de que o aparecimento de novas estirpes do SARS-CoV-2 não é novidade. Aliás, o vírus inicialmente detetado em Wuhan, na China, em dezembro, não é o mesmo que atualmente se encontra na maior parte do mundo.

A mutação conhecida por D614G foi a que emergiu em fevereiro na Europa e se tornou a forma mais dominante do vírus a nível global. Outra mutação, apelidada de A222V, espalhou-se durante o verão pela Europa e foi associada a viajantes que passaram férias em Espanha.
Vacinas deverão ser eficazes contra nova estirpe
A gravidade da mais recente mutação está ainda a ser estudada, mas não há provas de que a estirpe em questão torne a infeção mais mortífera. No entanto, se efetivamente se transmitir mais facilmente, o maior número de infeções poderá originar proporcionalmente um maior número de mortes.

Mesmo que a nova estirpe seja mais perigosa, há um fator que poderá trazer descanso à população: qualquer uma das três vacinas desenvolvidas contra a Covid-19 e que estão a começar a ser administradas deverão ser eficazes contra a nova mutação.

As vacinas treinam o sistema imunitário para que este consiga atacar diferentes partes do vírus SARS-CoV-2 e, por isso, deverão funcionar mesmo que esse vírus traga consigo mutações.

Ainda assim, conforme forem surgindo mais estirpes diferentes poderá ser necessário ir adaptando as vacinas, tal como acontece com as vacinas contra a gripe comum, que são regularmente atualizadas para se manterem eficazes.

Desde que surgiu pela primeira vez, em dezembro do ano passado, o novo coronavírus já infetou 76,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 1,6 milhões são vítimas mortais. Mais de 48 milhões de pessoas conseguiram recuperar da doença Covid-19.
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